Em pauta, estarão a reforma do Conselho de Segurança, clima e direitos trabalhistas, no encontro com Biden, e a aguardada discussão sobre a guerra na Ucrânia com Zelenski
Por Redação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá nesta quarta-feira, 19, as principais reuniões bilaterais da viagem aos Estados Unidos para a Assembleia-Geral da ONU. Em NY, ele se encontrará com o presidente americano,Joe Biden, e o ucraniano, Volodmir Zelenski. Em pauta, estarão a reforma do Conselho de Segurança, clima e direitos trabalhistas, no encontro com Biden, e a aguardada discussão sobre a guerra na Ucrânia com Zelenski, depois de uma reunião entre os dois ter sido abortada na cúpula do G-7 em maio, no Japão.
As reuniões bilaterais ocorrem no dia seguinte ao primeiro discurso de Lula na ONU em seu terceiro mandato, no qual evocou temas tradicionais da diplomacia brasileira e evitou assuntos mais espinhosos, como o conflito entre russos ucranianos, depois de uma série de declarações interpretadas como um respaldo tácito à Rússia, entre elas a relativização da importância do Tribunal Penal Internacional.
Os encontros também servem para a diplomacia brasileira como uma reaproximação com Biden e Zelenski, depois dessas declarações dadas pelo petista nos últimos meses. Pragmática, a diplomacia americana vê no Brasil um parceiro importante entre os emergentes, com quem Washington tem pontos de contato essenciais.
Reaproximação com o Sul Global
Diante do antagonismo cada vez maior com a China e a crescente influência de Pequim no chamado Sul Global, a Casa Branca tenta recuperar influência e reconstruir pontes com países emergentes, entre eles o Brasil. Nesse sentido, aprofundar as relações com o Brasil é estratégico para Biden.
O encontro de hoje servirá para lançar a chamada Coalizão Global pelo Trabalho, um documento que deve defender a expansão de direitos trabalhistas no mundo, principalmente em novas relações entre patrões e empregados, como no setor de aplicativos.
É a segunda iniciativa conjunta entre Washington e Brasília em semanas. Na cúpula do G-20, em Nova Délhi, Brasil e Estados Unidos lançaram uma aliança para popularizar o uso de etanol em países emergentes.
Dois dos maiores produtores do combustível, americanos e brasileiros veem na expansão do etanol em países pobres uma importante iniciativa da economia verde.
“A gente só consegue extrair algum tipo de benefício se tiver a capacidade diplomática de jogar com isso. A China tem jogado muito com isso, o que acendeu um alerta nos EUA”, explica Carlos Gustavo Poggio, professor de ciência política do Berea College. “É por isso que a agenda ambiental é importante. O Brasil tem uma matriz energética diversificada, temos a Amazônia e estamos na posição de exigir que os países desenvolvidos nos ajudem. É uma moeda de troca importante.”
Encontros e Desencontros
No começo do ano, Biden e Lula se reuniram na Casa Branca. O encontro foi marcado pelo compromisso de ambos em trabalhar contra a mudança climática e pela democracia nas Américas, mas, de ambos os lados o acordo acabou ficando mais em palavras que em atos.
Logo após o encontro na Casa Branca, os EUA anunciaram uma doação de US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, considerada pequena perto da contribuição de outros países europeus como a Noruega e a Alemanha. Um valor posterior de US$ 500 milhões foi anunciado, mas ainda precisa do aval do Congresso, onde a oposição republicana tem maioria na Câmara.
Do lado brasileiro, uma série de declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia, e, sobretudo, o alinhamento à China na contestação ao dólar como moeda global provocaram ruídos na relação. O caloroso recebimento dado a Lula ao ditador venezuelano Nicolás Maduro em Brasília em maio também enfraqueceu a defesa pró-democracia feita no encontro com Biden.
“O Brasil tem uma vantagem sobre a China e a Índia, que competem pela liderança dos emergentes: por defender valores ligados a direitos humanos. Então houve um certo desconforto acerca das declarações do Lula e essas posições devem ser repensadas”, acrescenta Poggio. “Mas caso o Brasil não insista nisso, não deve provocar estragos a longo prazo, por mais que a fala do presidente tenha sido desastrada.”
Guerra na Ucrânia
No encontro com Zelenski, o plano de Lula, segundo a Coluna do Estadão, é ouvir o que o ucraniano tem a dizer sobre a guerra e reiterar a posição brasileira no assunto, de que a paz é necessária. “O Brasil está à disposição para falar de paz, quando as partes entenderem que é a hora”, afirmou à Coluna essa fonte diretamente envolvida com as conversas junto à Ucrânia.
Em maio, durante a cúpula do G7 em Hiroshima, um dos impasses que inviabilizaram a reunião entre os dois presidentes foi justamente o local: Zelenski alegava riscos de segurança no deslocamento ao hotel do brasileiro, enquanto Lula temia uma mensagem equivocada de parcialidade caso se dirigisse ao presidente ucraniano, maior interessado na conversa.
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Com Estadão