Dr. Gutemberg Fialho, presidente da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal. Foto; Delmo Menezes / Agenda Capital

O sistema Único de Saúde (SUS) apesar de suas imperfeições, foi a tábua de salvação da população que não tem assistência a medicina suplementar”, aponta o presidente do SindMédico-DF e da FENAM, Gutemberg Fialho

Por Delmo Menezes

Em entrevista exclusiva concedida ao portal de notícias Agenda Capital nesta terça-feira (14), o presidente da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Dr. Gutemberg Fialho, fala sobre o momento grave que o país e o mundo estão vivendo com a pandemia do novo coronavírus.

De acordo com Gutemberg, a Covid-19 é o problema de saúde pública mais grave desde a gripe espanhola.  Segundo ele, o SUS mostrou a sua importância e é efetivamente quem está assistindo à população, principalmente aqueles que não tem acesso a planos de saúde e medicina suplementar.

O presidente da Federação dos Médicos afirmou ainda que os profissionais de saúde recém formados se declaram sem preparo para atender a demanda, e muitos deles tem notificado a Secretaria de Saúde.

De acordo com Gutemberg, esta pandemia afeta mais os pacientes com perfil de risco, porém tem levado a óbito pacientes jovens sem comorbidades.

Leia a íntegra da entrevista:

AC – O senhor representa duas entidades importantes que é a Federação Nacional dos Médicos e o Sindicato dos Médicos do DF. Como avalia a atuação do SUS nesta pandemia da Covid-19?

Dr. Gutemberg – A pandemia da Covid-19 é o problema mais grave de saúde pública desde a gripe espanhola. Esta pandemia encontrou o Sistema único de Saúde (SUS) em situação de precarização, e com políticas públicas que visavam a terceirização e a privatização de assistência pública à saúde, o que realmente se implantou em alguns estados. Portanto pegou o maior sistema de inclusão social do mundo, que é o SUS, frágil. ele é o responsável pelo atendimento as pessoas pessoas menos favorecidas. Agora durante a pandemia, o SUS mostrou a sua importância e é efetivamente quem está assistindo à população, principalmente aqueles que não tem acesso a planos de saúde, medicina suplementar e privada. O momento é grave, mas revela a importância do Sistema Único de Saúde para a sociedade brasileira.

AC – O senhor está afirmando que o SUS não consegue dar uma resposta mais efetiva à pandemia do novo coronavírus?

Dr. Gutemberg – Não, pelo contrário. O Sistema único de Saúde, apesar de suas imperfeições e as narrativas políticas criadas para desacreditá-lo, foi a tábua de salvação da população que não tem assistência a medicina suplementar e a medicina privada. Se não fosse o SUS, o número de óbitos teria sido bem maior.

Dr. Gutemberg Fialho. Foto: Delmo Menezes/ Agenda Capital

AC – A que o senhor atribui este aumento considerável de casos da Covid-19 no Distrito Federal?

Dr. Gutemberg – Estamos chegando no pico da doença e ninguém sabe como o platô vai se manter. Se aumentando o número de contágios ou se vai estabilizar. Infelizmente a expectativa que nós temos com o relaxamento do isolamento social, é que aqui no DF, teremos um pico e um platô prolongado com aumento da contaminação e com o sistema público de saúde colapsado, sem vaga no sistema público, e o setor privado comprometido porque a sua capacidade também está no limite. Nós temos aí infelizmente aumento no número de óbitos por falta de leitos, por falta de oferta de assistência médica, até porque nós estamos no colapso não só da oferta de leitos e insumos, como também na oferta de profissionais de saúde, sejam enfermeiros, auxiliares, farmacêuticos e médicos. Nós não temos recursos humanos para assistir ou operar mais leitos, estamos sem condições de abrir.

AC – O senhor tem estimativa de quantos profissionais de saúde estão afastados ou envolvidos com a Covid-19?

Dr. Gutemberg – Este número não tenho no momento, mas com certeza é um número elevado. Na rede pública de saúde do DF, temos em torno de 10.800 profissionais segundo a Secretaria de Saúde, que estão envolvidos com a Covid-19, atendendo nas emergências dos hospitais e na atenção primária.

AC – Dr. Gutemberg, qual é a contribuição que a Federação Nacional dos Médicos e o Sindicato dos Médicos do DF estão dando no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus?

Dr. Gutemberg – A Federação dos Médicos tem interlocução junto ao Ministério da Saúde, desde as discussões dos protocolos, como também as estratégias de prevenção e da distribuição de medicamentos, de insumos. Aqui no DF, o Sindicato dos Médicos tem feito observações, solicitado informações junto a Secretaria de Saúde, e proposto mudanças no modelo de gestão atual, porém nós não estamos tendo receptividade, e infelizmente o que nós prevíamos e chamamos a atenção está acontecendo. Uma das coisas que nos chama atenção, é que quando o Sindicato dos Médicos propôs em março deste ano a suspensão das cirurgias eletivas e o judiciário negou baseado em informações equivocadas prestadas pelo governo, nós estamos vendo hoje as consequências de ter mantido aquela ação, que é a falta importante de insumos, desde anestésicos a drogas relaxantes musculares. Se tivéssemos suspendido naquela época, o estoque de medicamentos não estaria tão crítico e os pacientes não estariam morrendo ou sofrendo por falta de medicação.

AC – Existem na rede pública muitos profissionais principalmente médicos, recém formados e com pouca experiência. Eles estão capacitados para o combate a pandemia da Covid-19?

Dr. Gutemberg – O colapso no sistema de saúde envolvendo os profissionais, tem levado a se colocar no atendimento de especialidades, profissionais que estavam a muito tempo fora do atendimento do Pronto Socorro, e recém formados que precisam necessariamente de treinamento. Em virtude da premência do tempo não está se fazendo isso. Então você tem realmente profissionais que se declaram sem preparo para atender a demanda, e muitos deles tem notificado a Secretaria de Saúde que não estão com formação adequada para fazer este enfrentamento, e mesmo assim estão sendo compulsoriamente colocados no atendimento, o que coloca em risco a assistência e o próprio exercício da profissão daquele profissional.

AC – O que o senhor gostaria de falar a população de um modo geral que depende do Sistema Único de Saúde nesse momento grave que estamos enfrentando?

Dr. Gutemberg – Importante continuar adotando as medidas sanitárias recomendadas, como uso de máscara, álcool gel, distanciamento social, isolamento social, porque o comportamento da Covid-19 é imprevisível. Afeta mais os pacientes com perfil de risco, porém tem levado a óbito pacientes jovens sem comorbidades. Portanto nós não podemos garantir que quem é sadio não vá pegar a forma grave e ir a óbito. Estamos observando isso. Portanto todo cuidado é pouco, porque como tenho repetido, a vida não tem repescagem. As atividades econômicas precisam voltar, não tenho dúvidas, mas a vida você não consegue recuperar. O próprio governo, a sociedade civil organizada, instituições de caridade, podem ter uma ação solidária de distribuição de cestas básicas para manter o sustento dessa população mais vulnerável enquanto se mantém o isolamento social  por mais algum tempo, pra impedir evitar o aumento crescente  e assustador do número de óbitos.

Da Redação do Agenda Capital

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