
Paladar provou 18 tintos que vão muito bem com o pescado português e contrariam a lógica de que branco vai melhor com peixe
Por Redação
Uma das máximas da harmonização gastronômica diz que brancos combinam com peixe e tintos com carne. Mas como fica o bacalhau nesta história, ainda mais em tempos de Páscoa? Os portugueses saem desta saia justa ao afirmar que bacalhau não é peixe, é bacalhau. E seguem não apenas combinado a sua receita mais típica com vinhos tintos, como defendendo, convictamente, esta harmonização.
Qual é o melhor vinho tinto para o bacalhau?
Certamente não são aqueles com muitos taninos, como um tannat, um petit verdot e até um cabernet sauvignon. As uvas tintas portuguesas, como uma touriga nacional ou uma tinta roriz, podem indicar um caminho. “O sal do bacalhau pode se chocar com o tanino do vinho”, ensina o sommelier Gianni Tartari, eleito por duas vezes o melhor do Brasil. Sua dica é procurar tintos de regiões vinícolas mais quentes, onde o tanino tende a ser mais delicado e não incomodar tanto nesta harmonização.

Como foi realizado o teste?
Com estas premissas, o Paladar selecionou 18 tintos disponíveis no mercado brasileiro, de variedades tão diversas como a pinot noir, a cinsault ou a bonarda. A procura foi por uvas com menos taninos, de corpo mais leve e com boa acidez (o tal frescor), que deve deixar a harmonização mais agradável. Deste total apenas quatro vinhos são portugueses.
A degustação contou com três especialistas: o sommelier Gianni Tartari; Felipe Campos, professor da escola de vinhos The Wine School, e Rodrigo Lanari, sócio da consultoria Winext. Além de degustar os vinhos às cegas, os jurados procuraram encontrar a melhor receita de bacalhau para cada vinho. Para isso, se basearam no Caderno de Receitas, publicado pelo Paladar com 78 receitas do pescado. Com a relação dos ingredientes e a descrição do modo de preparo, é possível indicar aquelas receitas que tendem a combinar com cada vinho.

No final, elegeram os três melhores vinhos, pela sua qualidade, mas também pela capacidade de combinar com o pescado. São eles: o brasileiro Pizzato Merlot de Merlots Reserva 2023; o chileno Éclat Curiosity Cinsault 2017 e o português Paulo Laureano Vinhas Velhas Private Selection 2018, que seguem em destaque.
Em todas as provas realizadas por Paladar, a reportagem faz um levantamento das marcas disponíveis no mercado. E, nos dias anteriores ao teste, as amostras são selecionadas junto às importadoras de vinho. A degustação dos vinhos é realizada às cegas. O Paladar Testou é uma iniciativa 100% editorial. Além disso, o júri também não tem conhecimento de quais rótulos fazem parte da seleção antes do resultado da apuração.

Conheça o regulamento do Paladar Testou 2025
*Os preços dos produtos foram apurados na última quinzena de março de 2025.
Os três vinhos tintos mais bem avaliados

1° – Pizzato Merlot de Merlots Reserva 2023, Vale dos Vinhedos, Brasil
Elaborado apenas com a merlot, foi o destaque da prova, com notas de frutas vermelhas maduras na medida, e um toque elegante dos tostados pela passagem em barricas de carvalho. No paladar, tem taninos aveludados, boa acidez, com equilíbrio e persistência. Tende a casar com um bacalhau Gomes de Sá, receita do norte de Portugal. Tem 13,5% de álcool. (R$ 139, na Pizzato)

2° – Éclat Curiosity Cinsault 2017, Itata, Chile
Direto do sul do Chile, este tinto da vinícola Valdivieso conquista pelas boas notas de frutas vermelhas maduras, com uma nota de defumado bem agradável. Tem personalidade, taninos firmes, mas não intensos, e boa acidez. Pede um bacalhau com pimentão e paio português. Tem 14% de álcool. (R$ 148, na Ravin).

