Estudantes da Universidade de Columbia, em Nova Iorque (EUA), participam de ato de apoio aos palestinos em meio ao conflito entre Israel e Hamas na Faixa Gaza. Foto: Reprodução.

Debates a respeito do Oriente Médio tomam rumo problemático; ‘Estudantes judeus estão com medo e isolados’, afirma aluna

Por Nick Anderson / The Washington Post

Alguém escreveu “Palestina Livre” no exterior da casa de uma fraternidade judaica no Instituto de Tecnologia da Geórgia no fim de semana passado, próximo a uma grande imagem de uma menorá. Um docente da Universidade Stanford, segundo relatos, pediu para estudantes judeus e israelenses ficarem de pé no canto de uma sala de aula. Um professor da Universidade Cornell declarou durante uma manifestação no domingo que, apesar de abominar a violência, vibrou com os ataques dos militantes do Hamas contra Israel.

Faculdades e universidades normalmente se orgulham por ser palco de manifestações e debates, contanto que ninguém saia ferido. Retóricas furiosas são toleradas e com frequência encorajadas conforme estudantes, docentes e acadêmicos discutem política, meio ambiente, economia, racismo e guerras. Mas líderes judeus afirmam que com muita frequência os debates a respeito do Oriente Médio tomam um rumo problemático, ocasionando atmosferas ameaçadoras para estudantes judeus. Para eles, esse fenômeno não é novo.

“O clima nas instituições de ensino superior para estudantes judeus tem se deteriorado há vários anos e isso tem se agravado por aumentos irrestritos no antissemitismo e na demonização virulenta de Israel nos campi”, afirmou em entrevista Adam Lehman, presidente e diretor executivo da organização judaica Hillel International. Segundo Lehman, nos dias recentes o clima tem piorado.

Após o ataque surpresa do Hamas que deixou mais de 1,4 mil mortos em Israel e centenas de feridos, a casa da fraternidade Alpha Epsilon Pi na Georgia Tech pendurou uma faixa na varanda declarando solidariedade a Israel. No sábado, seus membros encontraram a mensagem pró-palestinos escrita com creme de barbear, sob a faixa. A mensagem logo foi apagada com um esguicho de água, mas deixou uma impressão mais profunda: seu lar, sentiram os membros da fraternidade, tinha sido violado.

“Nós estamos profundamente entristecidos pelo vandalismo em nossa propriedade cometido no fim de semana passado”, afirmou a fraternidade em um comunicado. “Enquanto fraternidade judaica, todos nós fomos profundamente afetados pelos atuais eventos em Israel e estamos profundamente desalentados por perceber que este conflito permitiu ao antissemitismo avançar no nosso campus. Com nossos irmãos judeus sob ataque em Israel, nós sentimos que é importante mostrar nosso apoio visivelmente ao povo israelense, enquanto liderança judaica na Georgia Tech.”

Por meio de um porta-voz, a fraternidade recusou-se a comentar o caso mais detalhadamente. Mas os membros penduraram uma nova faixa azul e branca afirmando que a fraternidade “está do lado de Israel”.

Estudantes participam ato pró-Palestina na Universidade de Columbia; ‘Clima nas instituições de ensino superior para estudantes judeus tem se deteriorado há vários anos e isso tem se agravado’, afirma Adam Lehman, presidente e diretor executivo da organização judaica Hillel International. Foto: Reprodução.

Em Stanford, segundo noticiou o meio de imprensa judaico The Forward na semana passada, um docente pediu que os estudantes judeus e israelenses de uma turma se identificassem, pegassem seus pertences e fossem ficar de pé em um canto da sala de aula. O objetivo aparente do exercício, de acordo com a reportagem, era mostrar aos estudantes como o docente acredita que Israel trata os palestinos.

