Cota de inundação é 3 metros; previsão é de que 6 mil pessoas a mais sejam atingidas na capital gaúcha por novas cheias
Por Redação
O nível do Guaíba voltou a subir e chegou a 5,20 metros às 8h15 desta terça-feira, 14, em Porto Alegre, de acordo com a Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (ANA). A previsão das autoridades é de que, devido ao atual volume de chuvas no Rio Grande do Sul, a cota chegue ao pico de 5,5 metros na terça-feira, 14. O recorde histórico é de 5,35 metros, registrados no último dia 5.
Em 1941, quando Porto Alegre também foi invadida pelas águas, o pico da cheia naquele ano foi de 4,76 metros. A cota de inundação do Guaíba é 3 metros.
Com a nova cheia do Guaíba, o prefeito Sebastião Melo (MDB) acredita que o número de atingidos pelas inundações pode aumentar ainda mais. “O apelo que quero fazer é que ninguém volte para casa. Tomara que não chegue a 5,5 (metros), mas eu tenho de acreditar na ciência, nos hidrólogos. Não dá para voltar e pode até estender um pouquinho essa lâmina (de água), atingindo 6 mil pessoas a mais”, disse em entrevista coletiva.
O Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática de sua história, atingido por fortes temporais desde o último dia 29. Segundo a Defesa Civil estadual, 447 dos 497 municípios gaúchos foram impactados, e mais de 500 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Em consequência das chuvas, 127 pessoas seguem desaparecidas.
Como o Estadão mostrou, brigadistas que trabalham no centro histórico de Porto Alegre, uma das regiões mais atingidas pela enchente, e no bairro São João tentam convencer últimas pessoas a deixarem a região. A concentração dos maiores volumes de chuva na Serra Gaúcha preocupa, já que é onde nascem os rios que desaguam, por exemplo, no Guaíba.
A enchente no centro de Porto Alegre, mesmo após a baixa temporária da água, ainda chega a dois metros em alguns pontos. O vazio destoa das ruas movimentadas do centro em dias normais. Palácios históricos, como o Mercado Público, estão cercados pela água. Na rodoviária e na estação de trem, a paisagem, com vagões em meio às águas, mostra como o cotidiano dos gaúchos foi totalmente interrompido pelas cheias.
Comandante do Exército diz que fake news criam descrença e prejudicam trabalho diante da crise no RS
Com os olhos arregalados, a secretária da dentista me interpelou, mal eu tinha entrado no consultório, e perguntou: “você viu umas imagens de bebês mortos na água, no Rio Grande do Sul? E aquele pessoal todo que está lá, militares…tudo, como não resgataram? Não fazem nada?” Nem informação e nem a imagem são verdadeiras. Tentei explicar que em momentos como este é preciso tomar muito cuidado com o que se lê e se vê. Há muita informação falsa que só serve para assustar ainda mais a população. Então, se possível, é sempre bom conferir a notícia, antes de espalhar. Ela ouviu, fez que acreditou. Mas continuou me olhando desconfiada, certamente, preferindo acreditar nas suas redes sociais.
“A desinformação é o que mais tem prejudicado nosso trabalho. Ela impede a sinergia que é fundamental para as ações que são imprescindíveis neste momento nos órgãos governamentais”, explica à coluna o Comandante do Exército, Tomás Paiva. Em meio a essa montanha de informações inverídicas, o Exército Brasileiro é um dos órgãos envolvidos nos trabalhos no Rio Grande do Sul mais atingido. “Essa desinformação põe em xeque todo o trabalho realizado pela agências envolvidas, que são muitas, com milhares de pessoas trabalhando, criando descrença e confusão, em um momento que todos precisam trabalhar afinados”, acrescenta Paiva. Taquari 2, nome dado à Operação pelo Comando Conjunto Sul, já conta com mais de 20 mil militares, policiais e agentes, trabalhando nos mais de 400 municípios.
Sobre o Exército, mais do que desinformar, as fake news investem contra a imagem da instituição. Mal saída da crise do 8 de janeiro do ano passado, os oficiais e soldados da Força voltaram a ser tratados como melancias. A comparação faz referência às cores da fruta, verde por fora – a cor da farda – e vermelha por dentro – vermelho do comunismo. E é o que está acontecendo com os militares que se recusaram a apoiar a ideia de um golpe, propagada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns generais próximos a ele, e que, agora, estariam sofrendo o revide dos adversários.
“Constatamos um fluxo gigante de fake news”, diz Luis Fakhouri, diretor de Estratégia da Palver. O show de Madonna e a emergência climática no Rio Grande do Sul foram os dois destaques usados politicamente para atacar adversários e o termo “farsa armada” foi ganhando relevância à medida que os dias passavam e a situação no Estado se agravava.
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Da Redação com Estadão