Freddy Superlano, um dos líderes da oposição ao lado de María Corina Machado, foi preso nesta terça-feira (30). Foto: Reprodução.

Freddy Superlano foi sequestrado, diz partido; manifestações em Caracas e no interior foram reprimidas pelas forças de segurança do país

Por Redação

CARACAS -Seis pessoas morreram na segunda-feira, 29, em protestos na Venezuela após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país declarar que o ditador Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais. Os manifestantes foram reprimidos pelas forças de segurança. A oposição diz ter provas de que houve fraude eleitoral.

Além das 6 mortes registradas, 123 pessoas ficaram feridas durante as manifestações de segunda-feira, 29. De acordo com o governo venezuelano, 749 pessoas foram presas. O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, apontou que os manifestantes presos poderão responder “atos de terrorismo e instigação do ódio”.

A ditadura de Nicolás Maduro prendeu também Freddy Superlano, um dos líderes da oposição da Venezuela, segundo informações fornecidas por seu partido, o Voluntad Popular (VP), na plataforma X. A legenda faz parte da coalizão oposicionista Plataforma Unitária, de María Corina Machado.

“Devemos denunciar responsavelmente ao país que há poucos minutos o nosso coordenador político nacional, Freddy Superlano, foi sequestrado”, afirmou o partido.

A prisão ocorre em um momento delicado na Venezuela, com manifestações que se espalharam por todo o país na segunda-feira, 29, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarar no domingo, 28, que Nicolás Maduro venceu as eleições com 51% dos votos. O resultado foi contestado pela líder da oposição María Corina Machado.

Machadodenuncia uma fraude no pleito presidencial e disse ter “como provar a verdade” de que a eleição foi vencida por Edmundo González Uruttia. A política explicou que, após ter acesso a cópias de 73% das atas da apuração, a projeção é de uma vitória da oposição com 6,27 milhões de votos, contra 2,75 milhões para Maduro.

“Manipulação fraudulenta”, diz OEA sobre pleito na Venezuela

Regime ainda não divulgou resultados detalhados após órgão eleitoral controlado pelo chavismo declarar “vitória” de Maduro. Protestos eclodem por todo o país e forças chavistas começam à perseguição de opositores.

O Departamento de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou nesta terça-feira (30/07) que não tem como reconhecer o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, que na véspera declarou Nicolás Maduro como “vencedor “na eleição presidencial. Segundo a OEA, o regime chavista aplicou todo o “manual de manipulação fraudulenta” para distorcer o resultado real.

Na madrugada de segunda-feira, o presidente da CNE, Elvis Amoroso, um aliado de Maduro, anunciou que o autocrata havia vencido o pleito com 51,2% dos votos, e que o resultado era irreversível. Amoroso se limitou a ler uma folha de papel diante das câmeras. O site da CNE segue fora do ar, e o regime ainda não divulgou nenhum resultado detalhado ou disponibilizou todas as atas da eleição. Não se sabe nem mesmo se a contagem total foi de fato completado.

A oposição, que montou uma enorme operação para fotografar o máximo de boletins de urna e outras possíveis durante o pleito, afirma que tem como provar que seu candidato, Edmundo González, teve mais que o dobro de votos que Maduro.

Manifestantes protestam contra a reeleição do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em Caracas.

“Mais de seis horas após o encerramento da votação, a CNE fez um anúncio […] declarando vencedor o candidato oficial, sem fornecer detalhes das tabelas processadas, sem publicar a ata e fornecidos apenas as porcentagens agregadas de votos que as principais forças políticas devem ser recebidas”, afirmou o órgão da OEA.

“Durante todo esse processo eleitoral, o regime venezuelano aplicou seu esquema repressivo, complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, tornando-o vulnerável para a manipulação mais aberrante”, prossegue a OEA. “O manual completo de manipulação fraudulenta do resultado eleitoral foi aplicado na Venezuela na noite de domingo, em muitos casos de forma muito rudimentar.”

“As evidências mostram um esforço do regime para ignorar a vontade da maioria expressa nas urnas por milhões de homens e mulheres venezuelanos. O que aconteceu mostra, mais uma vez, que a CNE, as suas autoridades e o sistema eleitoral venezuelano estão a serviço do Poder Executivo e não dos cidadãos”, completou o Departamento de Observação Eleitoral da OEA.

Oposição diz que tem como provar fraude

A líder oposicionista María Corina Machado garantiu na segunda-feira que a oposição tem meios para provar a “vitória esmagadora” de Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais.

“Temos 73,2% das atas e, com este resultado, o nosso presidente eleito é Edmundo González Urrutia […] A diferença foi tão grande, tão grande, a diferença foi esmagadora, a diferença estava em todos os estados da Venezuela “, frisou a ex-deputada, ao lado de González, líder da Plataforma Unitária Democrática (PUD), o maior bloco da oposição.

