O homem, que trabalhava como cientista na Universidade de Tromsoe, havia se passado por cidadão brasileiro, mas a polícia acredita que sua identidade real seja russa.

País aumenta segurança a infraestruturas para evitar sabotagens, após vazamento no gasoduto Nord Stream; pelo menos sete russos foram presos por suspeita de espionagem.

Por Washington Post

BRUXELAS – Autoridades da Noruega prenderam nesta terça-feira, 25, na cidade de Tromso, perto do Círculo Polar Ártico, um suspeito de espionar a região para o governo da Rússia. O homem tinha documentação brasileira e se passava por um professor universitário identificado como José Assis Gianmaria.

Segundo o Ministério do Interior norueguês, ele ficará preso por quatro semanas e deve ser expulso do país, mas ainda não está claro se o homem tem de fato cidadania brasileira ou se era um russo com documentos falsos. Procurado, o Itamaraty ainda não se posicionou sobre o caso.

A vice-chefe do Serviço de Segurança da Polícia Norueguesa, conhecido como PST, Hedvig Moe, disse que o homem é um cidadão brasileiro, mas o departamento acredita que ele, na realidade, seja russo. O advogado do detido, Thomas Hansen, disse ao jornal norueguês VG que seu cliente nega qualquer irregularidade.

Martin Bernsen, porta-voz do PST, confirmou que um suposto espião foi detido e disse que o caso era “enorme”, mas não entrou em detalhes. Em um comunicado, o administrador da Arctic University of Norway, em Tromso, Jorgen Fossland, disse que a pessoa em questão era “um professor convidado” na escola.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a professora de estudos de segurança da universidade Gunhild Hoogensen Gjørv explicou que Giammaria chegou à instituição em dezembro de 2021. Ele havia entrado em contato com ela, por e-mail, para pedir para conduzir pesquisas em seu departamento, que é voltado para a segurança no Ártico.

A professora relatou ao Guardian que Giammaria disse estar interessado em aprender mais sobre segurança no Ártico e tinha sido recomendado por conhecido dela no Canadá, onde ele estudou. “Fizemos a verificação de antecedentes padrão e ligamos para as referências que ele listou”, relatou Gjørv ao jornal britânico. Ela acrescentou que Giammaria se formou no Centro de Estudos Militares, de Segurança e Estratégicos da Universidade de Calgary em 2018.

Os investigadores acham que ele estava na Noruega, um país membro da Otan, sob um nome e identidade falsos enquanto trabalhava para um dos serviços de inteligência da Rússia, disse Moe. “Ele será expulso porque acreditamos que ele representa uma ameaça aos interesses nacionais fundamentais”, disse Moe.

Moe disse à NRK que a agência norueguesa colaborou com os serviços de segurança de outros países não especificados. O homem viajou para outros países, incluindo o Canadá, disse ela.

Em junho, um russo apresentando uma identidade brasileira tentou se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), segundo o serviço de segurança da Holanda. O homem usou o nome de Viktor Muller Ferreira, mas seu nome verdadeiro era Serguei Vladimirovich Cherkasov e seria um espião do GRU – inteligência militar russa. Segundo uma reportagem da rede britânica BBC, o homem passou anos construindo uma identidade falsa antes de se candidatar a um estágio no TPI, em Haia.

Espionagem

A prisão ocorre em meio à crescente preocupação em Oslo com a espionagem russa no Ártico – uma região rica em recursos naturais e energéticas. A situação se agravou depois da crescente tensão entre a Rússia e a Otan, da qual a Noruega faz parte, por conta da guerra na Ucrânia, que levou o Kremlin a ameaçar cortar o fornecimento de gás para a Europa durante o inverno (Hemisfério Norte).

Na semana passada, autoridades norueguesas alertaram que poderia haver mais prisões depois que pelo menos sete russos – entre eles o filho de um associado próximo do presidente Vladimir Putin – foram detidos nas semanas recentes por usar drones para tirar fotografias nas proximidades de regiões sensíveis, ocasionando uma investigação do serviço doméstico de inteligência.

Ataque ao Nordstream

Noruega e outros países estão se mobilizando para garantir a segurança de infraestruturas cruciais após a sabotagem ocorrida nos gasodutos Nord Stream. Desde então, avistamentos de drones foram relatados nos vastos campos marítimos de petróleo e gás natural da Noruega, assim como em aeroportos do país.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, atribuiu as ocorrências a “inteligência estrangeira” – e apontou o dedo indiretamente para a Rússia. “Não é aceitável que inteligência estrangeira acione drones sobre aeroportos noruegueses. Russos não têm autorização para acionar drones na Noruega”, afirmou ele, segundo a agência de notícias norueguesa NRK.

Instalações marítimas de prospecção de petróleo e gás natural são centrais para economia da Noruega. Desde que a Rússia lançou sua invasão em escala total da Ucrânia, a Noruega se tornou fornecedora crucial para uma Europa sedenta de energia.

Store deu as declarações horas depois de um drone ser avistado próximo a Bergen, a segunda cidade mais populosa do país, fechando temporariamente o tráfego aéreo.

As autoridades também divulgaram a prisão de um homem com dupla cidadania, russa e britânica, acusado de pilotar um drone sobre o Arquipélago de Svalbard, no Oceano Ártico, supostamente violando uma regra que impede russos de pilotar drones no país.

O homem, Andrei Yakunin, de 47 anos, é filho de Vladimir Yakunin, ex-presidente da companhia ferroviária Ferrovias Russas e confidente de Putin. Yakunin foi sancionado pelos Estados Unidos após a Rússia invadir a Crimeia, em 2014.

Quando Andrei Yakunin foi preso, a polícia apreendeu drones e aparelhos eletrônicos com ele, afirmou a promotora de Justiça Anja Mikkelsen Indbjor ao site Barents Observer. “O conteúdo registrado pelo drone é de grande importância no caso.”

Andrei Yakunin — protagonista de uma reportagem do Financial Times que relatou sua viagem, em seu iate de 26 metros de comprimento, para esquiar em uma região remota do ártico norueguês — pediu para que a corte o considerasse cidadão britânico, segundo relatos.

Seu advogado, John Christian Elden, afirmou por e-mail que seu cliente é cidadão britânico, que estudou, trabalha e tem família no Reino Unido. Elden não negou que Yakunin pilotou um drone, mas afirmou que isso é ilegal apenas para cidadãos russos, não para britânicos.

Andrei Yakunin foi preso quase uma semana depois da polícia norueguesa deter um russo por pilotar um drone sobre um aeroporto em Tromso, no norte da Noruega. Na sexta-feira, as autoridades apreenderam “grande quantidade” de equipamentos de fotografia, incluindo um drone e cartões de memória. A polícia também encontrou fotos do aeroporto de Kirkenes, cidade norueguesa na fronteira com a Rússia, e de um helicóptero militar norueguês.

Um russo de 50 anos foi detido no mesmo dia na fronteira da Noruega com a Rússia, ao ser encontrado com dois drones e vários equipamentos de armazenamento, de acordo com a Associated Press. Outros quatro russos foram detidos dias depois, por tirar fotos em áreas em que registros de imagens são proibidos, de acordo com as autoridades norueguesas.

As autoridades norueguesas têm afirmado que existe um risco intensificado, mas baixo de maneira geral, de um ataque contra infraestruturas cruciais e que o propósito dos drones pode ser gerar medo.

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