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País dá incentivo a profissionais voltados à inovação e, apesar do custo de vida alto, também busca atrair estudantes

Por Vivian Oswald

Os britânicos discutem o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, há mais de três anos. Sem a aprovação de um acordo pelo parlamento ontem, a imprevisibilidade que dominou a cena política do país tende a se manter em várias áreas. Faltam respostas para as muitas perguntas sobre o futuro não muito distante, inclusive na política de imigração. Muitas empresas ainda esperam clareza para investir e contratar. Ainda assim, a nação formada por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte ainda mantém muitas oportunidades para brasileiros interessados em uma experiência no exterior.

0 custo de vida do Reino Unido é um dos mais altos do mundo, e seu mercado imobiliário é tão aquecido que nem a atual crise política, a maior desde o pós-guerra, foi capaz de tomá-lo mais palatável. Tudo isso afeta os planos de quem quer trabalhar ou estudar no que ainda é um dos principais centros financeiros da Europa.

Dentro ou fora da UE, o Reino Unido já indicou que pretende continuar atraindo gente qualificada e, se possível, reter os cérebros que frequentaram os bancos de suas universidades – muitas na lista de melhores do mundo. O país dá vistos especiais para empreendedores e profissionais voltados para áreas de inovação.

Recebe o direito de residência quem abrir empresas consideradas inovadoras com 50 mil libras (cerca de R$ 268 mil) ou uma start-up que se encaixe nas regras e na lista de incubadoras do governo britânico. Neste caso, não há limite mínimo de investimento.

Os britânicos também querem atrair estudantes. O governo acaba de anunciar a meta de vender 35 bilhões de libras (R$ 188 bilhões) em cursos de graduação e pós-graduação presenciais e on-line para cerca de 600 mil alunos até 2030. Em 2016, esse valor já estava em 20 bilhões de libras (R$ 107 bilhões). O interesse não está apenas nas cifras que movimentam a economia do país, mas na manutenção da posição de excelência da academia.

Hoje, mais da metade dos artigos científicos britânicos publicados nas revistas especializadas são feitos em parceira

com estrangeiros. Todos os anos, o governo do Reino Unido realiza no Brasil a UK Universities Fair, onde representantes das melhores instituições de ensino superior britânicas apresentam opções de cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e inglês.

Durante o evento, que este ano aconteceu no início deste mês, os alunos tiram dúvidas sobre vistos e documentos, além de programas de bolsas de estudo destinados aos brasileiros. Cerca de 0,6% da população universitária brasileira vai estudar no exterior, percentual abaixo da média de 2,3% calculada pela Unesco.

INFORMAÇÕES NAS REDES

O Reino Unido é o sexto destino mais popular entre os brasileiros. Na era da hiperconexão, muitos alunos costumam se informar sobre isso em grupos especializados nas mídias sociais ou pelos sites das próprias instituições. Foi assim com o designer Leonardo de Morais, que chegou há um mês em Londres para um mestrado em Design Digital na área de saúde na University College London (UCL).

A empreitada do brasileiro é financiada pela bolsa Chevening, dogovemo britânico. Ele conta haver 59 brasileiros de diversas áreas no mesmo programa. O critério de seleção é identificar “futuros líderes” entre os candidatos. E a condição da bolsa é que, depois da experiência britânica, os alunos fiquem pelo menos dois anos no Brasil, atuando no mercado local.

Claro que não é fácil você se encaixar no mercado, principalmente no momento atual do Brasil. Mas você volta muito bem relacionado e com um currículo muito melhor, o que certamente abre portas. Há casos em que você é convidado a trabalhar em projetos britânicos – conta Leonardo, que se prepara para um estágio no NHS, o equivalente ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Reino Unido.

Segundo ele, as universidades e institutos estão sempre atualizando informações sobre cursos e bolsas em seus perfis nas redes sociais. É importante seguir todas elas – recomenda ele.

Bruna Montuori se mudou para Londres com uma bolsa do CNPq, que banca todas as suas despesas do doutorado em Arquitetura, com especialização em estudos de movimentos sociais, na Royal College of Arts. Ela foi com o marido, que resolveu pagar com recursos próprios um mestrado na área de negócios.

Existe a possibilidade de os brasileiros com passaporte europeu usufruírem das taxas especiais oferecidas aos vizinhos do velho continente, mas é preciso comprovar residência de no mínimo três anos, além da apresentação do documento, para ser contemplado.

Hoje, Bruna é presidente da Abep-UK, a associação de brasileiros estudantes de pós-graduação e pesquisadores do Reino Unido. Sua missão é aproximar quem veio estudar no país, dar dicas de oportunidades e ajudar com detalhes práticos:

O clima aqui é muito ruim, e a vida, cara. Faço tudo de bicicleta, até para economizar em transporte. Mas adoro Londres. A grande vantagem é que daqui sai o conhecimento. Tem gente relevante de tudo quanto é lugar, discutindo sobretudo. A vida cultural tem muitas opções gratuitas. A diversidade é outro ponto forte.

