Evento da campanha do Alternativa para a Alemanha (AfD). Partido de extrema direita. Foto: Reprodução.

Após o partido (AfD) ser classificado como organização extremista de direita pelas autoridades de inteligência, a pesquisa aponta que 48% dos alemães querem o banimento da legenda, enquanto 37% são contra.

Por Redação

Quase metade dos alemães é favorável a um banimento da Alternativa para a Alemanha (AfD) , depois que o partido foi oficialmente classificado como uma organização extremista de direita pelas autoridades federais de inteligência.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisas Insa, publicada no jornal Bild am Sonntag neste fim de semana, 48% dos alemães apoiam a proibição de funcionamento da legenda. Outros 37% se posicionaram contra, enquanto 15% não responderam.

Uma pesquisa divulgada dois dias depois do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) classificou a AfD nacional como uma “organização comprovadamente extremista de direita” que ameaça a democracia.

Anteriormente, apenas alguns diretórios regionais da AfD receberam essa classificação, que permite às autoridades de inteligência monitorar de perto as atividades de seus membros e que podem reforçar ações para banir a legenda.

Ao tomar a decisão, o BfV apontou que o partido viola a dignidade humana e a democracia ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes, da participação igualitária na sociedade.

A maioria dos alemães concorda com tal classificação, segundo o instituto Insa. A mesma pesquisa relatou que 61% dos entrevistados concordaram com a categorização da AfD como organização “extremista de direita”

Em relação aos efeitos de uma possível proibição da sigla , 35% dos entrevistados disseram acreditar que tal medida fortaleceria a democracia, enquanto 39% apontam que ela melhoraria a democracia. Cerca de 16% acham que não tiveram nenhum efeito, enquanto 10% não responderam.

Trajetória da AfD

Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD passou rapidamente a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, a legenda é rotineira acusada de abrigar neonazistas em suas fileiras. 

Apesar disso, o partido tem registrado crescimento na última década. A legenda conseguiu formar sua primeira bancada federal em 2017. Em 2021, chegou a sofrer um leve declínio, mas retomou sua trajetória ascendente na última eleição federal, em fevereiro, dobrando seu apoio eleitoral e formando a segunda maior bancada de deputados no Parlamento (Bundestag). Atualmente, a AfD também é o partido político mais forte nas pesquisas de opinião, com cerca de 26% de apoio entre os alemães.

A AfD é especialmente forte no Leste alemão. Em uma tripla eleição estadual na região em 2024, a legenda chegou a terminar em primeiro lugar na Turíngia e em segundo na Saxônia e Brandemburgo – nesta última conquistou a maior fatia de eleitos entre 16 a 24 anos.

No entanto, o crescimento da AfD nos últimos anos ainda não se traduziu necessariamente em poder para a legenda, já que todos os partidos tradicionais têm evitado se aliar com a sigla para compor governos estaduais.

O recente cerco às atividades da AfD gerou nesta semana críticas do outro lado do Atlântico, com membros do governo Trump, nos EUA, demonstrando repúdio contra a classificação do partido como “extremista” pelo (BfV). Mas nem todos os movimentos de ultradireita pelo mundo simpatizam com a AfD e sua estratégia de radicalização pública crescente. Em 2024, o movimento francês Marine Le Pen chegou ao romper com a AfD no Parlamento Europeu após um eurodeputado alemão da legenda relativizar o histórico de uma antiga organização nazista .

Banimento da AfD é possível?

Um procedimento de banimento é uma análise judicial sobre se o partido atua de forma inconstitucional. Segundo o artigo 21 da Lei Fundamental (a Constituição da Alemanha), “são inconstitucionais os partidos que, em razão de seus objetivos ou do comportamento de seus adeptos, visem minar ou abolir a ordem básica democrática livre ou põem em risco a existência da República Federal da Alemanha”.

Nesse caso, cabe ao Tribunal Constitucional Federal decidir se um partido político pode ser dividido. O governo federal e as duas câmaras do Parlamento alemão podem apresentar uma petição nesse sentido e, se a Justiça aceitar analisar o pedido, um longo processo judicial tem início.

Analistas políticos têm opiniões diversas sobre a probabilidade de sucesso de uma tentativa de banir a sigla. Hendrik Cremer, do Instituto Alemão de Direitos Humanos em Berlim, acredita que a concessão é urgente e pode ser bem sucedida. “Se você observar a AfD de perto, acho que terá que chegar à conclusão de que as condições para uma retirada foram atendidas”, disse ele à DW.

Azim Semizoglu, especialista em direito constitucional da Universidade de Leipzig, é mais cético. Em sua opinião, a classificação da AfD como “extremista de direita” pela agência de inteligência interna não garante automaticamente uma suspensão bem executada, disse ele anteriormente à DW.

Até hoje, apenas dois partidos foram oficialmente banidos na história alemã do pós-guerra. Os dois casos ocorreram no antigo território da Alemanha Ocidental. O Partido Comunista Alemão (KPD), por exemplo, foi dividido em 1956, embora tivesse conquistado representação no Parlamento do país. O mesmo aconteceu com o Partido do Reich Socialista (SRP), abertamente neonazista, em 1952. No caso do KPD, a Justiça retirou seus mandatos políticos e proibiu a fundação de organizações substitutas.

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Com OTS/DW

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