O ator José Mayer divulgou carta aberta na tarde desta terça (4) onde diz que errou ao fazer “brincadeiras de cunho machista” com colegas. O ator foi acusado pela figurinista Susllem Meneguzzi Tonani de assediá-la no set de filmagem. O relato de Tonani foi publicado na última sexta-feira (31), no blog #AgoraÉQueSãoElas, da Folha.

Na carta, Mayer diz: “Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora”.

Mayer então afirma que não tinha a intenção de ofender, mas reconhece que suas “brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas”.

O ator se diz “fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são”. Diz que aprendeu com seu erro e que está vivendo um processo de mudança.

“O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.”

Segundo o colunista Fernando Oliveira, do F5, após as acusações, a Globo decidiu que Mayer não fará a novela para a qual estava escalado, “O Sétimo Guardião”. A avaliação da emissora é de que será necessário tempo fora do ar para evitar desgaste, além de não escalá-lo para personagens sedutores.

Leia abaixo a íntegra da carta, divulgada pela assessoria de imprensa do ator.

“Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:

Eu errei.

Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava.

A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora.

Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.

Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, não sou.

Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.

Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.

Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.

A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.

Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.

Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.

O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.

José Mayer”.

ASSÉDIO

Em relato publicado no blog #AgoraÉqueSãoElas, da Folha, na madrugada de sexta-feira (31), Susllem Tonani, 28, afirmou que o ator colocou a mão na genitália dela em fevereiro deste ano, “na presença de outras duas mulheres”. Na sexta, o ator negou a acusação. “Respeito muito as mulheres, meus companheiros e o meu ambiente de trabalho e peço a todos que não misturem ficção com realidade”, escreveu Mayer, que participou da novela das 21h, “A Lei do Amor”.

No mesmo dia, a Globo afirmou que não comenta assuntos internos, mas que “repudia toda e qualquer forma de desrespeito, violência ou preconceito”. A emissora disse que “todas as questões são apuradas com rigor, ouvidos todos os envolvidos, em busca da verdade”. Nesta terça, após protesto de diversas funcionárias da rede, entre elas atrizes como Bruna Marquezine, Camila Pitanga, Grazi Massafera e Cléo Pires, a Globo confirmou que o ator está afastado na próxima novela para a qual estava escalado e afirmou em nota que defende que o caso seja apurado.

“Essa é uma atitude isenta e responsável da Globo de não dar visibilidade a uma das partes envolvidas numa questão que é visceralmente contra tudo que a Globo acredita. E não é uma atitude isolada. A atitude da Globo será sempre essa. A de defender que casos como esse devem ser apurados, ouvindo e oferecendo todo apoio às duas partes, dando possibilidade para que a verdade aflore e criando condições para que não se repitam. Foi isso que fizemos. E é isso que sempre faremos”, diz a empresa.

No depoimento, a figurinista diz que já recebia cantadas de Mayer havia oito meses. “Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como figurinista assistente.”

“Trabalhando de segunda a sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus ‘elogios’. Do ‘como você se veste bem’, logo eu estava ouvindo: ‘como a sua cintura é fina’, ‘fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho’, ‘você nunca vai dar para mim?’.”

Segundo Susllem, suas negativas não surtiram efeito. “Disse a ele, com palavras exatas e claras, que não queria, que ele não podia me tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria ao RH. Foram meses saindo de perto.”

Susllem nasceu em Vitória (ES) e cursou desenho industrial na Universidade Federal do Espírito Santo. Trabalhou em campanhas publicitárias, cinema, teatro, moda e televisão. Mudou-se para o Rio há cinco anos para seguir a carreira de figurinista. Ela afirma que, após o assédio, seguiu “no mecanismo subserviente”. Dias depois, diz que sofreu outro constrangimento da parte de Mayer.

“Até que nos vimos, ele e eu, num set de filmagem com 30 pessoas. Ele no centro, sob os refletores, no cenário, câmeras apontadas para si, prestes a dizer seu texto de protagonista. Neste momento, sem medo, ameaçou me tocar novamente se eu continuasse a não falar com ele. E eu não silenciei. ‘VACA’, ele gritou.”

Depois desse episódio, ela conta que procurou o RH, a ouvidoria e o “departamento que cuida dos atores” da Globo. “Acessei todas as pessoas, todas as instâncias, contei sobre o assédio moral e sexual que há meses eu vinha sofrendo.”

“A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e prometeu tomar as medidas necessárias”, escreve.

“Sinto no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas antes, sinto um arrependimento violento por ter me calado, me odeio por todas as vezes em que, constrangida, lidei com o assédio com um sorriso amarelo. ”

APOIO

Na manhã desta terça (4) funcionárias e mulheres ligadas à Rede Globo fizeram um protesto em apoio à figurinista.

As mulheres se mobilizaram para trabalhar usando camisetas com a frase “Mexeu com uma, mexeu com todas”. O protesto também acontece em redes sociais, com uma postagem em massa de fotos da camiseta. Artistas como Camila Pitanga, Fernanda Lima e Astrid Fontenelle e Cissa Guimarães já aderiram.

Funcionárias da Globo fizeram reuniões nos últimos dias para discutir assédio. Os encontros foram organizados por um grupo que reúne desde camareiras até diretoras e atrizes, que foram recebidas também pelo diretor-geral Carlos Henrique Schroder.

Da Redação com informações da Folha

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