A boa notícia para os estudantes é que a cotação da libra tem dado uma pequena folga nestes anos de Brexit. Pode ser que caia ainda mais, a depender dos desdobramentos deste processo, que, tudo indica, não vai terminar na última data marcada: 31 de outubro.

Com o Brexit, no entanto, há quem diga que as taxas das universidades podem ficar mais caras. Para brasileiros com passaporte europeu, a vida pode ser um pouco mais fácil, sobretudo para aqueles que querem ficar no Reino Unido depois de concluir os estudos ou os que acompanham os estudantes. O país deve manter regras de permanência para europeus que já estão lá após a saída da UE.

A cidadania italiana ajudou os planos de Cintia Casati, formada em Jornalismo, com pós-graduação em Comunicação e Marketing pela USP:

Decidimos vir para cá, pois meu marido queria fazer uma transição na carreira e decidiu aplicar para o mestrado. Ele passou na London Business School, que é uma escola renomada na área dele. Sempre quisemos ter uma experiência no exterior. Como temos cidadania italiana, nosso foco foi a Europa.

Para complementar a renda, ela decidiu trabalhar, o que foi possível com seu passaporte europeu. Cônjuges podem trabalhar dependendo da duração do visto dos estudantes. Cintia também queria ganhar fluência no idioma para tentar algo mais relacionado à sua

Em janeiro, terei a oportunidade de estagiar na minha área na companhia onde trabalho. Meus colegas relatam que, aqui em Londres, quem quer trabalhar duro consegue crescer dentro das empresas com uma certa rapidez.

IRLANDA: OPÇÃO MAIS BARATA

Na capital britânica há 17 anos, a advogada brasileira Vitoria Nabas, sócia do escritório com a maior equipe de língua portuguesa do Reino Unido, afirma que é preciso tomar alguns cuidados antes de vir, como estar atento aos vários tipos de visto – de estudante e profissional – e aos direitos que eles dão aos seus portadores. Ela lembra que o país não reconhece a união estável (aceita a do Brasil em pouquíssimas exceções).

Portanto, quem quiser trazer o parceiro tem que estar casado, e a certidão precisa ter mais de dois anos para que obtenha o visto de cônjuge – afirma Vitoria.

Avizinha Irlanda, que não faz parte do Reino Unido e se mantém na União Européia, é outra opção para quem quer estudar em inglês. Os cursos costumam ser mais baratos que os do Reino Unido. E o custo de vida, em euros, é mais razoável. As universidades também estão atrás de alunos estrangeiros, e muitas delas oferecem bolsas.

Quem estuda na Irlanda pode, dentro de certos limites, arranjar um emprego para ajudar a pagar o custo de vida, desde que esteja matriculado em um curso reconhecido com duração mínima de 25 horas semanas (com carga mínima de 15). Os alunos não europeus podem trabalhar até 20 horas semanais durante o ano letivo e até 40 horas durante as férias, que são de dois meses.

Niall Lane, responsável pelo recrutamento de alunos das Américas para a University College Dublin (UCD), afirma que a instituição oferece bolsas para estudantes brasileiros, entre elas a Global Excellence Scholarship, que pode cobrir 100% das despesas da universidade.

Nos últimos anos, foi oferecida uma bolsa especial para alunos de mestrado interessados em literatura e cultura irlandesa. Não se sabe se a modalidade continuará, mas a UCD recomenda aos interessados acompanhar o seu site.

O clima aqui é muito ruim, e a vida, cara. Faço economizarem transporte. A grande vantagem é que daqui sai o conhecimento. Tem gente relevante de tudo quanto é lugar, discutindo sobre tudo. E a vida cultural tem muitas opções gratuitas”

Bruna Montuori é presidente da Abep-UK, associação de brasileiros estudantes de pós-graduação e pesquisadores do Reino Unido

O passo a passo para os estudos

REINO UNIDO

Passaporte europeu: Com o Brexit. mudam as regras de visto de residência para quem tem passaporte europeu. Essas pessoas precisam se registrar junto às autoridades de imigração competentes até 31 de dezembro de 2020 para que possam continuar vivendo no país. Hoje. esse registro não é cobrado. Depois do Brexit. o sistema será bem mais rigoroso. Quem não tiver o documento de identificação nacional não poderá ficar. A partir de 2021. os europeus que não estiverem registrados vão precisar de um visto, o que não existe hoje. Sem isso. estarão em situação irregular e poderão ser deportados.

Estudos: O site do British Council é o melhor ponto de partida para quem pretende estudar no Reino Unido, com informações sobre certificações, cursos de inglês, de graduação e pós-graduação. Inclui ainda dados sobre bolsas, como as oferecidas pelo programa Chevening. As inscrições para 2020/2021 estão abertas até 5 de novembro. Há também dados de feiras de educação, como a UK Universities Fair. Para os brasileiros, vale ainda visitar o site da Abep-UK.

IRLANDA

Estudos: Quem vai para a Irlanda para estudar pode trabalhar em período parcial, de 20 horas por semana, durante o período letivo, e de 40 horas por semana nas férias. 0 país é visto como referência em inovação e empreendedorismo. Informações sobre cursos superiores e bolsas de estudos podem ser obtidas no site da Education Ireland.

Com informações do O Globo

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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