A direção da universidade reconheceu em um comunicado de 11 de outubro que recebeu um relatório a respeito de uma aula na qual um docente “tratou do conflito no Oriente Médio de uma maneira que discriminou estudantes individualmente na classe com base em suas origens e identidades”. O presidente de Stanford, Richard Saller, e a reitora, Jenny Martinez, afirmaram que o docente, que não foi identificado, “não está lecionando atualmente”, enquanto a universidade californiana investiga o caso. “Sem prejulgar a questão, esta ocorrência é causa de grave preocupação”, escreveram eles.

Na Universidade Tufts, em Massachusetts, o estudante do 4.º ano Micah Gritz, de 21 anos, de Rockville, Maryland, líder de um grupo chamado Judeus no Campus, disse ter ficado horrorizado ao ler um e-mail no qual o braço local do grupo Estudantes por Justiça na Palestina usou emojis de paragliders para anunciar uma manifestação nas imediações de Cambridge. O e-mail também louvava “os combatentes da liberdade”, uma alusão aos militantes do Hamas, que usaram paragliders no ataque transfronteiriço e mostraram “a criatividade necessária para tomar de volta a terra roubada”.

O e-mail “me deixou completamente chocado”, afirmou Gritz. “Estudantes judeus e israelenses estavam chorando os mortos. Ver essas pessoas celebrando a morte dos nossos amigos e parentes é pior que moralmente inaceitável.”

A representação nacional do grupo Estudantes por Justiça na Palestina recusou um pedido de entrevista.

Defensores dos direitos dos palestinos também expressam sofrimento e fúria pelas mortes de civis nos bombardeios israelenses a Gaza.

Quando a presidente da Universidade George Washington, Ellen Granberg, publicou um comunicado na semana passada condenando a “celebração do terrorismo”, um grupo chamado Estudantes GW por Justiça na Palestina respondeu com uma declaração no Instagram: “Como você se atreve, Ellen Granberg, como você se atreve a chamar nosso luto de ‘celebração do terrorismo’?”.

Cornell agitou-se após o professor-associado de história Russell Rickford discursar em uma manifestação pró-palestinos em Ithaca, Nova York. O jornal estudantil Cornell Daily Sun e outros meios de comunicação publicaram um vídeo com seus comentários. No discurso, Rickford citou “muitos cidadãos de boa vontade em Gaza, muitos palestinos com consciência que abominam a violência – como vocês, como eu”. Mas também disse que muitos apoiadores da causa palestina vibraram ao saber do ataque de 7 de outubro.

“Foi exultante”, afirmou ele. “Foi energizante. E se eles não se sentiram radiantes por esse desafio ao monopólio da violência, essa mudança no equilíbrio do poder, eles não seriam humanos. Eu vibrei.”

Rickford não retornou imediatamente a um pedido de comentário a respeito de sua fala enviado por e-mail na terça-feira pela reportagem do Washington Post. Mas disse ao Cornell Daily Sun acreditar que o ataque do Hamas sinalizou que “a determinação palestina de resistir não foi quebrada”. Ele reconheceu que, nos dias que se seguiram, “nós soubemos de situações horripilantes”.

Schwartz, de White Plains, Nova York, vice-presidente do grupo Cornellianos por Israel, disse que considerou as declarações de Rickford perturbadoras. “Nós estamos preocupados por saber que um indivíduo com posições tão execráveis, de ódio, trabalha como professor em Cornell”, afirmou ela.

A presidente de Cornell, Martha Pollack, e o diretor do conselho acadêmico da universidade, Kraig Kayser, refutaram Rickford em um comunicado publicado na terça-feira e afirmaram que a universidade está analisando o caso. Docentes de faculdades, especialmente os que contam com proteções de mandatos nos cargos, com frequência são tratados com bastante leniência em questões de liberdade de expressão e acadêmica.

“Nós soubemos ontem dos comentários que o professor Russell Rickford expressou no fim de semana em uma manifestação fora do campus, em que ele descreveu os ataques terroristas do Hamas como ‘exultantes’”, escreveram eles. “Trata-se de um comentário repreensível, que não demonstra nenhuma consideração pela humanidade.”

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Com informações do The Washington Post via Estadão

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