Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: Reprodução

Regras do jogo eleitoral, sistema de governo e eleitorado difuso ajudam a polarização Lula-Bolsonaro

Por William Waack, O Estado de S.Paulo

O que conspira contra candidaturas de terceira via é muito mais do que a ausência, até aqui, de nomes fortes entre os candidatos e a hipocrisia/artimanhas de líderes partidários. O que conspira é a combinação das regras da eleição proporcional com o aumento do poder do Legislativo no sistema de governo, e a essencial formação de bancadas nutridas. Situação agravada por um eleitorado que não diferencia “esquerda” ou “direita”.

O voto para deputado federal é “pessoal”, mas vai para a legenda do candidato no imenso distrito (o Estado) no qual disputa a eleição. Os donos do partido precisam de puxadores de voto, pois o que interessa na distribuição das cadeiras é o quociente partidário. “Puxadores” de votos são cada vez mais (sub)celebridades, representantes de corporações e, óbvio, a força do nome de um presidenciável em determinada região. Por isso um mesmo partido se interessa em apoiar Lula numa parte do País e Bolsonaro em outra.

É perfeitamente lógico, portanto, que as grandes agremiações se submetam às questões regionais, pois delas dependem a formação das bancadas e a consequente distribuição das ferramentas de poder num sistema no qual o Executivo se enfraqueceu consideravelmente. Nesse sentido, os nomes de Lula ou Bolsonaro ajudam aqui e atrapalham ali, mas os da terceira via, até aqui, não ajudam em lugar algum a engordar o quociente partidário. 

Para os operadores da política, ser derrotado nas próximas eleições é ficar com poucos deputados – daí também as federações unidas pelo acesso aos fundos Partidário e eleitoral, e nem tanto para ter um candidato à Presidência. O “centrão”, que abrange as siglas “clássicas” dessa parte do espectro, mas também fatias de PSDB, MDB e União Brasil, é o retrato sem retoques do resultado das regras do jogo mais a “evolução” do sistema de governo. E, goste-se ou não, está ali nesse “centro” o espelho da “alma” do eleitor brasileiro.

Cuja demanda majoritária, indicam as pesquisas qualitativas, é “de direita”. Sem que ser “de direita” consiga nas pesquisas ser associado claramente a qualquer definição clássica da ciência política. O “público-alvo” a ser conquistado pela terceira via é uma proporção do eleitorado (uns 30% ou até mais). Mas isso é apenas um número, difuso e disperso, que não está, até aqui, agregado a um nome, a uma legenda e, muito menos, a uma plataforma “política”.

Regras do jogo, partidos fracos (em termos de programas e ideologias), piora do sistema de governo (que já era ruim) fazem da “polarização” entre Lula e Bolsonaro a continuação do que já temos. Que é paralisia e estagnação.

Com Estadão 

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