Ingrid Barth é a presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), sendo a primeira mulher no cargo Foto: Werther Santana/Estadão.

Em movimento raro no setor, carta aberta pede medidas contra abusos na área de tecnologia do País

Por Guilherme Guerra

Em movimento raro, pessoas empreendedoras de startups vieram a público nesta quinta-feira, 23, denunciar práticas de assédio sexual, moral, étnico e social no ecossistema de inovação do Brasil, segundo carta aberta divulgada ontem ao final da noite e endereçada à Associação Brasileira de Startups (ABStartups), entidade que reúne mais de 6 mil membros do setor. O material pode ser encontrado neste link.

O texto critica a tolerância com ações e comportamentos tidos como inaceitáveis nos últimos anos, sem detalhar episódios ou apontar culpados. Informalmente, porém, pessoas em redes sociais apontam que investidores e outros financiadores de startups chantageiam mulheres empreendedoras em troca de investimento como prática recorrente no ecossistema.

Além disso, o material exige que sejam tomadas medidas para inibir essas práticas no futuro.

“Estamos convencidos de que é hora de enfrentar e eliminar tais comportamentos, fomentando um ambiente mais inclusivo e respeitoso para todas as pessoas”, diz a carta. “O assédio compromete o bem-estar físico e emocional das vítimas, limita oportunidades e inibe a criatividade e a inovação em nosso setor.”

Entre as medidas exigidas pelos signatários estão a criação de um comitê “independente, isonômico, amplo e transparente” para a criação de políticas de prevenção e combate ao assédio; e de mecanismos de denúncia e apoio às vítimas, bem como a responsabilização das pessoas assediadoras.

Além disso, a carta pede que a Associação Brasileira de Startups promova a propagação do respeito, da inclusão e da diversidade na cultura organizacional das startups do País, bem como desenvolva formas de capacitação e promoção sobre questões relacionadas ao assédio e diversidade.

Por fim, os signatários exigem que as entidades do setor façam a identificação das pessoas assediadoras, “assegurando a aplicação das consequências apropriadas, independente do status ou posição” dos criminosos.

Sem apontar o nome dos signatários, a mensagem afirma que se trata de indivíduos “que se sentem representados por estes anseios, independente de sermos ou não associados à ABStartups.” Até a publicação desta reportagem, havia mais de 800 assinaturas firmadas.

Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira de Startups diz que “já está ciente da carta aberta”, enviada ontem, e que está “preparando sua manifestação para que ocorra em breve.” Este texto será atualizado quando houver posicionamento da organização.

Em janeiro deste ano, a empreendedora Ingrid Barth tomou posse como a primeira mulher a presidir a Associação.

Conscientização e rede de apoio

A iniciativa da carta surgiu a partir de conversas em grupos de empreendedores homens e mulheres nas redes sociais e plataformas de comunicação nos últimos meses. Com a divulgação do material, os autores esperam que o ecossistema de startups do Brasil promova a conscientização e inicie a criação de grupos de apoio às vítimas.

“Essa carta é um basta, é um levante. Pedimos que a Associação se posicione e estamos reunindo pessoas voluntárias para dar apoio jurídico às vítimas”, diz Ana Addobbati, empreendedora da organização Livre de Assédio, que ajuda na articulação do movimento.

Segundo Ana, neste momento, “não é estratégico” que as vítimas venham a público apontar quem são os assediadores, até que haja segurança para serem realizadas as denúncias. “Quem depende desse ecossistema está com medo, obviamente”, diz, citando casos em que as vítimas foram coagidas a abandonar denúncias por receio de represálias nos últimos anos.

O advogado e consultor empresarial Marcus Maida, um dos autores da carta, afirma que, desde a divulgação do material na quarta-feira à noite, dezenas de outras pessoas procuraram os organizadores para contar episódios de assédio no ecossistema. “São cerca de 50 casos em todo o Brasil até agora”, diz. “É um número muito maior do que imaginávamos.”

Para ele, a carta deve forçar com que a ABStartups e seus mantenedores proponham medidas efetivas para combater esses casos. “Até agora, não existem ações concretas”, critica Maida. “Pessoas muito boas são limadas do ecossistema por conta desse tipo de situação. É impossível inovar onde não é saudável.”

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Com informações do Estadão

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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