Delegado de Polícia Civil Dr. Miguel Lucena. Foto: Agenda Capital

Por Miguel Lucena*

Em 1986, a Paraíba se preparava para um enfrentamento entre um dissidente do PDS, Tarcísio Buriti, já filiado ao PMDB, e o candidato governista, Marcondes Gadelha, apoiado pelo governador Wilson Braga, do PDS. A campanha oposicionista estava morna quando, certa noite, dispararam tiros contra a janela do chefe político oposicionista José Sérgio Maia, de Catolé do Rocha, provocando o maior reboliço político.

Ainda novinho na reportagem, com dois anos de carreira, empregado do Jornal O Norte (Diários Associados), fui escalado para a cobertura. Um dos apoiadores do candidato da oposição pôs um aviãozinho à nossa disposição. Nunca passei tanto aperto na vida, em meio às turbulências da viagem.

Chegando à cidade de Chico César, então um desconhecido, fomos direto para a casa da vítima, onde um banquete de galinha caipira, carne de sol, cuscuz e feijão verde nos esperava. O repórter José Euflávio, do Correio da Paraíba, foi se adiantando para botar cuscuz no prato quando recebeu uma advertência de José Sérgio: “Primeiro, o dono da casa!”.

Após o almoço, fomos olhar e fotografar a janela metralhada. Fiquei curioso ao notar que as balas atingiram a parte de cima da janela e as paredes, como se o atirador quisesse só assustar o coronel sertanejo.

O assunto rendeu muitas manchetes, mas até hoje ninguém descobriu quem efetuou os disparos. A oposição acusava o governo, “os herdeiros da ditadura, desesperados com a iminente derrota”. Já os governistas atribuíam o atentado a uma armação oposicionista. Abertas as urnas, o candidato da oposição se sagrou vitorioso.

Tiro que não pega em ninguém é mesmo uma coisa muito misteriosa.

*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Agenda Capital

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