Divino Valero, subsecretário de Vigilância em Saúde do DF. Foto: Delmo Menezes / Agenda Capital

“Enquanto não houver vacina, o elo mais sensível desse processo continua sendo o combate ao mosquito” (Divino Valero)

Por Delmo Menezes

Em entrevista exclusiva concedida ao Agenda Capital nesta sexta-feira (14/06), o subsecretário de Vigilância em Saúde do DF (SVS), Divino Valero, fala sobre saúde pública, processos de trabalho, e a dengue que se alastrou no Distrito Federal.

Divino Valero é servidor de carreira do Ministério da Saúde há 35 anos, sanitarista e biólogo, com especialização em saúde pública. Foi coordenador nacional do Programa de Dengue, Zika, Chikungunya e MaláriaNo Distrito Federal, atuou como Secretário de Ciências e Tecnologia, Secretário do Trabalho e Secretário do Entorno do DF.

De acordo com o especialista, “enquanto não houver vacina, o elo mais sensível desse processo continua sendo o combate ao mosquito”, disse Divino.

Nesta entrevista o subsecretário da SVS fala sobre a importância da participação do governo, sociedade civil e sociedade organizada, para o enfrentamento do vetor.

Leia a íntegra da entrevista:

AC – O que ocasionou a ‘explosão’ do número de casos de dengue no Distrito Federal?

Divino – O aumento do número de casos é multifatorial. Primeiro, é importante dizer que a dengue é uma doença endêmica (doença que se manifesta apenas numa determinada região). O que faz com que esta doença se torne epidêmica (grande desequilíbrio do agente transmissor da doença), são vários fatores, como por exemplo: Aumento considerável de chuva numa região; processo de locomoção para outras regiões onde está ocorrendo o processo epidêmico; fator climático; circulação viral; a susceptibilidade da população ao outro tipo de vírus, como é o caso do vírus DEN 2; e mais um conjunto de fatores biológicos naturais e comportamentais que levaram o aumento do número de casos de dengue no DF.

AC – Quando serão desmontadas as tendas de hidratação no DF?

Divino – Importante dizer que não há uma previsibilidade matemática. O trabalho que a Secretaria de Saúde do DF vem desenvolvendo, é prestar qualidade e velocidade na assistência ao paciente. É esse olhar crítico. Estas tendas só serão desmontadas, assim que parar de surgir novos casos de dengue no Distrito Federal. Enquanto nós tivermos demandas, as tendas deverão continuar. Essa inclusive é uma determinação do governador Ibaneis Rocha.

AC – O senhor é um profundo conhecedor do Aedes Aegypt e foi por muito anos coordenador nacional do programa da Dengue, Zika, Chikungunya e Malária do Ministério da Saúde. Tem como prevenir a doença?

Divino – Não existe no mundo nenhum modelo preditivo capaz de dizer onde, quando e como essas doenças vão ocorrer. O que estamos trabalhando são processos de conscientização, aumento da participação da população efetiva se envolvendo cada vez mais na vigilância, no controle do seu próprio domicílio, e por parte do governo e gestores, uma leitura clássica ferramental, capacitando o pessoal da área técnica, através  de processos, aquisições e preparações de materiais, para que não sejamos pegos de surpresa em qualquer momento do ano. O estado tem que ter capacidade de resposta instalada. O que nós estamos fazendo, é que haja um nível de comprometimento cada vez maior para nos prepararmos para eventuais processos epidêmicos. Enquanto não houver vacina, o elo mais sensível desse processo continua sendo o combate ao mosquito.

AC – Qual foi a sua primeira ação depois que assumiu a Subsecretaria de Vigilância em Saúde do DF?

Divino – Foi verificar os processos e procedimentos operacionais recomendados e aprovadas pela Organização Mundial de Saúde – OMS e pelo Ministério da Saúde, para serem executados em campo, e assim diminuir o índice de casos no Distrito Federal. Um exemplo foi a liberação do Fumacê de imediato para o combate ao vetor e diminuir o número de casos no DF. Importante ressaltar, que já diminuímos em mais de 45% a incidência de novos casos em 10 dias.

AC – Recentemente na nova reestruturação do Ministério da Saúde foi criada a Secretaria de Atenção Primária. Na sua opinião, a criação desta Secretaria no DF seria importante para prevenir doenças tropicais que antes já estavam erradicadas?

Divino – É fundamental a criação desta Secretaria que mostra inclusive uma alteração de padrão de comportamentos e de ações que devem ser adotadas, em função destas doenças que até então eram dadas como erradicadas e que agora estão retornando. Não diria só dengue. Tem também o sarampo, meningite a malária. Então a Atenção Primária e atenção na Vigilância associado a um plano de resposta, com a visualização de imediato na assistência à população, é fundamental para a erradicação dessas doenças.

AC – O senhor assumiu recentemente a Subsecretaria de Vigilância em Saúde do DF a convite do governador. Quais são os maiores desafios que tem pela frente?

Divino – Regularizar e sistematizar o sistema de saúde como um todo, alinhado com a filosofia do SUS e darmos praticidade e velocidade nestas respostas para melhorar cada vez mais o atendimento à população, diminuindo assim a angústia e a expectativa de quem está na fila, aguardando esta atenção e recepção por parte dos gestores públicos.

Divino Valero, subsecretário da SVS. Foto: Delmo Menezes / Agenda Capital

AC – No seu currículo consta que já atuou no DF em vários cargos de gestão, como secretário do trabalho, secretário de ciência e tecnologia, secretário do entorno. Dá para reverter o quadro em que se encontra a saúde pública no DF?

Divino – Claro que dá. O secretário Osnei tem se empenhado nisso com o apoio direto do governador e do vice-governador. É como eu disse anteriormente. Temos que identificar onde está o problema. Como diria Mário Testa (pai do planejamento), é vermos o que nós temos na secretaria, qual é a estrutura, o que não está funcionando a contento, e fazermos uma revalidação de processos e procedimentos junto com o material humano disponível, dentro desta realidade que é o Distrito Federal e o Entorno de Brasília. Assim podemos analisar qual é o verdadeiro problema e de que forma iremos suprir, seja na área do investimento, área da inovação, da implementação, seja nas condições de buscar novos mecanismos e procedimentos.

AC – Os recursos que vem do Ministério da Saúde para a Subsecretaria de Vigilância em Saúde, são suficientes?

Divino – Na verdade esta discussão é até um pouco mais profunda. Os recursos e os repasses principalmente pela fonte 138, há muito carece de um reajuste. Brasília até o ano 2000 tinha uma expectativa de 500 mil habitantes. Hoje o DF e Entorno, chega a quase 5 milhões de habitantes. É preciso se identificar o que nós pretendemos, e qual é nossa demanda real para podermos pactuar novas metas e novas ações, garantido não só a questão da assistência, mas melhorando sensivelmente a Vigilância. Então é preciso se rediscutir esses valores, a forma e o modelo de como aplicá-los.

AC – Como morador de Brasília e servidor de carreira do Ministério da Saúde há mais de 35 anos, o senhor deve conhecer bem a rede pública de saúde do DF. Isso ajuda no seu trabalho à frente da Subsecretaria de Vigilância em Saúde?

Divino – Sem dúvida contribui bastante, porque a gente consegue aliar não somente o conhecimento técnico científico, como também a prática, e a vivência na cidade que moramos. Os problemas que temos aqui no DF, as peculiaridades por conhecer o território como um todo, tudo isso ajuda numa análise epidemiológica e progressista, até para nós podermos discutir qual futuro queremos para nossa cidade.

Da Redação do Agenda Capital

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