Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: Reprodução

Cinco dos oito deputados da bancada do Distrito Federal apostaram abertamente no novo presidente da Câmara. Parlamentares são cotados para cargos importantes na Casa e até no Governo Federal. Celina do PP sai na frente.

Por Alexandre de Paula

No jogo político de articulações e negociações, a vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados deixou mais forte a bancada do Distrito Federal na Casa. Cinco dos oito parlamentares de Brasília participaram ativamente da campanha de Lira e se manifestaram de maneira pública em favor dele. O apoio garantiu, avaliam políticos e especialistas, um papel de destaque para o DF, e cargos importantes na estrutura do Legislativo podem ficar nas mãos de deputados locais.

Por ter uma bancada pequena em comparação com outras unidades da Federação, o DF teve, historicamente, dificuldade de se articular para galgar posições de mais destaque na Casa. A avaliação do momento atual é de que o cenário mudou e de que alguns deputados da capital federal figuram entre os mais influentes com o novo presidente da Câmara. Entretanto, em meio às conturbadas negociações, o enredo político se mostra sempre volátil, e consolidar essa força é o grande desafio da bancada.

A deputada federal Bia Kicks (PSL) é um dos símbolos das duas situações, tanto da força de parlamentares da capital do país quanto da instabilidade dos acordos firmados em situações como essa. Kicis foi indicada por Lira para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) — a mais importante na estrutura do Legislativo, pois todos os projetos precisam ter aval desse colegiado para seguir em frente.

A indicação da parlamentar, porém, incomodou parte da classe política e do Judiciário. Aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ela se notabilizou por polêmicas e criticou diversas vezes o Supremo Tribunal Federal (STF), além de se colocar contra medidas sanitárias de combate à covid-19, como o uso de máscaras.

Interlocutores de Lira afirmam que o compromisso dele era com o presidente Jair Bolsonaro. Ele não deve retirar o apoio a Kicis, mas também não fará esforços para barrar candidaturas contrárias. Também ponderam que um gesto de desistência da parlamentar do Distrito Federal seria bem recebido por Lira e a colocaria em uma posição de força, com possibilidade de dialogar e negociar outros espaços relevantes.

Orçamento

A mais importante comissão do Congresso, a de orçamento, também pode ficar nas mãos de uma deputada do Distrito Federal. Flávia Arruda (PL) é a favorita para o cargo e pode ser responsável por conduzir as discussões sobre o planejamento orçamentário de todo o país. O imbróglio em relação ao tema, no ano passado, teve como pano de fundo a própria eleição da Casa e se estendeu tanto que o grupo acabou não instalado em 2020 — o que deve ocorrer na terça-feira.

Deputados avaliam que, no cenário atual, a escolha de Flávia está encaminhada, mas há o interesse também de Elmar Nascimento (DEM-BA), que abandonou os direcionamentos de Rodrigo Maia, correligionário eleito pelo Rio de Janeiro, para apoiar Arthur Lira. Ainda que a parlamentar do DF não seja escolhida para dirigir a comissão mista, a articulação como um nome importante dá forças a ela e a coloca em destaque nacionalmente.

Celina Leão (Progressistas) foi uma das que mais se fortaleceram com a chegada de Lira à presidência. Do mesmo partido que ele, ela se colocou como cabo eleitoral na linha de frente da campanha. Foi, inclusive, na casa de empresários próximos a Celina que ocorreram as últimas reuniões de articulação, além da criticada festa de comemoração da vitória, na noite da última segunda-feira.

Deputados que estiveram perto de Arthur Lira no processo afirmam que Celina tem a porta completamente aberta com o novo presidente, bem como o apoio dele para qualquer objetivo que ela almeje e que esteja ao alcance do deputado recém-eleito. O nome de Celina também se fortaleceu para o comando do Ministério do Esporte, em uma possível recriação da pasta com a reforma ministerial que o Governo Federal sinalizou intenção de concretizar a partir das negociações com o Centrão em favor de Lira.

Dissidente

Completa a lista dos mais influentes do DF com o novo comandante da Câmara o deputado federal Luis Miranda (DEM). Ele teve papel importante na campanha porque, além de estar em várias viagens aos estados, liderou a movimentação contra Baleia Rossi (MDB-SP) e foi um dos responsáveis pelo Democratas optar pela liberação dos parlamentares para votar em Lira, apesar do apoio do então presidente da Casa, Rodrigo Maia, ao emedebista.

Fortalecido, Luis Miranda pode conquistar a relatoria da Reforma Tributária, uma das pautas prioritárias para o deputado. Além disso, ele tem vaga garantida como integrante da Comissão Mista do Orçamento e tentará ser relator de um dos setores do grupo, o que dará mais importância ao parlamentar. Também conseguiu a relatoria da proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata de questões relacionadas à Polícia Civil do DF, o que dará crédito a ele com a categoria.

Apesar de não estar tão próximo de Lira, Júlio César (Republicanos) tem uma relação muito boa com o presidente do partido, Marcos Pereira — eleito por São Paulo —, que construiu relação sólida com o novo mandatário da Câmara ao abrir mão da candidatura e apoiá-lo. Ligado à Igreja Universal e com forte apelo entre o público evangélico, o deputado do DF, que é pastor, terá facilidade para aprovar projetos que beneficiem o setor que o elegeu.

Demais votos

Apenas Erika Kokay (PT) e Professor Israel (Rede) se colocaram abertamente contra Arthur Lira. Paula Belmonte (Cidadania) não manifestou de forma pública o voto, mas, nos bastidores, aliados do novo presidente dão como certo o voto da parlamentar nele.

Palavra de especialista

Aposta ganha

Olhando para a perspectiva do Distrito Federal, muitos acordos foram fechados. Recentemente, cresceram os comentários de que a Celina Leão poderia até ser um dos nomes indicados para assumir algum cargo no Governo Federal, por exemplo. Isso tudo, de certa forma, vai facilitar acordos de interesse de grupos diversos dentro da bancada e, assim, também pode facilitar o trâmite para o Governo do Distrito Federal (GDF), pois existe uma tendência muito grande do governador (Ibaneis Rocha) para (apoiar) a forma de trabalho do presidente Jair Bolsonaro. Com certeza, a bancada do DF ganhou força com a vitória de Lira. Em toda disputa eleitoral — e na eleição da Câmara dos Deputados é a mesma coisa — você tem apostas feitas. A bancada do DF fez uma aposta em Arthur Lira, como a maioria fez. Mas isso não foi de forma gratuita. Vimos cargos sendo leiloados, apoios e o Governo Federal sinalizou que haverá uma reforma ministerial. Esses nomes da bancada do DF ventilados para cargos importantes são sinal de força adquirida e de aposta ganha. Fábio Vidal, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB).

Com informações do CB

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