
Em vídeo publicado em suas redes sociais, o pastor pop André Valadão defendeu a prática, dizendo que o espaço não é para “privilegiar”, mas para “preservar”
Por Delmo Menezes
Nos últimos dias, a polêmica sobre a existência de áreas VIP em algumas igrejas voltou a ganhar destaque nas redes sociais, especialmente após declarações do pastor e cantor gospel André Valadão. A repercussão se deu após internautas comentarem a prática adotada em unidades da Igreja Batista da Lagoinha, como a de Orlando (EUA) e a de Alphaville (SP), conhecidas por atrair celebridades e figuras públicas.
De acordo com reportagem do UOL, essas igrejas possuem setores reservados para personalidades que buscam mais discrição durante os cultos, evitando assédio, fotos ou abordagens invasivas. Em Orlando, a separação é sutil — com pequenas delimitações no corredor. Já em Alphaville, o tratamento diferenciado parece ser mais explícito, incluindo entradas exclusivas e até estacionamento especial.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, Valadão defendeu a prática, dizendo que o espaço não é para “privilegiar”, mas para “preservar”. Segundo ele, muitas figuras públicas não conseguem viver uma vida comum e, por isso, precisam de um ambiente onde possam cultuar com mais tranquilidade. “Agradeça a Deus se você pode ir à igreja e se sentar onde quiser sem ser filmado, fotografado, assediado ou até mesmo ameaçado”, disse o pastor.
Contudo, a justificativa não é unânime entre líderes religiosos. O teólogo e pastor Rodrigo Quintã, da Primeira Igreja Batista de Campinas, criticou a prática, classificando-a como uma importação da lógica do mercado para dentro da igreja. Para ele, a criação de espaços exclusivos fere diretamente os princípios do Evangelho, que prega a igualdade entre todos os filhos de Deus. “Entre os filhos amados de Deus, não tem área VIP”, afirmou.
Quintã alerta ainda para o risco de a igreja se conformar aos padrões de status e distinção social que predominam no mundo exterior, quando deveria justamente representar uma alternativa baseada em comunhão, serviço e humildade. Segundo ele, ainda que seja possível organizar estruturas de acolhimento, isso jamais deveria se traduzir em divisões baseadas em fama, influência ou poder aquisitivo.
A questão levanta um debate profundo: até que ponto o acolhimento de celebridades e personalidades públicas pode justificar uma diferenciação dentro do templo? E mais: o que isso ensina, na prática, aos demais fiéis sobre o valor de cada pessoa diante de Deus?

Opinião
Como cristão e observador da realidade eclesiástica, considero que a existência de áreas VIP nas igrejas representa um dilema ético e teológico. É compreensível que figuras públicas enfrentem dificuldades em participar de cultos sem serem interrompidas, mas a solução não pode ser institucionalizar a separação entre “mais” e “menos importantes” dentro da Casa de Deus.
A igreja deveria ser um espaço onde todas as pessoas, independentemente de sua posição social, são acolhidas igualmente. Criar setores exclusivos, ainda que bem intencionados, pode acabar reforçando exatamente o oposto: a ideia de que há crentes de primeira e segunda classe.
Se o próprio Jesus, ao andar entre os pobres, os doentes e os rejeitados da sociedade, jamais exigiu tratamento especial, por que deveríamos oferecer isso a quem tem visibilidade? O verdadeiro Evangelho é subversivo: ele derruba os muros da distinção e nos reúne todos sob uma mesma graça.
Se for necessário proteger alguém, que seja com discrição, amor e respeito — nunca com barreiras visíveis que contradizem a comunhão. Afinal, no Reino de Deus, não há VIPs. Há filhos e filhas, todos igualmente amados.
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Da Redação do Agenda Capital