3° – Paulo Laureano Vinhas Velhas Private Selection 2018, Alentejo, Portugal
Trata-se de um tinto potente, de uma região quente (a zona da Vidigueira, no Alentejo), com muitas notas de frutas vermelhas, especiarias doces, floral (esteva, violetas). Com corpo de média intensidade, traz taninos firmes, acidez de média intensidade e muita persistência. Pede receitas com muito azeite como o bacalhau com cebola caramelizada e batatas ao murro. Tem 15% de álcool. (R$ 420, na Adega Alentejana)
Os 18 vinhos testados na avaliação do júri, em ordem alfabética

Alamos Bonarda 2023, Mendoza, Argentina
Marca de combate da Catena, a linha Alamos apresenta este bonarda com frutas negras, como ameixas maduras, com um bom toque floral. Taninos presentes e secantes, corpo médio, equilibrado com a sua acidez. Pede um bacalhau à napolitana. Tem 13% de álcool. (R$ 128,60, na Mistral)
Bacalhoa Touriga Nacional Vinha da Garrida 2019, Dão, Portugal
De cor rubi intensa, apresenta notas de frutas negras, como ameixa e cerejas pretas, bem maduras, com boa complexidade aromática. Equilibrado, com corpo médio, taninos firmes e acidez presente. Uma posta de bacalhau al pil pil deve permitir o contraste do salgado da receita com as notas quase doces da fruta madura deste tinto. Tem 13,5% de álcool. (R$ 266, na Épice)
Coteaux Bourguignons Albert Bichot 2021, Borgonha, França
Um vinho gostoso, que mescla diversas notas de frutas vermelhas, lembrando cerejas e alcaçuz. Apresenta bom equilíbrio no paladar, com poucos taninos, porém mais aveludados, com acidez firme. Combina com um medalhão de bacalhau com ervas aromáticas. Tem 12,5% de álcool. (R$ 231,90, na Cantu)
Crasto Superior Douro 2021, Douro, Portugal
Um tinto potente já nos aromas de frutas vermelhas maduras e nas notas florais, bem integradas às notas da barrica. Persistente, concentrado, com taninos aveludados e acidez média. Este paladar mais untuoso convida a um bacalhau com natas. Tem 14% de álcool. (R$ 239, na Qualimpor)
Domaine Glantenet Bourgogne Hautes Côtes de Nuits 2022, Borgonha, França
De cor rubi translúcida e pouco corpo, este pinot noir traz aromas de frutas vermelhas, com bom equilíbrio em boca. Apresenta poucos e sedosos taninos, acidez mediana, que combina com um ravioli de bacalhau. Tem 12,5 % de álcool. (R$ 299, na Chez France)
Éclat Curiosity Cinsault 2017, Itata, Chile
Direto do sul do Chile, este tinto da vinícola Valdivieso conquista pelas boas notas de frutas vermelhas maduras, com uma nota de defumado bem agradável. Tem personalidade, taninos firmes, mas não intensos, e boa acidez. Pede um bacalhau com pimentão e paio português. Tem 14% de álcool. (R$ 148, na Ravin)
Las Brisas Pinot Noir 2022, Vale de Leyda, Chile
Do vale de Leyda, fortemente influenciado pelos ventos do oceano Pacífico, nasce este tinto de cor rubi translúcida. Destaca-se notas de frutas vermelhas frescas e uma especiaria. De corpo leve para médio, com taninos médios, persistência média, traz taninos macios. Tende a combinar com um bacalhau à lagareira. Tem 13,5% de álcool. (R$ 229,90, na Grand Cru)
La Part du Colibri Gamay Vicente Caillé 2021, Languedoc, França
No estilo de vinho mais alternativo, elaborado com baixa intervenção, e com turbidez (não é filtrado) destaca-se pela fruta vermelha madura e pelas notas que remetem a couro e um toque terroso. Tem poucos taninos, acidez em destaque, que convidam a um lombo de bacalhau com crosta de champignon. Tem 12% de álcool. (R$ 165, na De La Croix)
Les Copains d’Abord Gamay Le Premier Soir 2022, Morgon, França
Tinto mais leve, com aromas que lembram goiabas e frutinhas vermelhas, bem fresco. No paladar, traz corpo leve, boa acidez e notas frutadas, tudo para combinar com um pastel de bacalhau. Tem 13% de álcool. (R$ 206,40, na World Wine)
