Henrique Meirelles e Michel Temer. Foto: Reprodução

Com metade da bancada na Câmara e redução no Senado, poder da sigla desaba

Por Thais Bilenky

No olho do furacão que varreu a política tradicional das urnas, o MDB foi o partido que mais perdeu cadeiras na Câmara dos Deputados, encolheu no Senado e, regionalmente, viu clãs que protagonizaram a vida política das últimas décadas sofrerem derrotas fragorosas.

O candidato emedebista à Presidência, Henrique Meirelles, amargou o sétimo lugar, com 1,2% dos votos. E o presidente Michel Temer, o mais impopular da história recente, tornou-se artigo tóxico na prateleira política.

Entre as maiores bancadas eleitas no Congresso nas últimas três décadas e com posição privilegiada nas negociações com o governo de turno, o MDB começará 2019 com poder reduzido.

Alguns dos principais articuladores não ocuparão palácios nem tribunas, no que depender do sufrágio universal.

Na Câmara dos Deputados, cujas cadeiras significam acesso a fundo partidário e tempo de televisão, a bancada emedebista encolheu de 66 eleitos em 2014 para 34 no domingo passado (7).

No Senado, o MDB continua com com o maior número de cadeiras, mas perdeu 7 e ocupará 12 a partir de 2019.

Perderam seus assentos no Senado Romero Jucá, de Roraima, depois de 24 anos de mandatos, e Eunício Oliveira, presidente da Casa.

A família Sarney não conseguiu vagas no Congresso nem no governo do Maranhão. Na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima permanece preso e seu irmão Lúcio não obteve votos suficientes para mais um mandato na Câmara dos Deputados.

No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves não se reelegeu senador nem Valdir Raupp em Rondônia —sua mulher, Marinha, tampouco renovou o mandato de deputada federal.

Em São Paulo, Paulo Skaf perdeu a disputa pelo governo e a senadora Marta Suplicy retirou-se da vida pública.

José Maranhão perdeu no primeiro turno o governo da Paraíba. E, lá do Paraná, Roberto Requião não voltará ao Senado, depois de dois mandatos na Casa e três como governador do estado.

O Rio de Janeiro, um cluster emedebista, tornou-se case de corrupção. Estão presos os maiores caciques do partido e do estado. Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e Jorge Picciani ainda por cima fracassaram na tentativa de eleger os filhos deputados, mesmo privilegiando os recursos públicos para suas campanhas.

“O MDB e todos os outros partidos tradicionais, para se reconstruírem, vão ter que de deixar de lado essas figuras”, disse o veterano emedebista Pedro Simon. “Elas acabaram porque foram cassadas, estão na cadeia ou vão para  a cadeia. O povo está saciado.”

Com um mandato de governador do Rio Grande do Sul e quatro mandatos no Senado no currículo, o primeiro deles iniciado na ditadura militar, Simon quer o resgaste do partido de Ulysses Guimarães.

“O velho PMDB teve desempenho espetacular na redemocratização, na figura do doutor Ulysses e todos que lutaram contra o fim da tortura e do autoritarismo”, lembrou.

“Os partidos há muito tempo não conseguem reunir pessoas em torno de ideias comuns e defendê-las nas mais variadas posições”, observou.

“O MDB pagou o preço da situação de participar de todos os governos sem ter filosofia própria.”
Depois de cinco governos e meio na situação, ao voltar à cadeira presidencial, o MDB vê ruir sua capilaridade.

“Eles não puderam usar o poder para fazer benesses ”, disse o cientista político Fernando Guarnieri, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp-Uerj). “Ao contrário, colhem o ônus do acordo de austeridade que fizeram. É o preço que pagam por isso e por estar no centro de esquemas de corrupção.”

As atenções agora se voltam para Pará, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, onde emedebistas estão no segundo turno nas disputas aos governos.

Exceção, o clã Barbalho teve bom desempenho nas urnas. Jader se reelegeu senador e Helder está no segundo turno na corrida pelo governo paraense.

Igualmente bem sucedidos foram os Calheiros, em Alagoas. Renan pai e filho se reelegeram no Senado e no governo estadual, respectivamente.

Guarnieri diz ser precipitado decretar o começo do fim do MDB. Ele lembra que previsões similares foram dirigidas ao antigo PFL, hoje DEM, que chegou a fazer a maior bancada da Câmara, com 105 deputados em 1998, depois caiu a 21 em 2014 e ensaia uma reação. No domingo passado, fez 29.

“Nas eleições nos estados,  o MDB, assim como o PSDB, mantêm alguma força e, mesmo tendo perdido muitas, continuam com número razoável de cadeiras na Câmara”, constatou. “Mas que houve uma implosão da centro-direita, houve.”

Com a disparada do PSL, de Jair Bolsonaro, que saltou de 1 para 52 deputados federais, notou, as tradicionais legendas de direita perderam votos.

O cenário, contudo, pode voltar à configuração anterior, atentou Guarnieri. “Vai depender do desempenho dos que ganharam as cadeiras no Congresso e nos estados.”

Da Redação com informações da Folha

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