Segundo SES-DF, 25% dos funcionários da rede pública estão sem trabalhar por conta de atestados médicos. Categoria denuncia ‘sobrecarga, falta de EPIs e desigualdade salarial’, entre outros motivos.
Por Caroline Cintra*
A pandemia da Covid-19 mudou a vida de todo mundo, mas, entre os profissionais, os que trabalham na área da Saúde e que lidam diretamente com a doença todos os dias, são os mais atingidos. A sobrecarga no sistema público, gerou consequências no estado emocional dos servidores que denunciam as “péssimas condições de trabalho”.
“Ninguém quer título e, sim ,condições de trabalho, respeito, igualdade. Fazemos plantão de 12 horas. Não tem super-herói. Nós também cansamos, temos família”, diz servidora do Hospital Regional de Santa Maria, no DF.
No Distrito Federal, segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 25% dos servidores estão afastados. A capital tem, ao todo, 33.105 funcionários na área.
Durante entrevista coletiva na sexta-feira (18), o secretário general Manoel Pafiadache disse que a situação estava “um pouco melhor que há duas semanas”, quando segundo ele, cerca de 40% dos servidores apresentaram atestado médico.
Servidores que estiveram afastados contaram ao g1 que a sobrecarga e o estresse do dia a dia geraram diagnósticos de transtornos psicológicos. Além disso, muitos contraíram Covid-19 e influenza.
Uma servidora do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) — administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) —, que não quis se identificar, conta que a unidade de saúde abriu uma clínica de psiquiatria para atender os funcionários.

“Falta remédio e ainda tem os problemas com a alimentação, tanto dos pacientes, quanto dos funcionários, que vêm errada, fora da dieta. Complicado trabalhar assim”, diz ela.
A profissional ficou afastada do trabalho por 14 dias, após sofrer uma crise de ansiedade e estresse, além de taquicardia. “Estamos tendo muitos afastamentos aqui. Pessoas começaram a tomar antidepressivos e ansiolíticos”, conta a servidora.
Para ela, o título de “super-herói” para os servidores da Saúde não condiz com a realidade.
Sobrecarga
Uma enfermeira de uma UPA, que também não quis se identificar, conta que, desde o início da pandemia, precisou mudar a rotina com a filha, de 4 anos. Ela acabou afastada do trabalho por estresse.
“Isso mexeu muito comigo, porque ela [a filha] é muito pequena ainda e depende bastante de mim. Trabalho na saúde há anos e ,nesses quase três anos de pandemia, trabalhei e me doei ao ofício mais do que em todos os anos anteriores”, conta a enfermeira.
Para a servidora pública, além da sobrecarga do sistema saúde no período de pandemia, outros fatores também contribuem para o adoecimento dos servidores, como má gestão e falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Reforço
Procurada pelo g1, a Secretaria de Saúde do DF informou que, desde o início da pandemia, a pasta enfrenta um aumento expressivo na demanda por atendimentos na rede, “o que reflete em sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde e nos afastamentos daqueles que atuam na linha de frente”.
“Alguns destes ou foram contaminados, ou estavam abalados pelas perdas pessoais que vivenciaram, ou ainda por esgotamento profissional”, diz a Secretaria de Saúde do DF.
“A pasta reconhece o importante trabalho desempenhado por cada um desses profissionais e segue empenhada em garantir assistência à população do DF e também em oferecer um melhor ambiente de trabalho aos servidores da Saúde”, disse a secretaria, por meio de nota.
Para tentar suprir os afastamentos, reforçar a linha de frente e melhorar o fluxo de atendimento nos hospitais, a SES-DF lançou um edital e está em processo de contratação de 100 médicos temporários. O GDF prometeu, para depois do carnaval, o início do trabalho de alguns desses profissionais.
Também está prevista a realização de um concurso público para diminuir o déficit atual.
Mais atestados em 2 anos
O número de servidores públicos que apresentaram atestados ou pediram licença para se afastar do trabalho, na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, aumentou quase 60% entre 2018 e 2020. Os dados fazem parte de um relatório obtido pela TV Globo via Lei de Acesso à Informação.
Em 2020, servidores da Saúde apresentaram 61.724 atestados ou pedidos de licença. Em 2018 foram 38.648, e em 2019, 40.651 afastamentos atestados.
*Com G1/DF