Presidente russo afirma que “deixou” rebelião durar quase 24 horas para dar ao Grupo Wagner “a chance de cair em si” e evitar derramamento de sangue. Ucrânia e Ocidente querem que russos matem uns aos outros, diz.

Por Redação

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um pronunciamento à nação nesta segunda-feira (26/06) sobre a rebelião lançada pela organização paramilitar russa Grupo Wagner, que foi abortada em menos de 24 horas após um acordo entre as duas partes mediado pelo governo de Belarus.

Putin afirmou que todas as medidas necessárias foram tomadas para proteger o país e o povo do motim no sábado, alegando que deixou deliberadamente a rebelião durar o quanto durou para evitar derramamento de sangue. A insurreição, contudo, seria derrotada de qualquer forma, com ou sem acordo, disse o líder russo.

A declaração, a primeira sobre o tema desde que ele discursou no sábado prometendo sustar o motim, pareceu ter a intenção de pôr um ponto final no incidente que vários líderes ocidentais consideraram ter exposto as vulnerabilidades do regime de Putin.

“A revolta teria sido reprimida de qualquer maneira, mas eu dei a ordem para evitar derramamento de sangue”, disse o líder russo em discurso televisionado.

“Foi necessário tempo, entre outras coisas, para dar àqueles que cometeram um erro uma chance de cair em si, de perceber que suas ações eram firmemente rejeitadas pela sociedade, e que a aventura em que se envolveram teria consequências trágicas e destrutivas para a Rússia.”

“Inimigos da Rússia”

No discurso, Putin também acusou a Ucrânia e seus aliados do Ocidente de quererem que os russos “se matem uns aos outros”.

“Era precisamente esse fratricídio que os inimigos da Rússia queriam: tanto os neonazistas em Kiev quanto seus patronos ocidentais, e todos os tipos de traidores nacionais. Eles queriam que os soldados russos se matassem uns aos outros.” Putin vem usando a narrativa de que um dos objetivos de sua guerra contra a Ucrânia é a “desnazificação” do país vizinho.

No pronunciamento, o presidente disse que seus inimigos “calcularam mal” a investida, alertou que todas as tentativas de semear o caos na Rússia falharão, e agradeceu à nação pela “resistência, unidade e patriotismo”. “A solidariedade civil mostrou que qualquer chantagem, qualquer tentativa de organizar turbulência interna está fadada ao fracasso.”

Segundo ele, todos os níveis da sociedade assumiram “uma posição firme e inequívoca de apoio à ordem constitucional”, e “se uniram em torno do mais importante: responsabilidade pelo destino da pátria”.

Putin também agradeceu a “todos os soldados e funcionários do serviço de inteligência que ficaram no caminho dos amotinados”, bem como aos mercenários que desistiram da rebelião e não deixaram a situação piorar.

Ele afirmou ainda que honraria sua promessa de permitir que os combatentes do Grupo Wagner deixem a Rússia em direção a Belarus, se assim desejarem, ou assinem um contrato com o Ministério da Defesa para continuar servindo a Rússia, ou mesmo retornem às suas famílias.

Em seu discurso, o presidente russo não mencionou o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que liderou o motim. Mas agradeceu ao presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, por intermediar o acordo com Prigozhin que deu fim à rebelião.

Insurreição de curta duração

A extraordinária sequência de eventos no sábado foi vista internacionalmente como a crise de segurança mais séria da Rússia em décadas. Naquele dia, Prigozhin ordenou que suas forças marchassem em direção à capital russa e convocou uma rebelião armada para derrubar a liderança militar da Rússia.

Os combatentes mercenários ocuparam instalações militares importantes na cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, que serve de centro logístico para o Exército russo e sua invasão da Ucrânia. Blogueiros militares russos relataram que o grupo, durante seu avanço, derrubou seis helicópteros russos e um avião de comando e controle.

Em resposta, os militares russos reforçaram as defesas de Moscou, com Putin prometendo duras consequências para a “traição” de Prigozhin. Mas, horas depois, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, anunciou que Prigozhin havia concordado com um acordo para partir para a vizinha Belarus. As acusações contra o chefe miliciano de promover uma rebelião armada seriam retiradas, de acordo com o Kremlin, e as forças do Grupo Wagner deixaram Rostov-on-Don.

No sábado, Prigozhin disse que estava partindo para Belarus, e um popular canal de notícias russo no Telegram relatou que o chefe dos mercenários já está num hotel em Minsk, capital belarussa – embora em declaração nesta segunda-feira Prigozhin não tenha dado indícios sobre seu paradeiro ou planos futuros.

Com DW (Reuters, AFP, DPA, AP)

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