Com aulas presenciais marcadas a semana, professores e equipes de ensino farão reuniões pedagógicas antes da chegada dos estudantes

Por Ana Isabel Mansur*

Com as atividades de sala de aula suspensas desde 11 de março de 2020 por conta da pandemia, 686 unidades educacionais públicas do Distrito Federal começam nesta segunda-feira (2/8) uma etapa importante para a retomada das aulas presenciais. Professores, coordenadores e diretores participam de encontros pedagógico de formação nas escolas. Remotamente, o segundo semestre letivo de 2021 também inicia hoje, mas as tão aguardadas aulas presenciais só na quinta-feira, dia 5. Segundo a Secretaria de Educação do DF, 460 mil alunos são esperados de maneira escalonada, conforme as séries.

Os profissionais que regressam hoje definirão detalhes sobre a recepção dos alunos. Os encontros fazem parte da rotina escolar. Normalmente, após os recessos escolares, professores, coordenadores e diretores fazem o planejamento letivo. A princípio, o retorno será intercalado, com uma semana presencial e outra remota. Outras medidas anunciadas são a redução do número de alunos no mesmo espaço físico e a adaptação da carga horária.

Para as aulas presenciais, a Secretaria de Educação estabeleceu algumas estratégias de ensino e de segurança contra a covid-19 (leia Calendário). Para manter o distanciamento social, a orientação da pasta é que as turmas sejam divididas em dois grupos. A cada semana, um deles terá aula presencial, enquanto o outro realiza tarefas pedagógicas em casa.

No caso dos 23 mil alunos atendidos pelas creches conveniadas ao governo, as unidades já os receberam desde 5 de julho. O GDF espera que, até 30 de agosto, todos os estudantes estejam nas escolas.

Determinações

Em relação à carga horária, os professores continuarão com jornadas de cinco horas diárias, porém, divididas entre o ensino presencial e o remoto. Serão quatro em sala de aula e uma dedicada aos estudantes com atividades em casa. A secretaria explica que as escolas devem usar os intervalos para a higienização.

O professor de geografia Hilton Generoso, 53 anos, teme que os educadores fiquem ainda mais sobrecarregados com a nova dinâmica. Lecionando há 33 anos — 27 deles no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 de Planaltina — ele viu a quantidade de trabalho aumentar durante a pandemia. “A proposta da secretaria é repartir as turmas. Eu acredito, pela minha experiência, que não teremos grandes dificuldades. Mas vai ser bem mais puxado”, avalia.

Ele esclarece que as aulas remotas demandam mais os professores. “Ministrar as aulas de maneira remota é muito mais trabalhoso. Muitos alunos têm problemas em trabalhar com a internet ou com a plataforma. Outros têm dificuldades de acesso. Já tive, por exemplo, que atender aluno às 1h da manhã, porque era o único horário em que a internet podia ser usada por ele em casa. O professor precisa também ter essa sensibilidade”, reflete Hilton, que já recebeu duas doses da vacina contra a covid-19.

Wagner Junior, 55, professor de história do CEF 3 de Sobradinho, está entusiasmado e apreensivo. “Tenho medo do aumento dos casos de covid-19, ainda mais com a variante Delta, mais contagiosa. Mas, ao mesmo tempo, fico muito feliz de poder voltar à escola, foi muito difícil passar esse tempo todo longe, tentando ensinar na plataforma e também com materiais impressos. Meu trabalho é olho no olho”, descreve o educador, vacinado contra a covid-19 com a dose única do imunizante.Por conta própria, ele fez um levantamento entre suas turmas sobre o desejo do retorno. “Entre 10% e 15% não pretendem voltar por não estarem vacinados. Alguns pais estão muito assustados com a pandemia. Pretendo transmitir minhas aulas ao vivo para aqueles que vão continuar estudando de casa”, planeja Wagner. Entretanto, em resposta ao Correio, a Secretaria de Educação informou que o retorno não é opcional. “A criança que não comparecer à escola sem causa justificada terá a ausência registrada.”

Preocupação

Quem também avalia o momento com cautela é a professora Edivânia Severino, 43. “Estou preparada, mas muito insegura. Trabalho em uma das maiores escolas de Ceilândia (Escola Classe 68), são muitas crianças. Não usaremos algumas áreas da escola ou fazer atividades com contato, então, será muito tempo em sala, as crianças vão ficar estressadas”, opina a educadora. O medo de se contaminar com a covid-19 não é à toa. Edivânia perdeu a mãe para a doença. “A insegurança aumenta, eu vivi na pele o horror dessa doença. Até hoje não caiu a ficha (da morte da mãe) e, todos os dias, espero a ligação dela no horário de costume. Fico com o celular do lado”, emociona-se a professora.

A vacinação dos trabalhadores da educação começou no dia 20 de maio no DF e, até quinta-feira (29), 24.303 foram imunizados. Entre quinta-feira e ontem, a Secretaria de Educação convocou os professores que ainda não haviam sido vacinados para irem aos postos. Após levantamento feito nas 14 coordenações regionais de ensino (CREs), a pasta listou 2,1 mil trabalhadores. “Nenhum profissional da educação vai retornar presencialmente sem estar devidamente imunizado”, assegura Samuel Fernandes, diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF). A categoria afirma que o governo prometeu que os professores imunizados recentemente só retornaram 15 dias depois da segunda aplicação.

Calendário

As aulas para todos os níveis de ensino começam em 5 de agosto. O cronograma abaixo refere-se apenas ao retorno presencial dos estudantes

Data Segmento

2, 3 e 4 de agosto Encontro pedagógico

5 de agosto Educação infantil

9 de agosto Ensino fundamental — anos iniciais e Educação de Jovens e Adultos (EJA, 1º segmento)

16 de agosto Ensino fundamental — anos finais e Educação de Jovens e Adultos (EJA, 2º e 3º segmentos)

23 de agosto Ensino médio e educação profissional

30 de agosto Escolas de natureza especial, Centros Interescolares de Línguas, Centros de Ensino Especial e demais atendimentos

Palavra de especialista

Incerteza e muitas necessidades

“Apenas o cotidiano das escolas vai mostrar como os desafios são maiores do que imaginamos, porque a realidade é muito mais complexa. Há desafios de diferentes complexidades. O primeiro deles, central, é a comunidade escolar não se sentir segura. Não é uma questão só dos professores, muitos pais não vão mandar os alunos de volta. Essa insegurança leva ao fato de que ninguém aprende em um ambiente de medo. O retorno se dará de forma robotizada e em estado permanente de alerta. Os alunos vão voltar para uma escola que não existia antes da pandemia.

Há também os desafios pedagógicos e psicológicos. Muitos alunos estão órfãos, sofrem violência dentro de casa, passam fome e perderam pessoas próximas para a covid-19. É preciso que os professores tenham condição de observar de perto as especificidades de cada um. O esquema de revezamento vai fazer com que escolas e professores demorem mais a perceber os problemas individuais. E, depois de identificá-los, como atender às necessidades de cada estudante? Como organizar o ensino para que todos, ao fim do processo educacional, cheguem ao mesmo lugar?”

Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB) e coordenadora do Comitê-DF da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação

*Da Redação com informações do Correio 

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