O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursa durante desfile militar do Dia da Vitória, nesta segunda, 9. Reuters.

Presidente russo tentou canalizar sentimento nacionalista para a campanha na Ucrânia e voltou a relacionar o governo de Kiev ao nazismo e a criticar ‘avanço da Otan’ em direção à Rússia

Por Agências Internacionais

Ao contrário do que autoridades ucranianas esperavam, o presidente russo, Vladimir Putin, não anunciou uma escalada militar no conflito do Leste Europeu nesta segunda-feira, 9, em seu discurso no Dia da Vitória — feriado nacional que comemora o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra. Repetindo a narrativa do Kremlin desde o início do conflito, Putin voltou a defender a ação militar na Ucrânia como “necessária, oportuna e a única solução certa” e acusou o Ocidente de pressionar a Rússia por meio da expansão da Otan.

Falando de sua tribuna montada no Mausoléu de Lenin, o presidente reafirmou que atacar a Ucrânia era “inevitável”, chamando a ação de um ataque “preventivo”. Ele também condenou “ameaças externas” que estariam tentando enfraquecer e dividir a Rússia, repetindo argumentos de que a Otan estaria criando ameaças bem perto de suas fronteiras.

Diante dos cerca de 11 mil militares que participaram do desfile em Moscou, Putin tentou canalizar o orgulho russo e o sentimento nacionalista do feriado nacional em apoio à invasão da Ucrânia. “Vocês estão lutando pela Pátria, por seu futuro, para que ninguém se esqueça das lições da 2ª Guerra”, disse, dirigindo-se às forças russas na Ucrânia. “Para que não haja lugar no mundo para carrascos, justiceiros e nazistas.”

Tanques russos participam de desfile militar na Praça Vermelha, em homenagem ao Dia da Vitória. 

O uso político do feriado nacional por Putin foi condenado por opositores do Kremlin, que lamentaram a “manipulação” feita pelo presidente para relacionar a invasão da Ucrânia e a derrota da Alemanha nazista. “Esqueça o 9 de maio. Este não é o seu feriado”, escreveu Mikhail Khodorkovski, um ex-bilionário crítico de Putin no Telegram.

Anna Mongait, jornalista independente, transmitiu o desfile em seu canal no YouTube, intercalando o vídeo oficial com seus próprios comentários e entrevistas com pessoas ao longo do trajeto. “Antes, esta era uma mostra de equipamento técnico-militar que víamos uma vez por ano”, disse Mongait, que agora está exilada na Geórgia. “Agora vemos isso como as armas da morte, e há mortes concretas, cadáveres reais. É impossível ficar indiferente. Eu não entendo como as pessoas podem ficar lá e aplaudir.”

Em um raro reconhecimento do preço da guerra, Putin disse que a morte de cada soldado era um “peso para todos nós”’ e prometeu que o governo faria “tudo para cuidar” das famílias dos mortos, anunciando um decreto para dar “apoio especial aos filhos de camaradas mortos e feridos”.

Ao mesmo tempo, Putin não tentou enquadrar qualquer parte da guerra na Ucrânia como uma “vitória” em nenhum momento de seu discurso, que durou cerca de 11 minutos — não oferecendo nenhum sinal de um fim iminente para o conflito.

Somado a isso, o presidente afirmou que as tropas russas no leste da Ucrânia estão lutando “em suas terras”, uma indicação de que não tem planos de abrir mão do controle do território que suas forças tomaram nos últimos meses.

O discurso de Putin foi seguido por um desfile pela praça no centro ode Moscou, com os mais recentes tanques Armata e T-90M Proryv da Rússia, sistemas de foguetes de lançamento múltiplo e mísseis balísticos intercontinentais. Um sobrevoo de jatos planejado para o desfile foi cancelado por causa das condições climáticas.

Na sequência, o presidente colocou uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido e colocou cravos vermelhos em memoriais comemorativos às Cidades Heroicas Soviéticas que resistiram às forças de Hitler. Eles incluíam Kiev e Odessa – um lembrete das enormes perdas sofridas por ucranianos e russos na guerra.

Putin deposita flores na Tumba do Soldado Desconhecido durante celebração do Dia da Vitória. Foto: Reuters.

Reações ao discurso

O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, acusou o presidente Vladimir Putin e seus generais de espelhar o fascismo e a tirania da Alemanha nazista e disse que a invasão da Ucrânia está desonrando o passado militar da Rússia, sequestrando a história russa para atender aos seus próprios interesses.

“Através da invasão da Ucrânia, Putin e seu círculo íntimo de generais estão agora espelhando o fascismo e a tirania de 77 anos atrás, repetindo os erros do regime totalitário do século passado”, disse Wallace em um discurso ao Museu Nacional do Exército.

Wallace também respondeu às alegações de Putin sobre um plano da Otan para invadir terras que ele considera historicamente russas, incluindo a Crimeia, tomada por Moscou da Ucrânia em 2014.

“O presidente Putin fez uma série de alegações de contos de fadas por meses e anos”, disse Wallace. “Ninguém está planejando invadir, a Otan não está cercando a Rússia.”

Pouco antes do discurso do presidente russo, Volodmir Zelenski, divulgou um vídeo em que caminhava sozinho pelas ruas de Kiev, acusando Putin de continuar o legado de Adolf Hitler.

“No dia da vitória sobre o nazismo, estamos lutando por uma nova vitória”, disse Zelenski, enquanto passava por prédios governamentais protegidos com barreiras e arame farpado. “O caminho para isso é difícil, mas não temos dúvidas de que venceremos.”

“Ele está condenado”, completou Zelenski, “Porque ele foi amaldiçoado por milhões de ancestrais quando começou a imitar seu assassino. E, portanto, ele perderá tudo.”

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COM NYT, WPOST e REUTERS (via Estadão)

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