Machado indicou que, de acordo com 73,2% das atas, Maduro obteve 2.759.256 votos, enquanto González Urrutia 6.275.182. O oposicionista explicou que todas essas atas foram verificadas e digitalizadas. Elas já foram disponibilizadas num portal de internet criado pela oposição.

“Temos nas mãos os registos que demonstram a nossa vitória categórica e matematicamente irreversível”, afirmou González, agradecendo à comunidade internacional pela sua solidariedade e apoio.

O candidato presidencial Edmundo González Urrutia participa de coletiva de imprensa ao lado da líder da oposição, María Corina Machado, em Caracas, Venezuela. Foto: Reprodução.

Protestos nas ruas da Venezuela

De acordo com a ONG Foro Penal e a Pesquisa Nacional de Hospitais, projeto que monitora a crise hospitalar na Venezuela, quatro pessoas morreram nas manifestaçõese 44 ficaram feridas.

“Registramos 44 feridos e 3 mortes”, afirmou a Pesquisa Nacional de Hospitais na rede social X, que monitora a crise hospitalar. Dois dos falecidos são de Aragua (centro) e um de Caracas. Estas mortes somam-se à primeira relatada em Yaracuy (noroeste) pela ONG “Foro Penal”.

“E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!”, gritavam milhares de manifestantes que foram às ruas da gigantesca favela de Petare, a maior de Caracas. “Entregue o poder já!”, exclamavam outros.

Manifestações foram registradas em várias regiões da capital. A Guarda Nacional Bolivariana (GNB) dispersou várias delas com gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Também foram ouvidos disparos em alguns bairros.

No interior do país também houve protestos.

“Pela liberdade do nosso país, pelo futuro dos nossos filhos, queremos liberdade, queremos que Maduro vá embora. Vá embora, Maduro!”, disse à AFP Marina Sugey, uma dona de casa de 42 anos, durante o protesto em Petare.

Maduro fala em golpe

O ditador Maduro denunciou uma tentativa de golpe de Estado “de caráter fascista e contrarrevolucionário”. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, informou que 23 militares ficaram feridos nos protestos.

A oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia uma fraude no pleito presidencial e disse ter “como provar a verdade” de que a eleição foi vencida por Edmundo González Uruttia no domingo, 28. Machado explicou que, após ter acesso a cópias de 73% das atas da apuração, a projeção é de uma vitória da oposição com 6,27 milhões de votos, contra 2,75 milhões para Maduro.

“A diferença foi tão grande, acachapante em todos os estados da Venezuela, em todos os setores, vencemos”, afirmou Machado.

“São milhões de cidadãos na Venezuela e no mundo que querem ver que o seu voto conta… As equipes técnicas em breve restabelecerão o acesso!”, publicou mais tarde na rede social X.

Revisão

Os Estados Unidos, que foram fundamentais no processo que levou à eleição, e os vizinhos Brasil Colômbia, os três países que mais receberam venezuelanos, questionaram a apuração que deu a Maduro um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos, contra 44% de González, segundo o CNE, que foi aparelhado pelo regime chavista.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma reunião extraordinária a pedido dos governos da ArgentinaCosta RicaEquadorGuatemalaPanamáParaguaiPeruRepública Dominicana e Uruguai, que pediram uma “revisão completa dos resultados”.

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela expulsou o corpo diplomático da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Na embaixada argentina estão refugiados há semanas seis colaboradores de María Corina Machado, que denunciou um assédio policial à sede diplomática. A oposição já relatou a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha.

A Venezuela anunciou a suspensão dos voos procedentes e com destino ao Panamá e à República Dominicana a partir de quarta-feira, como forma de rejeição à postura de seus governos.

O Panamá administra a maioria dos voos que chegam à Venezuela, enquanto a República Dominicana é a principal conexão com os Estados Unidos.

China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia parabenizaram Maduro. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que reconhecerá o resultado do CNE.

Uma pequena delegação do Centro Carter esteve presente na votação de domingo. Ela pediu ao CNE “que publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais por colégio eleitoral”. Além disso, um painel de especialistas da ONU emitirá um relatório confidencial

Novas manifestações

O chavismo convocou para terça-feira, 30, “uma grande marcha em direção a Miraflores”, o palácio presidencial, “para defender a paz”.

Machado e González convocaram “assembleias cidadãs” em diferentes cidades. A oposição não deu maiores detalhes, mas repudiou a violência. “Há muita indignação e entendemos isso, mas temos que manter a calma, a serenidade, até alcançarmos a vitória”.

A maioria das pesquisas favorecia a oposição, que se absteve das eleições presidenciais passadas de 2018 e capitalizou o descontentamento de anos de uma crise que contraiu o Produto Interno Bruto em 80% e levou ao exílio cerca de sete milhões de venezuelanos, segundo a ONU.

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Com AFP/DW/Agências Internacionais

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