Presidente afastada faz sua defesa no Senado e ataca o governo interino de Michel Temer; fala da petista é contestada e não muda cenário desfavorável na Casa
Ao se defender no plenário do Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff reiterou nesta segunda-feira a versão de que o processo de impeachment é um “golpe na Constituição” que “resultará na eleição indireta de um governo usurpador”.
Em seu pronunciamento de cerca de 45 minutos e em respostas aos senadores, a petista negou ter cometido crime de responsabilidade e atacou a gestão interina de Michel Temer. Considerada a última cartada para tentar impedir a condenação, a presença de Dilma no Senado não serviu para reverter votos favoráveis ao impeachment, como admitiram aliados, ou conquistar apoios de indecisos na votação final – prevista para ocorrer nesta terça-feira e terminar na madrugada de quarta-feira. Ciente das dificuldades, a defesa da petista já prepara um recurso ao Supremo Tribunal Federal caso o Senado confirme o afastamento definitivo.
Dilma fez um discurso sereno, mas embargou a voz ao citar as torturas sofridas na ditadura militar e a superação de um câncer. “Hoje eu só temo a morte da democracia”, afirmou.
Ao longo do dia, porém, em suas falas, senadores pró-impeachment contestaram a tese do golpe, rebateram dados econômicos usados pela presidente afastada e reafirmaram a responsabilidade dela nas chamadas pedaladas fiscais. O senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) disse que a petista cometeu crimes de responsabilidade “de caso pensado” e questionou: “Como golpe? Golpe com a supervisão do Supremo Tribunal Federal? Golpe quando a senhora vem exercendo todo o seu direito de defesa?”
Manifestações pró-Dilma ocorreram em São Paulo, Brasília, no Rio e em Porto Alegre. Em SP, a Polícia Militar e manifestantes entraram em confronto durante o protesto na Avenida Paulista.
Sem mudança. Eram poucos, nesta segunda-feira, os senadores que levantavam a possibilidade de serem influenciados pelas declarações de Dilma. Jader Barbalho (PMDB-PA), que havia anunciado apoio ao impeachment, disse ontem que aguardaria o interrogatório dela para decidir seu voto. A base de Michel Temer, porém, dá como certo o apoio do peemedebista – seu filho, Helder Barbalho (PMDB-PA), foi nomeado ministro de Minas e Energia pelo presidente em exercício.
Congressistas que anunciaram sua posição durante a oitiva ou se diziam indecisos afirmavam que a fala de Dilma tem pouco impacto na decisão, uma vez que ela repetiu informações já divulgadas por sua defesa.
Na reta final do processo, vários senadores ainda negociavam cargos com o governo Temer. Os apoiadores da presidente afastada ofereceram alianças nas eleições municipais deste ano e até espaços na administração federal a alguns senadores, caso ela seja reconduzida ao Planalto. Porém, não escondiam as dificuldades de mudar o quadro pró-impeachment. “Está muito difícil reverter”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que participa das tratativas para atrair apoios à petista.
Otto Alencar (PSD), da bancada baiana, ainda não havia manifestado sua intenção e afirmou ontem que será contra o afastamento definitivo da petista, mas não pelo que ouviu dela no plenário. “Foi porque li todos os autos. Não há crime de responsabilidade”, disse. Para o senador, caso Dilma seja cassada, o principal motivo não serão as fraudes fiscais das quais é acusada, “será pelos erros políticos que cometeu”.
O governo Temer e aliados dele no Congresso montaram uma ofensiva na reta final a fim de consolidar um placar favorável ao impeachment. No caso do senador Roberto Rocha (PSB-MA), um importante cargo federal na Região Nordeste entrou nas negociações, afirmou uma fonte ao Estado.
Já os senadores pelo Maranhão Edison Lobão e João Alberto Souza, ambos peemedebistas, receberam a sinalização da cúpula partidária de que poderão ter o apoio da legenda na reeleição de 2018 – os dois temem, nos bastidores, que percam a vaga para a ex-governadora Roseana Sarney (MA).
Da Redação com informações do Estadão