Partido pela Liberdade, liderado pelo agitador político Geert Wilders, é conhecido por posições anti-Islã e anti-UE.

Partido pela Liberdade defende saída do país da União Europeia e denuncia ‘invasão islâmica’ no Ocidente

Por Redação

A Holanda passou por uma reviravolta política surpreendente, nesta quarta-feira (22/11), quando o Partido pela Liberdade (PVV), sigla de extrema direita que fez campanha massiva utilizando a bandeira anti-imigração, foi o mais votado nas eleições legislativas nacionais, segundo pesquisas boca de urna divulgadas logo após o fim do pleito. A vitória do partido acende um alerta na União Europeia, que ainda aguarda a formação de governo para medir os impactos da votação para além das fronteiras de um de seus principais integrantes.

O Partido pela Liberdade, liderado pelo atvista político Geert Wilders, é conhecido por posições anti-Islã e anti-UE. De acordo com as projeções iniciais, a sigla deve conquistar entre 35 e 37 cadeiras no Parlamento, o maior bloco conquistado por um único partido no pleito, a frente da aliança de esquerda e do bloco de centro-direita VVD, que devem ter 25 e 24 assentos, respectivamente, segundo levantamento da IPSOS.

O eleitor holandês falou, disse Wilders, em um discurso na noite de quarta-feira, reivindicando a vitória. Os holandeses esperam que o povo possa recuperar seu país e que possamos garantir que o tsunami de solicitantes de asilo e imigração se reduza.

Se os resultados preliminares se mantiverem, a Holanda estará no limiar de um terreno político incerto, após 13 anos de gestão do primeiro-ministro Mark Rutte, um fiel da política holandesa e líder confiável dentro da União Europeia. Embora tenha ajudado a construir um lugar de destaque para o país no bloco, ao promover uma agenda econômica baseada no livre comércio e em regras comuns, Rutte não conseguiu evitar o colapso de seu Gabinete após fracassar em apresentar uma política migratória que pacificasse o país.

Em julho, o líder holandês anunciou que se afastaria permanentemente da vida política. Ele permanece no cargo apenas até o momento em que o novo governo seja formado.

Prefeita de Amsterdã entende o medo e as preocupações dos residentes após a vitória do PVV

“Não aceitamos nenhum racismo, nenhum ódio muçulmano, nenhuma xenofobia. Compreendemos seus medos e preocupações. Estamos com vocês, pertencemos um ao outro.” A prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, disse isso na quinta-feira em resposta à vitória eleitoral do PVV.

“Caros residentes de Amsterdã, nesta cidade todos são iguais e todos podem esperar o mesmo tratamento”, disse o prefeito no Instagram. “Vemos a dor de muitos residentes de Amsterdã, as grandes preocupações com eles próprios e com seus filhos e eles se perguntam: ‘Ainda podemos estar aqui?’, ‘Estamos protegidos se necessário?’ A resposta é sim! Você é um cidadão de Amsterdã, juntos formamos nossa cidade livre e tolerante.’

Vitória nas urnas, governo em aberto

Ao comemorar o resultado conquistado nas urnas, Wilders afirmou que seu partido “não pode ser mais ignorado”, e convocou os demais partidos políticos a se abrirem para negociar a formação de um Gabinete liderado pelo PVV. O cenário, contudo, não é dos mais simples.

Líderes dos três principais partidos do país declararam que não formariam parte de uma coalizão com o PVV. Apenas Novo Contrato Social, partido que deve obter 20 assentos segundo a pesquisa de boca de urna, sinalizou estar “disponível”, mas seu líder, Pieter Omtzigt, antecipou que a negociação “não será fácil”.

Para a formação do último governo, foi necessário o recorde de 271 dias. E, por enquanto, a incerteza é total.

Anti-UE e anti-imigração

Geert Wilders faz parte do cenário político holandês há décadas, construindo sua carreira sobre uma cruzada contra o que ele chama de “invasão islâmica” no Ocidente. Seus desentendimentos com a justiça, que o considerou culpado de insultar os marroquinos (a quem chamou de “escória”), e as ameaças de morte, que o fazem estar sob proteção policial desde 2004, não o desanimaram.

O líder radical já propôs a detenção e deportação de imigrantes ilegais e a devolução de solicitantes de asilo da Síria. Ele também se disse favorável a taxar as diferentes vestimentas muçulmanas para cobrir a cabeça e à proibição do Alcorão.

Embora a eleição, incluindo as críticas de seus rivais, tenha sido marcada por um debate forte relacionado ao tema da imigração, o candidato tentou suavizar sua imagem para agradar uma parcela maior do eleitorado, na linha de que o país teria problemas mais urgentes do que os solicitantes de asilo. Após votar em Haia, ele disse à imprensa que seria primeiro-ministro “para todos”.

Manifestação programada hoje na Praça Dam em Amsterdã contra os resultados eleitorais

Uma manifestação foi anunciada contra a vitória eleitoral do PVV. No Instagram, as pessoas estão convocando uma manifestação na Praça Dam na noite desta quinta-feira (23/11), às 19h30.

“O PVV tornou-se o maior e a esquerda parlamentar é menor do que nunca”, escreve Krakenburg020 no Instagram. “No meio de um genocídio em Gaza, os Países Baixos escolhem a islamofobia. Mas a esquerda ainda não foi derrotada nas ruas. Fale contra a islamofobia, contra o racismo, contra o ódio anti-queer. E fale pela luta climática. Juntos lutaremos mais do que nunca”, disse.

Um porta-voz da prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, afirma que nenhuma manifestação foi registrada, mas que também não é uma obrigação legal. ‘O direito fundamental de manifestação é uma base importante para o nosso estado constitucional e iremos facilitar isso tanto quanto possível.’

Amsterdã não é a única cidade onde será organizada uma manifestação contra a vitória do partido de Geert Wilders na quinta-feira. A filial local do PvdA também se manifestará em Utrecht, uma das cidades mais importantes da Holanda, na tarde de quinta-feira a partir das 17h. 

Cenário europeu

O Partido pela Liberdade segue uma linha de política externa de “Holanda em primeiro lugar”, e tem um viés negativo quanto à integração europeia.

A Holanda será mais dura e mais conservadora na Europa, inclusive em matéria de orçamentos e migração, disse Simon Otjes, professor assistente de política holandesa na Universidade de Leiden, em entrevista ao The New York Times.

No programa do partido, figura um referendo sobre o “Nexit”, a saída da Holanda da UE. Também consta um “cessar-imediato” da ajuda ao desenvolvimento. Apesar disso, o professor disse que o tema não teve lugar de destaque na campanha, e classificou como improvável um avanço neste sentido, pela falta de apoio à medida no Parlamento.

Por outro lado, a vitória de Wilders prolonga uma série de avanços de partidos de extrema direita no norte da Europa, incluindo a Suécia, onde o governo agora depende dos votos parlamentares de um partido com raízes neonazistas, e a Finlândia, onde a direita ascendeu.

Pouco depois do resultado da boca de urna ser anunciado, o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, símbolo do que os analistas chamam de “democracia iliberal” comemorou os “ventos de mudança” na Holanda. No tabuleiro europeu, Bruxelas é, até o momento, um dos principais contestadores de Orbán.

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Com Agenda Capital, AFP e NYT

 

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