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“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais”. (Rubem Alves)

Por Reinaldo Polito*

Neste dia 15 de outubro comemoramos o dia do professor. Esta data foi determinada pelo decreto federal 52.692, assinado em 1963 pelo então presidente João Goulart. O dia escolhido para essa comemoração não foi por acaso, pois, já em 1827, na mesma data, no período do Primeiro Reinado, o ensino elementar no Brasil havia sido instituído por D. Pedro 1º. Esse fato importante, todavia, não foi motivo para que o dia do professor fosse comemorado.

Um século depois, em 1947, o educador Salomão Becker, tendo como base a instituição do ensino elementar no país, elegeu o dia 15 de outubro para que os professores pudessem se confraternizar e refletir a respeito de suas atividades. Como vemos, por um ou outro motivo, essa deveria ser mesmo a data dedicada para homenagearmos esses profissionais que têm a responsabilidade de formar crianças, jovens e adultos de todas as gerações.

Vai fazer 20 anos que frequento a Academia Paulista de Educação como Membro Titular. Há uns dez anos participo da diretoria dessa instituição. E durante três anos tive a honra de ser seu presidente. Em nossos encontros mensais, os mais importantes nomes da educação paulista e brasileira colocam sobre a mesa o tema que é o próprio motivo dos 50 anos de existência da academia: a educação.

Entre os assuntos debatidos nessas reuniões e nos seminários realizados, faziam e fazem parte das pautas: a reforma do ensino, as mudanças curriculares, a evasão escolar, as transformações tecnológicas no aprendizado, o processo de alfabetização e, como não poderia deixar de ser, a situação dos professores. Todas as discussões empreendidas para a melhoria do ensino passam obrigatoriamente pelo professor.

Professores desprestigiados e mal pagos

Nunca vi alguém dizer que os professores são bem remunerados, que são bem capacitados, que são considerados com respeito e admiração. Ao contrário, todos concordam que esses responsáveis pela formação da juventude que irá comandar os destinos do país nos próximos anos ganham mal, são despreparados e desconsiderados pela sociedade.

Entra ano, sai ano, entra governo, sai governo, e a situação não se altera. Por isso, não é difícil deduzir que nesse 15 de outubro, data em que se comemora o dia do professor, não há muito o que celebrar. Quando analisamos a situação desses mestres, podemos aproveitar a data para lamentar. Por esse motivo, quase ninguém mais quer ser professor. Em algumas matérias mais específicas, já encontramos déficit de profissionais capacitados para ministrar as aulas.

As escolas formam analfabetos funcionais

Quem não tem curso superior hoje está quase na mesma condição daqueles que não conseguiam terminar o curso primário há décadas. As faculdades despejam no mercado um número enorme de jovens formados sem terem aprendido quase nada sobre a área que abraçaram. O número de analfabetos funcionais é desesperador. Há professores que não ensinam e alunos que não aprendem.

Um plano nacional de salários para os professores esbarra também nas desigualdades regionais. Em muitas localidades as escolas estão sujeitas ao orçamento municipal, quase sempre ínfimo e insuficiente para remunerar bem esses profissionais. Há exceções aqui e ali, mas nada que possa ser levado em conta como regra geral.

Segundo o educador e empresário Mario Ghio Junior, em entrevista ao UOL, há pesquisa mostrando percentuais desanimadores. Quase ninguém mais deseja ser professor. A vontade de abraçar o magistério vai diminuindo à medida que os jovens se dão conta da realidade de quem se dedica a ensinar.

Pergunte aos jovens estudantes que profissão gostariam de abraçar quando crescerem. Se eles estiverem cursando o fundamental 1, as respostas serão auspiciosas: 70% deles dirão que gostariam de ser professores. Se, entretanto, estiverem cursando o fundamental 2, as respostas começam a ficar preocupantes, pois o percentual de quem gostaria de abraçar o magistério cai para 20%. Número excelente quando comparado com as respostas de quem está no ensino médio, já que nesse caso somente 2% pretendem lecionar. Os próprios professores desestimulam seus alunos a abraçar essa profissão.

Os motivos são bastante conhecidos. Como vimos, baixa remuneração, formação deficitária, lacunas enormes em atualização e aperfeiçoamento do conhecimento sem propostas de capacitação continuada e política educacional muitas vezes equivocada são alguns dos problemas que fazem parte de um cenário nada animador.

Os tempos são outros, as necessidades as mesmas

Infelizmente, a situação dos professores piorou muito nas últimas décadas. Na época em que fui estudante nos primeiros anos escolares, os professores ganhavam o suficiente para manter uma vida digna e eram tratados com respeito e consideração.

Em um evento oficial, a mesa de honra era composta pelas personalidades mais importantes da cidade, entre elas: prefeito, juiz de direito, gerente do Banco do Brasil, diretor de escola ou professor. Havia uma ou outra alteração, como tomar assento o tenente do Tiro de Guerra, o presidente da Câmara dos Vereadores, o promotor de Justiça, mas os representantes da educação estavam sempre presentes.

Alguns poderão argumentar: ah, você está tomando como referência para comparação uma época em que a população era muito menor, quando o país possuía menos de 70 milhões de habitantes e o analfabetismo era encarado até com certa naturalidade. Poucos, pouquíssimos eram aqueles que ingressavam nos cursos superiores. Hoje, temos mais de 200 milhões de habitantes, percentualmente um número menor de analfabetos e uma quantidade incontável de faculdades. E como resolver esse desafio?

Não vou mencionar aqui algum tipo de esperança para a melhoria da educação e das condições dos professores com o novo governo. Certamente esse é um anseio de todos e uma necessidade a ser tratada como fundamental. Por isso, se desejarmos ter o que comemorar na educação e na atividade dos professores, iniciativas até radicais precisam ser tomadas como plano de Estado, e não apenas como plano de governo.

Estamos acostumados a ver o nome do Brasil entre os últimos colocados em qualquer índice mundial que mede a qualidade da educação. Antes que esse quadro seja visto como condição natural, é preciso fazer essa revolução com outras políticas educacionais, melhores condições de trabalho, novos métodos na aprendizagem e ações que tenham como objetivo uma respeitável qualidade de ensino. Enfim, uma educação de excelência com profissionais dignos e respeitados.

Essa é a minha esperança. A palavra de quem está dentro das salas de aula há 44 anos das 8h30 até as 23h, inclusive nos finais de semana. Se houver uma luz de esperança, vamos comemorar esse dia.

Precisamos lembrar as palavras de Immanuel Kant: “O ser humano é aquilo que a educação faz dele”. Salve o professor, o profissional mais importante entre todas as atividades existentes no mundo.

*Com informações do UOL

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