Dr. Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg*

Nove unidades de saúde do Distrito Federal detêm o título de “Amigo da Criança”, entre elas está o Hospital Regional do Gama (HRG), que no auge da sazonalidade das doenças respiratórias, que tanto atingem as crianças, teve o serviço de Pronto Atendimento Infantil (PAI), fechado. É mais um capítulo de uma novela que envolve o HRG e o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e se arrasta há anos.

Em 2014, fecharam a pediatria em Santa Maria para concentrar o atendimento no Gama – não deu certo. No final de 2016, foi o Gama que ficou sem o serviço, o qual foi reativado, após uma reforma que custou R$ 150 mil, em março de 2017. Um mês depois, já não havia médico suficiente para que o serviço continuasse funcionando.

O resultado é que a população das duas cidades e os usuários do Entorno são mal atendidos. Faltam pediatras? Não. A publicação Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina de 2018 mostra que o DF chegou ao final do ano passado com 1.508 pediatras, contra 1.347 que existiam em 2014 – um aumento de 10%.

Na rede pública de saúde, o movimento é inverso: em abril de 2014, eram 684 – que já eram insuficientes. Em fevereiro deste ano, a quantidade desses especialistas era de 587. Ou seja, 97 menos pediatras em três anos de governo. Esses números mostram que existem pediatras no mercado de trabalho, mas o governo não quer ou não consegue contratar.

Houve contratações no período? Sim, mais da metade dos médicos contratados de 2015 ao início deste ano não ficaram. Por que não ficaram? Por falta de condições adequadas para prestar atendimento (medicamentos, equipamentos, exames, leitos, até cadeira falta), sobrecarga de trabalho e por insegurança nas unidades de saúde. Desesperados, cansados e se sentindo abandonados pelo Estado, os usuários da saúde pública se revoltam e, às vezes, perdem a cabeça.

Do lado dos direitos do trabalhador tem mais: no atual governo, tem havido cortes e diminuição de gratificações, atraso de meses no pagamento de horas extras, apropriação do dinheiro das aposentadorias e muita reclamação de assédio moral do trabalho. Quem quer um patrão que, além de não dar condição de trabalho, ainda dificulta a vida financeira do empregado?

Enquanto permanecer essa péssima relação entre o governo e os servidores e não se fizer contratação em quantidade que permita uma melhor divisão do trabalho, com os meios para o exercício profissional com dignidade, a situação vai continuar. Mesmo com um mercado onde já não há tantas vagas na iniciativa privada, as vagas do serviço público continuarão sem ser preenchidas.

As condições salariais para permitir a renovação do quadro de médicos a Secretaria de Saúde foram estabelecidas em 2013, num acordo firmado entre o Sindicato dos Médicos e o governo, que a atual gestão desrespeitou. O que não se teve foi vontade política e competência para fazer o resgate da saúde pública.

*Dr. Gutemberg – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília e Presidente do SindMédico-DF. Colunista semanal do Agenda Capital.

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