Governo da Catalunha declara independência no parlamento, contrariando as ordens de Madri

Carles Puigdemont formaliza a vitória do ‘Sim’, e denuncia violência do Estado espanhol. Região vive há três anos campanhas intensas pela separação e protestos nas ruas; polícia da Espanha anunciou que estaria pronta para prender Carles Puigdemont

Por Redação

BARCELONA – O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, discursou hoje em sessão do Parlamento regional, na qual formalizou a vitória dos independentistas no referendo deste mês, mas pediu suspensão dos efeitos do processo de separação durante algumas semanas para que se abra uma via de diálogo com a Espanha. O lider catalão formalizou os resultados da consulta popular, que teve vitória esmagadora do “Sim”, apesar da adesão inferior a 50% do eleitorado. Ele disse que, com esse resultado, a Catalunha tem direito de se constituir como um Estado independente.

Manifestantes fazem protestos na Catalunha. Foto: reprodução

Como resultado do referendo, a Catalunha ganhou o direito de ser um Estado independente e ser ouvido. A lei do referendo diz que uma vez ganho o “Sim”, o Parlamento se reunirá para declarar a independência — defendeu Puigdemont. — As urnas dizem sim à Independência e este é o caminho que estou disposto a seguir. Assumo o mandato do povo para que a Catalunha se convirta em um Estado independente em forma de República.

Em seu discurso, o líder catalão defendeu que há consenso na Catalunha sobre a necessidade de decidir seu futuro através de um referendo. Segundo ele, a pesquisa mais recente de um jornal madrilenho informa que 82% da população catalã têm esse desejo. Puigdemont disse que as exigências da Catalunha sempre foram expressadas de forma pacífica, e o povo da Catalunha “pede há muitos anos a liberdade para poder decidir”.

‘NÃO ENCONTRAMOS INTERLOCUTORES’

No entanto, ele destaca que “não encontramos interlocutores no passado, nem encontramos agora”, denunciando a dificuldade de diálogo com o governo central da Espanha. Ele disse que os catalães estão angustiados, mas enfatizou que não têm “nada contra Espanha e os espanhóis, ao contrário, queremos nos entender melhor”.

— Durante este período, milhões de cidadãos chegaram à conclusão racional de que a única forma de manter o autogoverno é que a Catalunha se constitua um Estado. As últimas eleições ao Parlamento (regional) são provas disso — disse Puigdemont. — Por isso, colocaram todas as iniciativas em Madri, pediram diálogo de todos os formatos para celebrar um referendo como oque se celebrou na Escócia, onde ambas as partes se comprometeram a respeitar o resultado. Por que não se pode fazer também na Espanha? A resposta foi uma negação absoluta e uma perseguição policial e judicial absoluta — afirmou, criticando as prisões de autoridades catalãs nas semanas anteriores ao referendo.

Ele denunciou a violência usada pelas forças de segurança espanholas no dia do referendo, quando mais de 800 pessoas ficaram feridas em confrontos com a Polícia e Guarda Nacional. Puigdemont disse que mais de duas milhões de pessoas venceram o medo.

— O objetivo não era apenas confiscar urnas e cédulas, mas sim provocar o pânico para que as pessoas renunciassem a seus direitos de votos.

O presidente catalão defendeu que a única forma de avançar é através da democracia e da paz, e disse que é importante “desescalar a tensão e não contribuir para aumentá-la com palavras ou ações.

— Compareço a essa sessão própria para analisar a situação política para lhes explicar as consequências políticas que se derivam do 1º de outubro. Estou consciente que também compareço diante do povo da Catalunha e muitas outras pessoas. Vivemos um momento excepcional, seus efeitos vão muito além de nosso país. Longe de ser um assunto interno, a Catalunha é um assunto europeu — destacou o líder. — Nosso governo não se afastará da democracia, da tolerância e do respeito.

Antes do pronunciamento, o porta-voz do governo espanhol havia pedido a Puigdemont para “não fazer nada irreversível”. “Quero pedir ao senhor Puigdemont que não faça nada irreversível, que não siga nenhum caminho que não tenha volta, que não leve a cabo nenhuma declaração unilateral de independência, que volte à legalidade”, disse Íñigo Méndez de Vigo.

A Assembleia Nacional Catalã, ONG que luta pela independência da região, havia convocado partidários da separação para que se concentrassem em frente à sede do Legislativo visando garantir que a declaração unilateral ocorresse. Nesta manhã, a polícia fechou ao público o Parque de la Ciutadella, onde fica o Parlamento regional da Catalunha, como medida de segurança.

No plebiscito do dia 1º, segundo os resultados divulgados pelo governo Catalão, 2,02 milhões de pessoas votaram a favor da independência – 90% dos 2,2 milhões dos votos. O “não” teve o respaldo de 166,5 mil eleitores. Isto quer dizer que 41,5% dos 5,3 milhões de eleitores foram às urnas. Houve denúncias de que eleitores votaram mais de uma vez, por falta de controles.

Da Redação com informações das Agências AFP, G1 e Estadão

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here