Para ser um bom pai, especialista recomenda prestar atenção nas necessidades dos filhos

Especialista fala sobre os desafios da criação dos filhos e dá dicas para pais de primeira viagem

Por Guilherme Santiago

Para ser bom pai, não basta pagar as contas de casa, a mensalidade da escola ou as compras do mês. Segundo o psicólogo Leonardo Piamonte, dono do perfil ‘Psicologia da Paternidade’ no Instagram, também é papel do pai estar emocionalmente disponível para o filho e querer, genuinamente, ter trocas emocionais com a criança. E não de forma esporádica. Para Piamonte, a paternidade precisa ser constante e estar presente nos atos diários de cuidado.

Segundo o especialista, esse é um conceito de paternidade diferente da visão de alguns anos atrás, quando era comum associar o cuidado às mulheres. Esse pode ser o grande desafio para a paternidade atual: o papel do homem inclui tanto suporte financeiro quanto emocional

A reportagem, o psicólogo Leonardo Piamonte explica sobre os desafios da paternidade atual e compartilha dicas para os pais de primeira viagem.

Quais os desafios em ser pai nos dias atuais?

O desafio é entender como passar da paternidade baseada na proteção para uma baseada no cuidado. Proteção é importante, mas pais também precisam incorporar elementos do cuidado diário. Seja montando a lancheira para a escola ou verificando se tem roupa suficiente no guarda-roupa. É preciso sair da paternidade que acontece de forma esporádica para uma constante.

Cabe ao pai também equilibrar as tarefas do lar. Não basta criar relação com o filho, mas também com a casa. Historicamente dividimos os trabalhos baseado no gênero. Enquanto o homem trabalhava fora, a mulher cuidada das tarefas domésticas. É um combinado social muito antigo, mas são necessários novos combinados.

Houve uma evolução na paternidade nos últimos anos?

Não diria que há evolução. Estamos mudando, passando por uma crise na paternidade, que exige reformular algumas práticas. Essa é uma oportunidade para construir um novo modelo do que é ser pai, mas isso leva tempo. É preciso mudanças na lei. Vivemos em um País onde a licença-paternidade é de apenas 5 dias. Essa parece não ser uma discussão importante para a legislação brasileira.

E como resolver esses desafios?

A criação baseada no respeito, afeto e acolhimento é uma grande oportunidade para resolver os desafios da paternidade. Estamos diante de uma revolução do cuidado masculino, em que homens vão entender, cada vez mais, que o cuidado de si mesmo, dos outros e do ambiente é transformador.

Quando temos um homem que também é cuidador, pais e filhos têm relação mais saudável e convívio mais pacífico. Isso, além de tudo, contribui para a saúde mental da mãe, que historicamente sofre com a sobrecarga da dupla jornada de trabalho.

Quais os benefícios de uma paternidade com demonstração de afeto?

Quando falamos com outros homens a respeito de demonstrar sentimentos, a primeira coisa que vem na cabeça deles é que o homem vai virar um chorão ou um ser mais frágil. Mas essa não é a visão apropriada. Pesquisas mostram que crianças criadas em ambiente de afeto desenvolvem a linguagem mais rápido, ganham habilidades de inteligência emocional e adquirem empatia e autoestima.

Uma criança que recebe essa demonstração de sentimentos de mais de um cuidador, além da mãe, é muito mais sadia. O afeto é tão importante quanto a nutrição, uma dieta apropriada ou o exercício físico. Quando falamos de paternidade afetiva, também falamos de uma sociedade menos doente.

Por isso, habilidades emocionais são fundamentais, em especial entre os homens, que costumam ter seus sentimentos reprimidos. Em geral, a repressão desses sentimentos se transforma em violências e agressões. E ter um pai violento não faz bem.

Como não reproduzir os erros dos nossos pais com nossos filhos?

Para ser um pai melhor, é preciso estar atento ao filho. Alguns filhos vão precisar que o pai seja uma fonte de inspiração. Para outros, uma fonte de confiança. Por isso, digo que não é tanto sobre o pai que eu gostaria de ter tido ou o pai que eu gostaria de ser. É mais sobre o pai que meus filhos precisam que eu seja.

E você pode tentar encontrar um equilíbrio: nem tentar ser exatamente o pai que você gostaria de ter tido, nem esquecer completamente das coisas que te incomodaram em sua criação. Uma mistura entre esses dois pontos – e sempre prestar atenção nas necessidades dos pequenos – pode evitar certos erros na criação dos filhos.

O que é ser um bom pai hoje?

Um bom pai, há pouco tempo, era aquele que não deixava faltar comida, roupa e moradia para o filho. Isso é importante e não tem de mudar. Na verdade, tem de aumentar. Precisamos de mais pais provendo essas condições básicas para a criança estar bem cuidada. Afinal, cada vez mais vemos abandonos paternos no Brasil e crianças sem o sobrenome do pai na identidade.

No entanto, é preciso complementar essa proteção financeira com outras condições importantes para a vida. O bom pai é aquele que além de prover recursos financeiros, também está disponível emocionalmente. É positivo que o pai pague as contas, mas é mais positivo ainda que pague as contas e esteja disposto a ter troca emocional com a criança.

Pais de primeira viagem podem se preparar para essa experiência?

O pai de primeira viagem pode utilizar de diferentes recursos. As redes sociais, por exemplo, podem ser importantes aliadas nesse período. Há grupos formados por homens, pais de primeira viagem, que compartilham dicas e experiências.

Mas é essencial que o pai busque se engajar e assumir esse desafio, como uma nova fase da vida. É preciso que seja curioso, assim como quando fazemos uma viagem para um lugar que nunca fomos, e esteja disponível para vivenciar diferentes momentos da experiência. Pode ser dando banho no filho sozinho, aprendendo a trocar fralda ou vendo se as vacinas estão em dias.

É muito comum que as famílias deixem esse cuidado na mão das mães, da sogra ou da avó e o homem não participe. Mas construir o espaço do cuidado e mantê-lo vivo é importante. Essa também precisa ser a viagem do pai.

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Com Estadão

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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