O presidente eleito foi internado no HBDF na noite de 14 de março, após sentir fortes dores abdominais durante uma missa celebrada em sua homenagem
Por Delmo Menezes
No dia 15 de março de 1985, o Brasil vivia um momento histórico: após 21 anos de ditadura militar, o país se preparava para a posse do primeiro presidente civil eleito, Tancredo Neves. No entanto, a esperança de uma transição tranquila para a democracia foi abruptamente substituída pela apreensão. Na noite anterior à posse, Tancredo foi internado às pressas no Hospital de Base de Brasília (HBDF) e submetido a uma cirurgia de emergência. O vice-presidente eleito, José Sarney, acabou assumindo a presidência interinamente e, posteriormente, em definitivo, com a morte de Tancredo no dia 21 de abril de 1985.
A primeira noite após o fim da ditadura foi marcada pelo temor de que os militares tentassem uma nova articulação contra a democracia. No entanto, a posse de Sarney garantiu a continuidade do processo de redemocratização. Tancredo Neves havia sido eleito de forma indireta por um colégio eleitoral em 15 de janeiro de 1985, derrotando Paulo Maluf, candidato dos militares.

O presidente eleito foi internado no HBDF na noite de 14 de março, após sentir fortes dores abdominais durante uma missa celebrada em sua homenagem. Inicialmente diagnosticado com uma crise aguda de apendicite, Tancredo foi anestesiado e operado na madrugada do dia 15. A decisão de que Sarney tomaria posse foi tomada às 1h30 da manhã, em uma reunião entre Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados, José Fragelli, presidente do Senado, e Leônidas Pires Gonçalves, futuro ministro do Exército. A operação foi concluída por volta das 2h, e os boletins médicos iniciais indicavam que Tancredo passava bem.
Contudo, o quadro de saúde do presidente eleito se agravou. Diagnósticos contraditórios surgiram, e Tancredo foi submetido a sete cirurgias ao longo de 38 dias de sofrimento. O que era para ser uma festa democrática transformou-se em um período de grande incerteza para o Brasil.
Relato de um médico do HBDF
Entre os profissionais que acompanharam de perto a internação de Tancredo Neves, está o Dr. Rafael Barbosa, que anos depois se tornaria diretor do Hospital de Base. Ele relembra o impacto daquele momento:
“Estava vendo umas coisas aqui na TV e passa um ‘raio X’ na minha cabeça. No dia 14 de março de 1985, eu estava de plantão no Pronto-Socorro do Hospital de Base do DF, na Clínica Médica. Como de rotina, a gente descia para jantar na Sanoli. E de repente, fecharam tudo. O presidente Tancredo Neves, que tomaria posse no outro dia, acabava de dar entrada no hospital para ser operado e nunca mais assumir seu mandato.
Acompanhei tudo, entrevistas coletivas e todas as histórias que ocorriam no hospital. Quis o destino que, pouco tempo depois, me tornasse diretor do Hospital de Base e, na passagem do cargo, na sala do diretor, existia um enorme cofre, e ali era guardado a sete chaves o prontuário do presidente Tancredo Neves. Em alguns momentos de folga, tive aos olhos o relato médico de toda essa história. Neste sábado, 15 de março, se comemora o início da redemocratização do nosso país. Viva a democracia!”
Quatro décadas depois, a morte de Tancredo Neves continua sendo um dos episódios mais marcantes da história política brasileira. Seu falecimento não impediu a transição democrática, mas deixou o Brasil em um período de instabilidade e luto. A redemocratização seguiu seu curso, e o país iniciou um novo capítulo de sua história sob a liderança de José Sarney.
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Da Redação do Agenda Capital