O ex-ministro José Dirceu com o deputado Zeca Dirceu, seu filho, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: conversa com lider do Centrão Foto: Julia Lindner

Ex-ministro da Casa Civil, condenado pela Lava Jato, está prestes a se tornar novamente elegível e tem conversado com Lira, Pacheco, Renan e Sarney

Por Redação

BRASÍLIA – De volta à cena política, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer participar de campanhas municipais estratégicas para o PT e acha que o partido precisa “repensar o seu papel” para enfrentar a “força da direita”. O movimento para reabilitar Dirceu tem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas provoca apreensão em algumas alas do PT.

Nos últimos dias, o ex-ministro fez várias articulações nos bastidores. Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversou com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (MDB-AL). Dirceu está preocupado com os embates entre o Congresso e o Palácio do Planalto e com o crescimento da oposição. Em entrevistas, anunciou que vai trabalhar para que o PT fique “pelo menos 12 anos no governo”.

O rol dos interlocutores políticos de Dirceu também inclui o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), ambos do MDB. Estão na lista, ainda, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB).

Desde que foi condenado e preso três vezes, no rastro dos processos do mensalão e do petrolão, Dirceu está inelegível. No mês passado, porém, a defesa do ex-ministro, comandada pelo advogado Roberto Podval, entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todas as suas condenações na Lava Jato. O caso está com o ministro Gilmar Mendes.

A defesa pede que o magistrado estenda para Dirceu os efeitos da decisão que beneficiou Lula, após virem à tona, na Operação Spoofing, mensagens comprometedoras entre procuradores, como o então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o juiz Sérgio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro enfrenta ação para cassar o seu mandato e, se a Justiça Eleitoral julgar que ele praticou abuso do poder econômico, pode ficar inelegível.

“Sou um entusiasta da volta do ‘Zé’ Dirceu”, admitiu o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de Osasco. “Se ele decidir voltar ao Congresso, dará uma contribuição enorme ao projeto político do País”, emendou o parlamentar, que já está organizando um debate para Dirceu em Osasco.

Ex-ministro vai participar da campanha em SP

Ao Estadão, o ex-ministro disse que pretende ajudar o governo e o PT, mas na retaguarda. “Neste ano, participarei da campanha como cidadão e militante nas cidades que o diretório regional definir como prioritárias”, afirmou.

Na prática, porém, Dirceu tem auxiliado na montagem de alianças. O ex-presidente do PT foi um dos que conversaram com Marta Suplicy antes de ela aceitar o convite de Lula para retornar ao partido e ser vice da chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Dirceu avalia que ganhar São Paulo é fundamental para a luta contra o fortalecimento do Centrão e do bolsonarismo. O ex-ministro ainda prega um segundo mandato para Lula, mas, questionado sobre os seus próprios planos, desconversa.

“Decisão sobre meu futuro político só no segundo semestre de 2025, após consulta à direção do PT e ao Lula, e dependendo da situação política e da conjuntura”, assegurou Dirceu ao Estadão. “Não necessariamente serei candidato.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho dele, concordou. “A família já está bem representada na Câmara”, resumiu Zeca, abrindo um sorriso.

O apoio do ex-titular da Casa Civil à política econômica de Haddad, após resolução do PT assinalar que “o Brasil precisa se libertar do austericídio fiscal”, escancarou o confronto entre ele e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Sem citar o nome de Gleisi, mas não deixando dúvidas sobre quem falava, Dirceu declarou que o papel do PT era sustentar o governo. “No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, alfinetou Dirceu em um podcast do PT baiano.

Quando era chefe da Casa Civil, no entanto, ele teve vários embates com o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e lutava contra o “conservadorismo” da política econômica.

Gleisi e Zeca estão de olho na cadeira de Moro

A estratégia de Dirceu provoca desconforto em aliados de Gleisi, que o veem como um político que quer mostrar mais influência do que tem. A portas fechadas, alegam que o ex-ministro põe o PT em saia-justa, como às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, quando, em entrevista ao El País, ele proferiua seguinte frase: “É uma questão de tempo para a gente tomar o poder”. À época, Haddad era candidato ao Planalto e teve de contornar a situação. Mesmo assim, ninguém quer confrontar Dirceu em público.

Lula, Haddad, Gleisi e Dirceu integram a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Há, porém, muitas divisões internas e Gleisi também enfrenta reparos dentro do partido. “A palavra do ‘Zé’ Dirceu é importante para apoiar a política econômica do Haddad”, avaliou Aloysio Nunes, que hoje preside a São Paulo Negócios, agência de promoção de investimentos vinculada à Prefeitura. “Ele tem autoridade para isso.”

No diagnóstico de Dirceu, “a direita está ganhando a disputa política” e, portanto, o PT precisa reagir. “As mudanças no mundo e no Brasil exigem que façamos frente à força da direita. Depois de anos de repressão política e jurídica, é necessário o PT repensar o seu papel”, argumentou ele, ao destacar a importância da próxima disputa para a presidência do partido, em 2025.

Se Moro for cassado, haverá nova eleição no Paraná para a cadeira ocupada pelo ex-juiz da Lava Jato no Senado. Hoje deputada, Gleisi quer concorrer. Zeca Dirceu, o filho do ex-ministro, também está de olho na vaga.

A quem pergunta se fala frequentemente com Lula, Dirceu responde, enigmático: “O presidente sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa.” Mas o que isso quer dizer? “Quando ele quer me procurar, sabe onde eu estou”. E conclui: “Eu saí do governo, mas o governo não sai de mim.”

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Com Estadão

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