Luis Cañas Maceración Carbónica 2023, Rioja, Espanha
Um tinto bem fresco, leve e fácil de beber. Traz notas de morangos, ainda azedinhos, e um toque floral. Destaca-se pela acidez, quase cítrica, e pelos aromas intensos, mesmo curto em boca e pelos taninos pouco presentes. Pede um bacalhau ao forno com emulsão de limão. Tem 13,5% de álcool. (R$ 155, na Decanter)
Messmer Spätburgunder Trocken 2020, Pfalz, Alemanha
Representante alemão da uva pinot noir, no país chamada de spätburgunder, tem cor rubi translúcida, com notas de morangos e cerejas maduras e um leve toque terroso. No paladar, apresenta corpo médio, taninos bem sedosos, e uma acidez que convida ao bolinho de bacalhau. Tem 13% de álcool. (R$ 274, na Weinkeller)
Michele Chiarlo Palás Barbera D’Asti 2021, Piemonte, Itália
Representante do norte da Itália, este barbera traz notas de frutas vermelhas maduras, mescladas com especiarias doces, como canela. De corpo médio, tem taninos bem sedosos e baixa acidez. Tende a casar com um bacalhau com batata palha, presunto e ovos. Tem 13% de álcool. (R$ 229,90, na Casa Flora)
Olte Longhe Bardolino Classico 2023, Bardolino, Itália
De coloração rubi mais pálido, tem aromas bem intensos de frutas vermelhas frescas, lembrando cerejas e framboesas. De corpo leve, tem poucos taninos, acidez marcada e certa rusticidade. Deve combinar com um bacalhau com grão de bico, batatas e cenouras. Tem 14% de álcool. (R$ 198, na Cecconello)
Paulo Laureano Vinhas Velhas Private Selection 2018, Alentejo, Portugal
Trata-se de um tinto potente, de uma região quente (a zona da Vidigueira, no Alentejo), com muitas notas de frutas vermelhas, especiarias doces, floral (esteva, violetas). Com corpo de média intensidade, traz taninos firmes, acidez de média intensidade e muita persistência. Pede receitas com muito azeite como o bacalhau com cebola caramelizada e batatas ao murro. Tem 15% de álcool. (R$ 420, na Adega Alentejana)
Pizzato Merlot de Merlots Reserva 2023, Vale dos Vinhedos, Brasil
Elaborado apenas com a merlot, foi o destaque da prova, com notas de frutas vermelhas maduras na medida, e um toque elegante dos tostados pela passagem em barricas de carvalho. No paladar, tem taninos aveludados, boa acidez, com equilíbrio e persistência. Tende a casar com um bacalhau Gomes de Sá, receita do norte de Portugal. Tem 13,5% de álcool. (R$ 139, na Pizzato)
Vinha Grande Tinto 2017, Douro, Portugal
Da safra de 2017, este tinto da Casa Ferreirinha tem o ganho de ter alguns aninhos de guarda. Isso torna o vinho mais pronto para bacalhau. No nariz, destaca-se pelos aromas de frutas negras maduras na medida, casadas com as notas vindas da passagem por barricas. Taninos firmes, com acidez precisa, são seus destaques no paladar. A pedida é uma caldeirada de bacalhau. Tem 14% de álcool. (R$ 284, na Zahil)
Vinyes Ocults Maceración Carbónica Malbec-Cot 2024, Lujan de Cuyo, Argentina
As notas de malbec são evidentes neste tinto, elaborado com maceração carbônica (em tanques fechados), frutas vermelhas tanto frescas como maduras, uma nota de violeta, taninos presentes e aveludados, e acidez média. A sugestão é um bacalhau com leite de coco. Tem 13,2% de álcool. (R$ 180, na Boca a boca)
Zero – G 2020, Wagram, Áustria
Elaborado apenas com a uva autóctone zweigelt, é um tinto com cor rubi clara, com aromas bem frutados, lembrando morangos. Apresenta corpo leve e certa rusticidade no paladar, que tende a combinar com uma porção de bolinho de bacalhau. Tem 12,5% de álcool. (R$ 185, na Berkmann).
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Com Estadão/Paladar