Por *Miguel Lucena

Evo Morales e todos os que se dizem “revolucionários” usam a democracia para exterminá-la. Após a tomada do poder, ironizam quem cai na asneira de defender a liberdade de expressão, como fez Wladimir Lênin ao dizer que os capitalistas chamam ‘liberdade’ à liberdade dos ricos de enriquecer e à dos operários para morrer de fome. Os capitalistas chamam liberdade de imprensa à compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública” (Teses e relatório sobre a democracia burguesa e a ditadura do proletariado).

Li em um livro de Lênin que me foi emprestado por Walter Dantas, ex-líder estudantil da Paraíba, que a liberdade de imprensa “é também uma das principais palavras de ordem da ‘democracia pura’. Os operários sabem e os socialistas de todos os países reconheceram-no milhares de vezes que esta liberdade é um engano enquanto as melhores impressoras e os estoques de papel forem açambarcados pelos capitalistas, e enquanto subsistir o poder do capital sobre a imprensa”.

O líder maior de todos os revolucionários, pois foi quem comandou a implantação do socialismo na prática, usando qualquer meio para a consecução do fim almejado,  destacou que os comunistas deviam lembrar-se de que falar a verdade era um “preconceito pequeno-burguês”, acrescentando que no processo da revolução se fazia necessário empregar todos os estratagemas, ardis e processos ilegais, silenciar e ocultar a verdade.

Na obra O Estado e a Revolução, Lênin trata a democracia não como um fim, mas como uma etapa no caminho que vai do feudalismo ao capitalismo e deste ao comunismo.

Ele entende que não há moral na política, apenas conveniência. “Um canalha pode nos ser útil apenas por ser um canalha”, exemplificou.

O líder comunista prega, depois de assumir o poder, que a liberdade é tão preciosa que deve ser racionada. “Aquele que fala agora em liberdade de imprensa retrocede e impede nossa corrida impetuosa ao socialismo”, arremata.

Segundo Lênin, o Estado não é algo definitivo que promove eleições para representar a vontade coletiva, escolhida democraticamente. “Na verdade, o Estado é algo que precisa ser abolido, no entanto, não de uma só vez. O Estado enquanto uma arma da burguesia precisa ser destruído, mas é necessário mantê-lo como arma do proletariado, e é por conta disso que a visão marxista do Estado tem uma noção de ´definhamento do Estado´”.

Assinala que o Estado morre por ser, pela primeira vez, uma arma da maioria (o proletariado é maioria em comparação com os patrões). Melhor ainda, ele morre por não precisar suprimir uma parcela majoritária da sociedade e, por último, ele morre por não ser mais sustentado pela separação de três poderes.

“A divisão do legislativo e executivo cria um parlamento bobo: uma conversa de comadres. Separa a ação do pensamento e reproduz a velha oposição entre matéria e espírito. Um parlamento proletário não é o local da divisão de poderes e da deliberação inútil, mas é o local de deliberação em que, no fim, os próprios legisladores executarão e avaliarão criticamente a lei”, sustenta.

Portanto, ilude-se com os bolivarianos quem quer. Para eles, a democracia é apenas um meio para atingir seus objetivos, que é a supressão das liberdades e a implantação de um regime que, em nome dos explorados e oprimidos, deixou no caminho um rastro de mortes e destruição.

*Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Agenda Capital

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