Dr. Gutemberg Fialho,, presidente do SindMédico-DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho*

A retomada de atividades não essenciais no Distrito Federal virou objeto de disputa judicial, ideológica e de bate-boca nas redes sociais. Reportagem do dia 6 de Julho, com o título “Taxa diária da Covid-19 cai nas últimas semanas, diz estudo da Codeplan”, é uma das informações em circulação que tem potencial de criar dúvida.

A disseminação do coronavírus entrou em declínio? A resposta e inequívoca: não. Continuamos em acelerado e preocupante processo de contaminação e de ocupação de leitos hospitalares.

Desde a semana de 7 a 13 de junho, quando foram registrados 6.119 casos no DF, pulamos para números de casos de cinco dígitos. Na semana subsequente àquela, foram registrados 10.279 novos diagnósticos. Na de 28/6 a 4/7, 12.994. As estimativas apontam que 80% não evoluíram além dos sintomas leves e que 5% desenvolveriam sintomas graves de síndrome respiratória aguda. Ou seja, cerca de 650 pessoas nessa última semana precisariam de internação hospitalar, talvez de leito em unidade de terapia intensiva (UTI).

Temos no DF, segundo dados da Sala de Situação da Secretaria de Saúde (SES-DF), 627 leitos de UTI públicos e 432 privados. A ocupação deles está, permanentemente acima de 70% na rede pública e é maior que 90% nos hospitais particulares. Além dos leitos, precisamos considerar os equipamentos de que o paciente vai precisar, os medicamentos que os profissionais de saúde vão ter de administrar, a quantidade desses profissionais e a de equipamentos de proteção de que vão necessitar para trabalhar.

Os estudos da Companhia de Planejamento do Distrito Federal são alguns dos documentos levados em conta pelo governo para justificar a flexibilização das atividades. Em reportagem de 1º/6, o Correio Braziliense apontou que a Codeplan fez uma projeção de 25.751 diagnósticos positivos e 659 óbitos por Covid-19 até 23 de junho. Considerados só residentes no DF, na data prevista, o número de infectados foi de 31.457 e o de óbitos foi de 432. Considerados os não residentes no DF, foram 35.368 e o total de óbitos foi de 475.

No dia 16 de junho, foi a vez do Jornal de Brasília estampar a manchete: “Codeplan prevê 56 mil casos de Covid-19 no DF até 14 de julho”.

No boletim epidemiológico de 8 de julho, foram registrados 57.387 casos nativos e 64.314 quando incluídos os não residentes. O índice de isolamento social e a quantidade de testes realizados vão afetar os resultados das previsões, e isso a própria Codeplan reconhece.

As projeções matemáticas ferramentas para planejar medidas, mas a realidade do que está ocorrendo na ponta da assistência é que deve ser o fator determinante do passo a ser dado. E ninguém se engane: é indispensável manter o distanciamento e o isolamento social possível e aumentar a capacidade de resposta do sistema de saúde. Se isso, estamos condenados a ter um aumento descontrolado do número de mortes provocadas pelo novo coronavírus.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

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