Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: reprodução

Políticos acreditam no esgotamento da polarização e na aposta do eleitor em um nome moderado

Por Daniel Carvalho*

Recuperando-se da ressaca prolongada causada pela eleição presidencial de 2018, partidos derrotados miram o centro do espectro político para se reposicionarem até a disputa de 2022. Já o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem procurado manter a polarização esquerda-direita que o levou ao Planalto.

Dirigentes de outros partidos, no entanto, apostam no desgaste dessa tensão e na fadiga do governo por causa de tropeços administrativos e de uma recuperação econômica aquém das expectativas – bancos e consultorias têm revisado suas projeções de crescimento para níveis inferiores a 2% em 2020.

Para esses políticos, se o governo não der certo, a decepção da população pode trazer o eleitor para o centro em busca não de uma outra ideologia, mas de um novo nome. Apesar de estarmos a três anos das eleições, análises sobre possíveis candidatos de centro já irrompem em rodas de conversa.

Um dos mais fortes é o do apresentador e empresário Luciano Huck, que, por ora, mantém o discurso oficial de que é apenas um cidadão interessado em ajudar o Brasil, mas, como a Folha mostrou, tem intensificado sua movimentação política nos últimos meses, em sinal de que a canditadura é uma vontade mais viva do que nunca.

Mas o deslocamento até o centro não é simples para todas as siglas, a começar pelo PT. A legenda vive um tensionamento entre integrantes da ala majoritária e a presidente nacional do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), que segue no comando com o aval ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.

Nomes desse grupo majoritário dizem querer posicionar o partido na centro-esquerda, com um discurso menos agressivo e que permita a retomada do diálogo com antigos aliados, como PDT e PSB.

A ala chegou a ensaiar uma rebelião para levar o ex-prefeito de São Paulo e presidenciável derrotado Fernando Haddad (SP) à presidência petista, mas houve recuo depois que

Lula deixou claro que queria manter Gleisi no cargo.

Parlamentares classificam o discurso do PT sob as rédeas de Gleisi como mais radical e tentam repartir o poder interno para comandar estruturas do partido, como a secretaria de comunicação.

É uma tentativa, dizem, de reaproximar a legenda do eleitorado com o qual perdeu interlocução, o mais pobre e conservador, em especial os evangélicos. O rumo que o PT irá tomar depende de uma condicionante: se Lula será solto ou permanecerá preso.

Fora da prisão, correligionários dizem acreditar que ele pode conduzir articulações com partidos do campo de centro-esquerda. Atrás das grades, tende a querer elevar o tom de enfrentamento, restringindo alianças.

Hoje, o MDB não cogita lançar candidato à Presidência, mas quer se colocar claramente como uma legenda de centro. “Compromisso permanente é com a democracia e a liberdade”, segundo consta em cartilha elaborada pela Fundação Ulysses Guimarães, ligada ao partido.

Já o PRB começou mudando de nome e agora se chama Republicanos. A legenda, que já esteve associada ao PT e foi se afastando gradualmente da esquerda, se coloca como de centro-direita, posição que confere elasticidade para apoiar de um nome de centro a um mais extremo, caso a polarização não deteriore como esperado pelos políticos ouvidos nos últimos dias.

Em manifesto que está para ser divulgado, o partido se dirá liberal na economia e um movimento político conservador, fundamentado nos valores cristãos, tendo a família como alicerce da sociedade, mas sem levantar bandeira radical nos costumes.

“Entendemos que a sociedade vai amadurecer, compreender o processo democrático e entender que o equilíbrio é melhor que os extremos” diz o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).

O PSDB tem o governador de São Paulo, João Doria, como postulante ao Planalto e trabalha para se desfazer da imagem de partido em cima do muro para uma legenda com posicionamento entre centro e centro-direita.

Interlocutores da cúpula tucana dizem que, desde que deixou para trás o slogan Bolsodoria que o ajudou a chegar ao Palácio dos Bandeirantes na última eleição, o governador tem se afastado da direita mais extremada.

Aliados ponderam que é o melhor que o tucano tem a fazer, já que, numa disputa pelo eleitorado mais conservador, a tendência é que o original vença o genérico. Há, porém, episódios que colocam em dúvida a disposição de Doria de se distanciar do extremo, como quando mandou recolher das escolas estaduais um material didático que falava em identidade de gênero.

Também na centro-direita se coloca o DEM, que vê esse campo como espaço livre, já que a direita está ocupa da por Bolsonaro e a esquerda, por PT e aliados. O DEM não quer definir agora alianças para 2022 para não antecipar desgastes.

A sigla comanda três ministérios no governo de Jair Bolsonaro (Casa Civil, Saúde e Agricultura) e vem sendo assediada pelo governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), que almeja disputar a Presidência e já ofereceu espaço em seu secretariado, em uma tentativa de costurar aliança tanto para 2020, na eleição municipal, como para 2022.

“Como o Democratas não se debruçou até agora sobre o assunto e, internamente, tem posições bastante heterogêneas, nosso foco está todo em 2020, portanto, não tratamos de 2022”, disse o presidente da sigla, o prefeito de Salvador, ACM Neto.

*Com informações da Folha

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