Por Delmo Menezes

Funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana e poder resolver grande parte das urgências e emergências, como problemas de pressão, febre alta, fraturas, cortes, infarto e derrame, ou seja, ser resolutivo em 97% dos casos, é o que na teoria deveria ser o papel das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Na prática, porém não é isso que temos visto nas UPAs do Distrito Federal e do restante do país.

No projeto original da Política Nacional de Urgência e Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde (MS) em 2003, que estrutura e organiza a rede de urgência e emergência no país, com o objetivo de integrar a atenção às urgências, as UPAs seriam fundamentais para desafogar os Prontos Socorros dos hospitais espalhados pelo país. Com isso, ajudariam a diminuir as filas das emergências.

DSCN4544No plano estabelecido pelo MS, as UPAs revolucionariam o atendimento de emergência, oferecendo uma estrutura simplificada, porém com muita eficiência. As Unidades no projeto original, seriam equipadas com raio-X, eletrocardiografia, pediatria, laboratório de exames e leitos de observação para os pacientes. Quando o usuário chegasse às unidades, os médicos prestariam socorro imediato, estabilizando o paciente e detalhando o diagnóstico. Dependendo da avaliação, o paciente seria encaminhado ao hospital de referência ou mantê-lo em observação por 24 horas.

UPAs no DF

Aqui no Distrito Federal, existem 06 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) tipo III, inauguradas na gestão anterior, com capacidade de atendimento médio de 350 pacientes por dia, para uma população na área de abrangência de 200 mil a 300 mil habitantes, com no mínimo 15 leitos de observação. Estas Unidades segundo o Ministério da Saúde, seriam responsáveis pela resolução de 90% das demandas de urgência e emergência, diminuindo o fluxo de usuários nos hospitais.

As UPAs, reduziriam o tempo de espera para atendimento de emergência, com uma redução de 27% da taxa de ocupação dos Prontos Socorros.

Como funcionam hoje

Esta semana, o Agenda Capital visitou algumas Unidades de Pronto Atendimento no Distrito Federal, classificadas pelo Ministério da Saúde, como tipo III.

Upa - ceilândia-Nos chamou atenção a superlotação destas unidades, e que apesar dos esforços dos seus profissionais, ficam muitas vezes “de mãos atadas” sem ter como remover pacientes graves para hospitais de referência, haja visto, que os mesmos estão sem disponibilidade de leitos para receber mais pacientes, como é o caso do Hospital Regional de Taguatinga, Hospital Regional de Ceilândia, Hospital de Base e Hospital Regional da Asa Norte.

O custeio mensal repassado pelo Ministério da Saúde, dependendo do seu credenciamento, gira em torno de R$ 300 a 500 mil/mês, sendo que estes recursos são gerenciados pela Administração Central (ADMC), da Secretaria de Saúde.

Quando foi inaugurada a Unidade de Pronto Atendimento do Núcleo Bandeirante, no dia 28/09/2012, a unidade tinha capacidade para atender até 450 pacientes/dia, com um quadro em torno de 280 a 300 servidores, sendo 05 médicos por turno. A média nos três primeiros meses, foi de 300 pacientes/dia.

DSCN4542Hoje, esta mesma unidade, atende em torno de 130 pacientes/dia, com 02 médicos por turno, em um quantitativo de 170 servidores. Cada médico trabalha 20h semanais. Se a carga horária dos profissionais médicos passasse para 40h, já seria suficiente para dobrar o número de atendimentos na UPA. A situação atual, é que todos os 22 médicos lotados nesta unidade, trabalham com 20h horas semanais.

Outro problema grave, são pacientes que deveriam permanecer em observação até 24h, muitas vezes são obrigados a ficar nas Upas por vários dias, devido a falta de leitos nos hospitais. Neste caso, elas perdem totalmente as características originais, funcionando como hospitais de baixa complexidade.

A conta é simples, para atender o mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde que é de 300 pacientes/dia, esta unidade teria que dispor de 04 a 05 médicos por turno o que daria para diminuir consideravelmente o número de pacientes que superlotam os Prontos Socorros da região.  Este cálculo vale para as demais unidades do Distrito Federal.

Empenho dos servidores

Mesmo diante da escassez de servidores, podemos constatar “in loco”, o quanto a equipe de profissionais se esmera em fazer o melhor para atender a população que procura diariamente a Unidade de Pronto Atendimento.

O paciente Júlio César de Almeida Braga, que mora em uma chácara perto do Lago Oeste no DF, conta: “cheguei na segunda-feira (11) na Upa do Bandeirante com febre de 39,9º e em menos de 20 minutos fui atendido, pela equipe da Upa. Gostei muito do atendimento, não troco por nenhum hospital particular”, declarou.

O diagnóstico do senhor Júlio é Erisipela, uma doença na pele que tem cura e que provoca feridas vermelhas.  Está tomando o antibiótico recomendado pela equipe médica, chefiada pela Dra. Camilla Lima, tendo como Gerente o Sr. Evilásio Ramos.

Como podemos constatar, as UPAs, na interação com a Atenção Básica e atendimento nas salas vermelhas e amarelas dos hospitais, já resolveriam grande parte dos problemas que verificamos diariamente nos hospitais da rede pública de saúde do DF e do Brasil.

Importante ressaltar, que o modelo original de implantação das UPAs, se houver uma  gestão eficiente, é extremamente válido, com um alto índice de resolutividade, deixando os hospitais de referência, para casos de média e alta complexidade.

Da Redação do Agenda Capital

2 COMENTÁRIOS

  1. Parabenizo a matéria, reiterando o que o colega disse, pra funcionar as upas precisam dos médicos, assim como uma equipe multidisciplinar, eu trabalho na upa do Bandeirantes e quando ela tinha uma equpe completa, podem puxar os relatórios e ver o quanto ela tinha de elogios no sistema. Precisa de médicos, técnicos em enfermagem, laboratório, raio x, administrativo, enfermeiros, farmacêuticos. Saúde se faz com todos, um completanto o serviço do outro. É muito triste a situação que hoje se encontra a upa do Bandeirantes, mas mesmo assim atendemos de acordo com nossas possibilidades.

  2. Boa colocação, a não ser, porque estes atendimentos como bem colocados na matéria teriam um aumento com as 40h não de apenas médicos e sim de todos os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar; não é só a saúde que precisa mudar e sim a cultura do brasileiro em pensar que a saúde e feita apenas por médicos, mas sim, por equipes multidisciplinares e, de nada adianta colocar o dobro de médicos enquanto a retaguarda fica enfraquecida com um número insuficiente de farmacêuticos, técnicos em enfermagem, enfermeiros, etc.
    Boa matéria a não ser por ter um cunho um tanto corporativista em prol de uma única profissão -portanto, precisamos de mudanças urgentes na saúde e de investimentos em educação para melhorar o conhecimento do real entendimento do termo saúde e daqueles que dão seu suor para que ela realmente aconteça.

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