Partidos de Centro apostam no desgaste de Lula e Bolsonaro. Foto: Reprodução

Por Marcelo de Moraes*

Mesmo ainda faltando três anos para a próxima disputa presidencial, a corrida sucessória já é intensa e duas movimentações recentes mexeram significativamente nesse tabuleiro político. A primeira ação foi a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cadeia, onde estava preso havia 580 dias. A segunda foi a saída de Jair Bolsonaro de seu partido, o PSL, para fundar um novo, a Aliança Pelo Brasil.

Com Lula solto –e novamente muito ativo politicamente– e Bolsonaro tentando ser dono da sua própria legenda formou-se um cenário propício para a volta da polarização entre essas duas forças nas próximas eleições. Mesmo inelegível por conta de suas condenações, Lula já reassumiu o comando da campanha petista contra Bolsonaro, independentemente de poder concorrer ou não. Já Bolsonaro também não esconde sua intenção de conquistar outro mandato em novo embate com um candidato petista, como fez com Fernando Haddad no ano passado.

Embora esse possa parecer um cenário lógico para a disputa pelo Planalto, em política sempre se diz que três anos equivalem a cem por causa de todas as reviravoltas que podem acontecer nesse período. E é com isso que as forças de centro contam para tentar colocar um pé firme nesse terreno da corrida presidencial.

Apesar de Lula e Bolsonaro já tentarem estabelecer a polarização para enfraquecer outros grupos, líderes de centro apostam que o desgaste político e a radicalização dos discursos e práticas dos dois podem abrir o caminho para o surgimento de uma força alternativa de estilo moderado. É com isso que contam players como o apresentador Luciano Huck, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC, este mais à direita), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que tentam se projetar nesse jogo.

Para não se expor antes da hora, os quatro não assumem a intenção de concorrer ao Planalto. Mas mostram suas credenciais todos os dias. Novato no cenário político e ainda sem filiação partidária, Huck traz a popularidade nacional garantida pela sua exposição na televisão e parece ter uma flexibilidade maior para formar futuras alianças tanto à direita quanto à esquerda. Mas precisará pagar o preço pela falta de horas de voo na política.

Mesmo tendo a simpatia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Huck andou escorregando em algumas cascas de bananas colocadas no seu caminho pelos adversários mais experientes. Mas tem o trunfo de ser conhecido nacionalmente. Só que ainda faltam a ele uma proposta de governo consistente e um lastro político que sustentem sua eventual candidatura.

João Doria tem uma estratégia diferente. Ele tem procurado se situar ao centro e pregado que o eleitor está cansado da radicalização. “A visão correta é a do Centro, com equilíbrio, com ponderação, com foco na gestão e no diálogo para evitar tensão”, avaliou ao BRPolítico. Mas o governador tucano quer evitar a repetição do erro que derrubou Geraldo Alckmin na disputa contra Bolsonaro. Ele sabe que seu eleitorado em potencial é o mesmo de Bolsonaro e, por isso, precisa mirar seus ataques na direção de Lula e do PT para assegurar a simpatia dos antipetistas, que ainda são muitos. Alckmin fez contrário, batendo em Bolsonaro, em vez de se fixar no PT.

Na prática, a estratégia de Doria precisará de três etapas. Na primeira, ele explicita a oposição a Lula e ao PT. Na segunda, ele tenta se mostrar como um candidato mais equilibrado, afastado de polêmicas, bom gestor e melhor para a economia do que Bolsonaro. Se conseguir passar por essa barreira, ele volta a mirar na disputa com o candidato do PT, seja ele quem for.

Rodrigo Maia e Witzel ainda são atores menores nesse enredo. O presidente da Câmara reconhece publicamente sua falta de popularidade, mas é adorado pelo mercado e comanda a maior força política do Congresso, o Centrão. Ainda precisa transformar isso em votos, o algo que hoje ainda não tem. Já Witzel ainda exerce apenas uma liderança regional e precisará ter uma habilidade gigantesca para conseguir viabilizar uma candidatura presidencial. Mas seus embates contra Bolsonaro já aumentaram muito de temperatura.

Dono da caneta. Embora esses grupos apostem no seu desgaste, Jair Bolsonaro ainda tem muitas cartas na manga para se manter com grande musculatura política e brigar pela reeleição. A maior delas é ser o dono da caneta do governo, o que lhe permite organizar uma administração com bons resultados.

Apesar de estar sempre envolvido em polêmicas – algumas incrivelmente exdrúxulas – Bolsonaro tem uma equipe econômica com potencial para entregar a retomada do crescimento do País. O principal nó é conseguir garantir a recuperação do nível de emprego. E já alguns setores que indicam a retomada de fôlego, como é o caso do ramo imobiliário, dos serviços e do varejo, embora a atividade industrial ainda esteja fraca e o agronegócio venha andando de lado.

Mas, como tem sido possível observar nesses primeiros dez meses de governo, a atração de Bolsonaro por polêmicas e desgastes parece ser inesgotável. A própria fundação da Aliança Pelo Brasil traz mais dúvidas do que soluções. Primeiro, o presidente precisará de uma gigantesca mobilização para conseguir botar o novo partido de pé a tempo de disputar as eleições municipais do próximo ano.

Depois, precisa arrumar argumentos jurídicos para que seu grupo de deputados aliados possa se transferir do PSL e de outras legendas sem perder o mandato por infidelidade partidária. Hoje, essa solução não existe. Se não conseguirem entrar na Aliança, esses deputados correm o risco de serem escanteados dentro do PSL ou até serem expulsos da legenda e ficarem num limbo político. É justamente nesse tipo de confusão incessante que outras forças apostam para poderem enfraquecer o presidente na disputa pela Presidência da República.

*Com informações do Estadão

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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