Vladimir Putine Volodymyr Zelesnky. Reprodução.

Rússia sinaliza abertura para paz, mas mantém exigências territoriais. Ucrânia negocia condições para o fim da guerra em Londres em meio à pressão dos EUA e avanço russo. EUA falam em reconhecer Crimeia como território russo

Por Redação

Autoridades da UcrâniaEstados Unidos e Europa se reúnem em Londres nesta quarta-feira, 23, para negociar condições para o fim da guerra com a Rússia, no momento em que o presidente russo, Vladimir Putin, afirma estar aberto a negociações com Kiev. Os EUA devem reforçar um plano de paz à Ucrânia que inclui reconhecer a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, como território russo. Já FrançaReino Unido Alemanha devem apresentar garantias para a reconstrução do país no pós-guerra.

Pressionado a aceitar um acordo de paz desde o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, afirma estar preparado para chegar a um cessar-fogo “incondicional”. Em negociações anteriores, o ucraniano exigiu a saída da Rússia de todos os territórios anexados durante a guerra, mas há um reconhecimento crescente das autoridades de que isso é improvável de acontecer no curto prazo.

“Estamos prontos para avançar da forma mais construtiva possível, assim como fizemos antes, para alcançar um cessar-fogo incondicional, seguido pelo estabelecimento de uma paz real e duradoura”, declarou Zelenski em suas redes sociais.

O encontro em Londres é uma continuação dos diálogos ocorridos na semana passada na França. Na ocasião, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que os EUA abandonaria as negociações de paz se não houvesse progresso. De acordo com o jornal americano The Washington Post, Rubio também teria apresentado o esboço da proposta de paz com o reconhecimento da Crimeia e a suspensão de sanções contra a Rússia.

A proposta é vista por parte das autoridades como um ultimato dos EUA antes de sair das negociações. Franceses, britânicos e alemães devem oferecer garantias a Kiev de segurança e programas de reconstrução, como contrapartida. A entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), no entanto, não deve ser incluída.

Em troca, a Rússia encerraria as ofensivas na Ucrânia em um momento em que obtêm vantagem no campo de batalha. As linhas de frente do conflito ficariam congeladas.

Esta semana, pela primeira vez desde o início do conflito, Putin afirmou que está aberto a negociar com Kiev – o que antes era condicionado à saída de Zelenski da presidência. O russo também anunciou um cessar-fogo de Páscoa no fim de semana, mas os dois lados denunciaram violação.

O russo negocia o fim da guerra diretamente com os americanos. O enviado especial de Trump para o assunto, Steve Witkoff, se reuniu com Putin este mês em Moscou e deve viajar para a cidade novamente esta semana, de acordo com o Kremlin. O plano dos EUA na França foi apresentado após o primeiro encontro.

Segundo analistas, a proposta americana pressiona muito mais a Ucrânia que a Rússia, ao dar um golpe moral no plano de Kiev de recuperar a Crimeia – visto como improvável por analistas militares – e permitir a Rússia em solidificar uma vantagem estratégica no continente europeu.

“Existe a preocupação de que Trump esteja tentando pressionar os ucranianos e não tenha sido duro o suficiente com a Rússia”, disse o diretor do Eurasia Group, Mujtaba Rahman, ao The Washington Post. “A questão fundamental agora é: o que a Ucrânia ganha em troca de abrir mão de parte de seu território?”

A proposta deve enfrentar resistência do lado ucraniano. A anexação da Crimeia é vista como o primeiro ato de agressão da Rússia contra a Ucrânia, incluindo o financiamento a grupos separatistas nas regiões do leste ucraniano (Donetsk e Luhansk) e a guerra em 2022. Em repetidas ocasiões, Zelenski falou sobre reconquistar a península, apesar de reconhecer as dificuldades militares para isso.

Apesar da posição desvantajosa de Kiev, os líderes europeus podem influenciar a favor da Ucrânia nas negociações. Dado os relatos de violações da Rússia no cessar-fogo durante a Páscoa, as autoridades permanecem céticas sobre a intenção de Putin em negociar e acreditam ter condições para exercer pressão sobre os russos por causa dos bilhões de ativos russos congelados.

“Apesar da promessa do presidente Putin de uma pausa de 30 horas nos combates, posso confirmar que a Inteligência de Defesa (do Reino Unido) não encontrou, e cito, ‘nenhuma indicação de que um cessar-fogo na linha de frente tenha sido observado durante o período da Páscoa’”, disse o secretário de defesa britânico, John Healey, na Câmara dos Comuns do Reino Unido esta semana.

As autoridades europeias também acreditam que Putin atua para atrasar as negociações de paz, na intenção de obter avanços nas linhas de frente da guerra e, em consequência, paralisá-las mais distante da fronteira russa. Isso também aumentaria o poder de Moscou de exigir concessões, como o reconhecimento do território ucraniano anexado durante os três anos de guerra.

Espera-se que o apoio europeu ofereça espaço para a Ucrânia apresentar suas próprias exigências ao cessar-fogo, ante a pressão americana. O presidente ucraniano já declarou que a Crimeia é inegociável, mas, ao mesmo tempo, não quer perder os EUA como aliado. A resposta de Kiev sobre o plano dos EUA deve ser levada à Rússia por Witkoff. 

Siga o Agenda Capital no Instagram>https://www.instagram.com/agendacapitaloficial

Com The Washington Post

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here