Joe Biden e Donald Trump.

Sua história sobre ser eletrocutado hipoteticamente é mais um sinal de uma mente insana

Por Eugene Robinson – The Washington Post

É irresponsável obcecar-se com a tendência do presidente Joe Biden de confundir algumas palavras quando discursa enquanto Donald Trump está por aí dando sinais de desconexão com a realidade. Biden, que é velho, pelo menos encontra sentido. Trump, que também é velho, vocifera como alguém que você atravessaria a rua para evitar.

Nós, nos meios de imprensa, não conseguimos nos habituar à incontinência verbal de Trump — não apenas as mentiras de bate-pronto e as ameaças vingativas, mas também as manifestações assustadoras de uma mente que, evidentemente, não está bem. Em 2016, Trump disse coisas ultrajantes em seus comícios de campanha para entreter os eleitores. Em 2024, seus parâmetros levantam sérias dúvidas a respeito de sua sanidade mental.

Seu comício no domingo em Las Vegas ofereceu uma série de exemplos sombrios, mas o destaque óbvio (e negativo) foi a história que ele contou sobre estar a bordo de um hipotético barco movido a eletricidade. Ele afirmou que a bateria era tão pesada que faria a embarcação afundar e relacionou uma suposta conversa sua com um marinheiro experiente sobre esse cenário. Tenha paciência comigo, vale a pena ler essa passagem inteira:

“Eu digo, ‘O que aconteceria se o barco afundasse por causa de seu peso e você está no barco e tem uma bateria tremendamente poderosa e a bateria está agora submersa e tem um tubarão de aproximadamente 9 metros ali?’.”

“Aliás, tem havido um monte de ataques de tubarão ultimamente, vocês têm percebido isso? Muitos tubarões. Eu vi uns caras justificando isso hoje: ‘Bem, eles não estavam tão bravos assim, eles arrancaram a perna da jovem não porque eles estavam com fome, mas porque não entenderam quem ela era.’. Essas pessoas são loucas. Ele disse, ‘Não há problema com os tubarões, eles só não entendem realmente uma jovem nadando’. Não, eles foram realmente dizimados e outras pessoas também, muitos ataques de tubarão.”

“Então eu disse, ‘Tem um tubarão a 9 metros do barco, 9 metros, ou aqui. Eu serei eletrocutado se o barco estiver afundando, a água submerge a bateria, o barco está afundando? Eu fico dentro do barco e sou eletrocutado ou pulo na água ao lado do tubarão e não sou eletrocutado?’. Porque eu lhes digo, ele não sabia a resposta.”

“Ele disse, ‘Sabe, ninguém nunca me fez essa pergunta’. Eu disse, ‘Acho que é uma boa pergunta. Acho que há muitas correntes elétricas chegando através dessa água’. Mas você sabe o que eu faria se tivesse que escolher entre um tubarão ou ser eletrocutado? Eu escolho o choque elétrico toda vez. Eu não vou chegar nem perto desse tubarão. Então nós vamos acabar com isso, vamos acabar com essa história para os barcos, vamos acabar com isso para os caminhões.”

Caminhões? Trump estava na verdade falando sobre a transição para os veículos elétricos, que ele já prometeu impedir. Toda essa alucinação é parte do raciocínio de Trump para justificar um de seus principais posicionamentos políticos.

Trump contou a história da escolha entre o choque elétrico ou o tubarão pelo menos uma vez antes disso, em um comício no Estado de Iowa, em outubro. Stormy Daniels, a atriz pornô que recebeu US$ 130 mil para manter-se calada a respeito de sua relação sexual com Trump — um pagamento que levou à condenação do ex-presidente por 34 acusações criminais — afirmou que Trump é “obcecado com tubarões, morre de medo de tubarões”. Em 2013, ele declarou no Twitter: “Os tubarões estão na minha lista — além talvez dos perdedores e haters do Mundo!”.

Os assessores de imprensa da Casa Branca preparariam-se para o pior se no meio de um discurso Biden começasse subitamente a falar bobagens sobre barcos e tubarões. Reportagens de primeira página questionariam se o presidente, aos 81 anos, sofreria de demência; e as páginas de opinião seriam preenchidas por tergiversações sobre a vice-presidente Kamala Harris e o gabinete deverem ou não invocar a 25.ª Emenda. Os deputados republicanos agendariam audiências sobre a condição mental de Biden e exigiriam que ele passasse por um teste cognitivo.

No mesmo discurso em Las Vegas, Trump tentou negar a alegação de um de seus chefes de gabinete na Casa Branca, o general marine John Kelly, de que em 2018 o então presidente se recusou a visitar um cemitério militar americano na França afirmando que o local estava cheio do “otários” e “perdedores”. Trump disse à multidão no domingo que “só um psicopata ou uma pessoa louca ou uma pessoa muito burra” diria algo assim no momento que “estou lá com generais e pessoal militar em um cemitério”.

Mas Trump não esteve lá com ninguém. Ele nunca foi a esse cemitério. Exceto em sua mente, talvez, o que é um problema muito maior que Biden confundindo um nome ou embaralhando uma frase. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.

(Eugene Robinson escreve uma coluna sobre política e cultura. Em suas três décadas de carreira no The Washington Post foi repórter e editor de cidades, correspondente estrangeiro em Buenos Aires e Londres, editor de internacional e subeditor-executivo encarregado da seção Style do jornalvia Estadão).

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