”Palpite” de Mourão sobre reforma ministerial e movimentação de assessor dele a favor do impeachment de Bolsonaro pioram a relação entre o vice e o chefe do Executivo. Com novos capítulos do mal-estar, aumentam as chances de os dois não formarem chapa em 2022

Por Augusto Fernandes 

A má relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão parece ter chegado ao ápice. Desde o início da semana trocando indiretas sobre qual deve ser a composição ministerial do governo, os dois ficaram ainda mais distantes depois de um assessor do general ter alertado o chefe de gabinete de um parlamentar sobre a possibilidade de o Congresso ter de começar a se preparar para analisar um pedido de impeachment contra o comandante do Palácio do Planalto.

Mourão tentou colocar panos quentes na situação ao exonerar o assessor envolvido no caso, Ricardo Roesch Morato Filho. Na quinta-feira, quando os diálogos de Ricardo foram revelados pelo site O Antagonista, o vice já havia se manifestado dizendo que “lealdade é uma virtude que não se negocia” e, ontem, reforçou o seu posicionamento.

“Lealdade é uma estrada de mão dupla. Ela é minha com meus subordinados, e deles comigo. Então, no momento em que isso é rompido, se rompe um elo que não dá mais para você trabalhar junto”, afirmou, em entrevista a jornalistas. “A partir daí, a pessoa que tinha um cargo de confiança perde a confiança para exercer esse cargo. Lamento isso aí.”

Segundo Mourão, o que aconteceu “foi uma situação lamentável”. “Em primeiro lugar, porque não concordo com processo de impeachment, não apoio isso. Acabou. Em segundo lugar, porque não é a forma como eu trabalho. Então, uma troca de mensagens imprudente gera um ruído totalmente desnecessário no momento que a gente está vivendo”, comentou o general.

Apesar das declarações à imprensa, até ontem, Mourão ainda não tinha abordado o tema com o presidente. Ele justificou que, como “é um problema da minha cozinha interna”, o caso já está “resolvido”. “Assunto encerrado”, enfatizou.

Na live de quinta-feira, Bolsonaro criticou Mourão por outro motivo: os comentários sobre reforma ministerial. O general antecipou que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está perto de ser exonerado. “Quem troca ministro é o presidente da República. O vice falou que eu estou para trocar o chefe do Itamaraty”, afirmou Bolsonaro, na transmissão. “O que nós menos precisamos é de palpiteiros na formação do meu ministério. E deixo bem claro: todos os meus 23 ministros eu que escolho e mais ninguém. Se alguém quiser escolher, que se candidate em 2022.”

Futuro

Os novos capítulos do mal-estar aumentam as chances de o presidente optar por concorrer à reeleição em 2022 sem o general como vice. Nos últimos meses, o chefe do Executivo já vinha sendo alertado, sobretudo por conselheiros mais ideológicos, que o vice parecia não mais se importar com os interesses do governo.

As ameaças de um “golpe” contra Bolsonaro acabaram reforçando o argumento. “Qualquer um que prestar atenção no comportamento de Mourão, nos últimos dias, verá que ele vem se posicionando como contraponto ao presidente”, frisou um interlocutor do mandatário, ao Blog do Vicente, do Correio.

O general, contudo, rechaçou qualquer interesse em tirar Bolsonaro da cadeira do Planalto. É o que afirmaram, reservadamente, pessoas mais próximas do vice. Ele admitiu, sim, insatisfação por não ter tanta importância para as tomadas de decisão do Executivo, mas deixou claro, assim como nas respostas que deu a jornalistas, que nunca será desleal ao presidente, mesmo que haja divergências entre os dois.

*Com informações do Correio 

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