Após demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos, Lula nomeia interinamente no cargo a ministra Esther Dweck.

Lula da Silva, ao comunicar a demissão, reconheceu o peso das acusações e afirmou que sua continuidade no cargo havia se tornado “insustentável”

Por Delmo Menezes

As recentes denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, mergulharam o governo em uma profunda crise. Almeida, que havia se tornado uma referência nas discussões sobre racismo estrutural, foi acusado de assediar diversas mulheres, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. A gravidade das denúncias resultou na sua demissão, anunciada oficialmente na noite de sexta-feira (6/9).

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ao comunicar a demissão, reconheceu o peso das acusações e afirmou que sua continuidade no cargo havia se tornado “insustentável”. Em um vídeo divulgado anteriormente, Almeida negou as acusações e declarou que estava sendo alvo de uma “perseguição”, mas sem detalhar quem seriam os responsáveis.

Crise nas pautas identitárias do governo

Para analistas políticos e especialistas em questões raciais e de gênero, este escândalo é especialmente danoso ao governo, pois afeta uma área considerada fundamental para a atual gestão: a defesa dos direitos das minorias e as pautas identitárias. O cientista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma, avaliou que a crise atinge duramente o governo Lula, pois a separação do antigo ministério dos Direitos Humanos em quatro pastas foi um movimento estratégico para fortalecer as pautas de igualdade racial, gênero, povos indígenas e mulheres.

“A escolha de Silvio Almeida e Anielle Franco para posições de destaque tinha um simbolismo muito forte. O Silvio, por seu papel intelectual na defesa do conceito de racismo estrutural, e Anielle, pela luta em busca de justiça pelo assassinato de sua irmã, Marielle Franco”, ressaltou Souza. “A denúncia de que ela teria sido vítima de assédio por Almeida é devastadora e levanta questões sobre o silêncio para proteger o governo”, acrescentou.

Denúncias crescentes e eeação pública

As primeiras denúncias públicas vieram à tona com a confirmação da organização Me Too Brasil e a revelação do portal Metrópoles. Na tarde de sexta-feira, a professora Isabel Rodrigues publicou um vídeo em suas redes sociais relatando que foi assediada por Almeida em 2019, quando ele teria tocado suas partes íntimas durante um evento social. Isabel foi a primeira pessoa a fazer uma acusação direta e com nome público.

O episódio gerou também uma reação imediata da senadora Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no governo Bolsonaro, que criticou a demora na ação: “Se algum outro ministro sabia e não denunciou, também é conivente com o assédio sexual. Inadmissível esse homem se manter na pasta”, afirmou em vídeo.

Impacto na gestão e na sociedade

Para além da crise interna no governo, as denúncias contra Silvio Almeida trazem implicações maiores para a sociedade, especialmente no que tange à ascensão social de pessoas negras em posições de destaque. Creomar de Souza alerta para o potencial impacto dessas acusações no avanço da representatividade: “Em um país racista, o erro de uma figura negra em uma posição de poder pode ser erroneamente atribuído a toda uma comunidade.”

O governo Lula agora enfrenta o desafio de gerenciar o impacto dessas denúncias, especialmente em um momento no qual pautas sociais e identitárias são centrais para sua base de apoio. A saída de Silvio Almeida, que simbolizava a luta contra o racismo estrutural, deixa um vácuo nas ações governamentais de proteção aos direitos humanos e de defesa das minorias.

Após a exoneração de Almeida e de uma reunião com o presidente Lula, Anielle Franco postou uma nota nas redes sociais em que afirma não ser “aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência”. Ela ainda comentou sobre a necessidade de reconhecer a gravidade do problema e agir rápido, ressaltando a “ação contundente do presidente Lula”. A ministra ainda agradeceu a manifestações de apoio que tem recebido e criticou a pressão que ela vinha sofrendo para falar sobre o assunto.

“Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência. Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada”, afirmou.  

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a ministra Esther Dweck para exercer interinamente o cargo de Ministra dos Direitos Humanos.

Esther Dweck assume interinamente Ministério dos Direitos Humanos

Após demitir Silvio Almeida do cargo de ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), em meio a denúncias de assédio sexual, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a ministra Esther Dweck para exercer interinamente o cargo. Ela vai acumular temporariamente a função com a de ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos até a definição de um novo titular para o MDHC, informou o Palácio do Planalto, em nota à imprensa distribuída na noite desta sexta-feira (6).

A Polícia Federal abriu investigação sobre o caso. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República também abriu procedimento preliminar para esclarecer os fatos.

Silvio Almeida estava à frente do ministério desde o início de janeiro de 2023. Advogado e professor universitário, ele se projetou como um dos mais importantes intelectuais brasileiros da atualidade ao publicar artigos e livros sobre direito, filosofia, economia política e, principalmente, relações raciais.

Siga o Agenda Capital no Instagram>https://www.instagram.com/agendacapitaloficial

Da Redação do Agenda Capital

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here