Novas classificações e a maior conscientização sobre o tema têm ajudado a identificar o transtorno cada vez mais cedo

Cerca de 1 em cada 36 crianças foi identificada com transtorno do espectro do autismo, de acordo com estimativas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos

Por Redação

O transtorno do espectro autista (TEA) reúne diferentes condições marcadas por alterações no desenvolvimento neurológico relacionadas a dificuldades de relacionamento social.

Cerca de 1 em cada 36 crianças foi identificada com transtorno do espectro do autismo, de acordo com estimativas da Rede de Monitoramento de Deficiências de Autismo e Desenvolvimento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. No Brasil, não existem dados oficiais, mas estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas tenham autismo.

Embora a classificação do TEA tenha evoluído nos últimos anos e os diagnósticos estejam acontecendo de forma cada vez mais precoce, mais estudos são necessários para ampliar o conhecimento sobre os diferentes graus da condição e permitir tratamentos mais individualizados e efetivos. É o que mostra um estudo de revisão desenvolvido no Instituto Butantan e publicado no Journal of Neurology Research.

Coordenado pelo pesquisador Ivo Lebrun, do Laboratório de Bioquímica e Biofísica, e conduzido por sua aluna de doutorado Nádia Isaac da Silva, o artigo traça um panorama da história do autismo. Casos hoje reconhecidos como TEA vêm sendo estudados desde o início do século XIX e, por muitos anos, foram associados à esquizofrenia. Somente na década de 1980 que o autismo foi classificado como um distúrbio do desenvolvimento causado, principalmente, por fatores genéticos.

“O trabalho resgata os primeiros relatos de casos de autismo, a evolução do conceito e da classificação, características clínicas, prevalência e perspectivas futuras, com o objetivo de disseminar mais informações sobre o transtorno e incentivar a busca por novas estratégias de intervenção”, afirma Nádia, em comunicado.

Segundo a autora da revisão, o grande marco em relação à classificação do TEA foi a publicação da 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013.

“O documento uniu todas as subclasses do autismo, reconhecendo-o como um espectro com graus variáveis. Isso aumentou as possibilidades de diagnóstico”, explica. No passado, por exemplo, existia a Síndrome de Asperger, condição descrita pelo psiquiatra austríaco Hans Asperger, que após o DSM-5 foi incorporada ao TEA. Em 2022, a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) seguiu o mesmo padrão, unificando todos os quadros com características do autismo.

Conscientização

As novas classificações e a maior conscientização sobre o tema têm ajudado a identificar o transtorno cada vez mais cedo, entre 1 ano e meio e 3 anos de idade.

No entanto, o diagnóstico é baseado somente em observação do comportamento e, muitas vezes, a criança é acompanhada por apenas um especialista, dificultando uma análise conclusiva. Para fechar o diagnóstico, é importante ter uma equipe multidisciplinar – com profissionais como neurologistas, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos –, e são poucas as pessoas que têm acesso a esse tipo de acompanhamento.

“Cada pessoa com autismo é única, com diferentes pontos do desenvolvimento comprometidos. Por isso, o ideal é que cada paciente tenha um acompanhamento personalizado, englobando terapia ocupacional, fonoaudiologia, intervenções educativas. Mas é difícil encontrar uma instituição pública que tenha toda essa estrutura, e as particulares têm um custo alto”, aponta Nádia.

Quando essas intervenções não são suficientes, e a pessoa manifesta sinais como agressividade, depressão e ansiedade, o tratamento também pode incluir medicamentos para amenizar os sintomas.

Diversas estratégias têm sido adotadas para ampliar o conhecimento sobre o TEA e possibilitar tratamentos mais individualizados.

Uma das abordagens descritas no artigo são os biobancos, que compartilham dados de amostras de sangue e sequenciamento genético de pessoas com autismo entre pesquisadores de todo o mundo.

Essas informações permitem a descoberta de novos genes associados ao transtorno e de possíveis alvos farmacológicos, além de ajudarem a identificar marcadores biológicos para caracterizar e diferenciar os subgrupos do espectro.

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(Publicado por Lucas Rocha, com informações de Aline Tavares, do Instituto Butantan-via CNN)

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