Dr. Gutemberg Fialho,, presidente do SindMédico-DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho 

“Esse vírus é assustador. Uma tragédia”. Nesta semana, ao conversar com um colega médico infectologista, foi com essas palavras que ele definiu o atual cenário. Perguntei a ele sobre uma possível terceira onda e a perspectiva, caso a vacinação não seja rapidamente ampliada, é preocupante. O primeiro motivo para isso é o tempo de duração da imunidade àqueles que já contraíram o vírus alguma vez: quatro meses aproximadamente. Depois disso, a pessoa fica novamente exposta à doença. Em segundo lugar, vem a questão da imunidade vacinal. Quanto tempo ela dura? A ciência ainda não conseguiu bater o martelo. São seis meses? Um ano?  

O fato é que, enquanto a vacinação não for ampliada em todo o território nacional, o Brasil, inevitavelmente, seguirá em um looping de ondas e mais ondas de covid-19. Não só pela doença em si (aquela que veio da China), de acordo com especialistas. Mas, também, por causa das variantes: mais transmissíveis e mais resistentes às vacinas. Isso sem contar com as decisões políticas, que não estão em compasso com a gravidade da doença, e a falta de consciência da população. Máscaras ainda são essenciais. E o distanciamento social continua sendo importante no combate ao vírus. 

O exército brasileiro já se prepara para uma terceira onda, segundo ministro da Força, Paulo Sérgio. Em entrevista a um jornal local na semana passada, o militar avaliou que, em dois meses, o Brasil enfrentará uma nova etapa da pandemia, mais grave. Além disso, afirmou, essa nova onda deve começar em Manaus, de onde veio a nova cepa da doença. “Temos de estar preparados no Brasil. Não podemos esmorecer. É trabalhar, melhorar a estrutura física dos nossos hospitais, ter mais leitos, recursos humanos para, se vier uma onda mais forte, a gente ter capacidade de reação”, pontuou. 

Temos de estar preparados. Isso, como bem disse o general, significa nos adiantarmos em uma série de ações, que no caso desta segunda onda pela qual estamos passando, foram esquecidas. No DF, em vez de manterem estruturas voltadas ao combate da doença, desmontaram. Em vez de reforçarem as medidas de segurança, como a efetiva fiscalização do uso de máscaras, a ampla testagem e do distanciamento social, afrouxaram.  O lockdown mais se aproxima de ação política do que de saúde: é paliativo, permite o funcionamento de serviços não essenciais e, quando ocorre, tem curta duração, o que é ineficaz. Enquanto isso, a vacinação segue a passos de tartaruga. 

Mais uma vez, saliento: ou vacinamos amplamente a população, paralelamente com o endurecimento das medidas de segurança, ou haverá uma nova explosão de casos. Uma terceira, quarta, quinta onda de contágios e assim sucessivamente. Nesta semana, a média móvel de mortes por covid-19 no DF bateu novo recorde: 78,3. E a previsão é um abril ainda mais mortal. Se em outros países, como os da Europa (Alemanha, França, etc) aconteceu, se atentem ao caminho natural do vírus. Precisamos, com urgência, de milhões de doses de esperança.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

(Há opinião de nossos colunistas não representam necessariamente a linha editorial do Agenda Capital)

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