O ex-presidente do Uruguai, José 'Pepe' Mujica.

Mujica estava em fase terminal de um câncer no esôfago e recebia cuidados paliativos; morte foi anunciada pelo presidente Yamandú Orsi

Por Redação

Morreu nesta terça-feira, 13, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, aos 89 anos, em decorrência de complicações de um câncer de esôfago.

Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, ele ascendeu à política após anos de atuação na guerrilha armada Tupamaros. Chegou a ser preso durante a ditadura militar uruguaia e se tornou símbolo da esquerda latino-americana. Já no fim da vida, condenou os regimes ditatoriais de esquerda de Nicolás Maduro na Venezuela e Daniel Ortega na Nicarágua.

“Estou morrendo”, declarou José Pepe Mujica em sua última entrevista concedida ao jornal uruguaio Búsqueda em 9 de janeiro. Aquele dia ele contou que seu câncer era metastático e já não tinha tratamento. “O que estou pedindo é que me deixem em paz. Não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu tempo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E um guerreiro tem o direito de descansar.”

Desde que descobriu o câncer no esôfago, em abril de 2024, o ex-presidente uruguaio dava entrevistas conformado com a finitude de sua existência. Consciente de que a morte se aproximava, ele parecia tentar confortar seus admiradores da ideia.

“O câncer de esôfago está colonizando meu fígado. Não consigo detê-lo com nada. Por quê? Porque sou idoso e tenho duas doenças crônicas. Nem o tratamento bioquímico nem a cirurgia são adequados para mim, porque meu corpo não aguenta”, confessou naquela última entrevista.

A morte foi confirmada pelo presidente do Uruguai e seu herdeiro político, Yamandú Orsi. “É com profundo pesar que anunciamos o falecimento de nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, líder e dirigente. Sentiremos muito a sua falta, querido ancião. Obrigado por tudo o que você nos deu e por seu profundo amor pelo seu povo”.

Um dia antes, sua mulher e companheira desde os anos 1970 afirmou que Mujica estava em tratamento paliativo.

Pepe Mujica nasceu José Alberto Mujica Cordano em 20 de maio de 1935, em Paso de La Arena, bairro de Montevidéu. Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, de ascendência basca e italiana, respectivamente, ele cresceu em uma família humilde juntamente com uma irmã.

Entrou para o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros em 1960, uma organização guerrilheira fundada por Raúl Sendic, montada contra a liderança repressiva do Uruguai, ainda antes da ditadura militar.

Em poucos anos, o Tupamaro passou a praticar ações violentas, incluindo incêndios criminosos, sequestros políticos e assassinatos de vários policiais e outros.

Mujica foi preso várias vezes por suas atividades e foi condenado em 1971 por ter matado um policial. Ele fugiu da prisão duas vezes, incluindo na famosa fuga de Punta Carretas, mas foi recapturado em ambas e cumpriu cerca de 14 anos no total.

Como prisioneiro da ditadura militar que tomou o poder em um golpe em junho de 1973, Mujica foi torturado e passou longos períodos de tempo em confinamento solitário. Ele foi um dos militantes utilizados como “refém” pelo regime em troca do desmantelamento das guerrilhas.

Mujica e os outros presos políticos foram libertados em 1985 sob uma anistia geral. O Tupamaro se juntou à coalizão de esquerda conhecida como Frente Ampla (FA) e se reorganizou como um partido político legal, o Movimento de Participação Popular (MPP), para as eleições de 1989. Mujica tornou-se uma das principais vozes do MPP.

Foi eleito presidente em 2009 em um eleição de segundo turno contra Luis Alberto Lacalle. Sua presidência foi marcada por aprovação de leis pioneiras na América Latina como liberalização do aborto, legalização da maconha e casamento de pessoas do mesmo sexo.

Sem poder concorrer às presidência novamente pela Constituição uruguaia, fez o herdeiro político Tabaré Vázquez, do qual foi ministro da Agricultura. Se aposentou da vida política em 2020, quando renunciou ao Senado. Mas seguia ativo na militância da Frente Ampla, sendo uma peça fundamental na vitória de Yamandú Orsi em 2024.

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Com informações do Estadão

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