A ambição que une é a mesma que separa. A associação de partidos que conduziu o impeachment resultou da convergência, apenas ocasional, de suas estratégias rumo ao mesmo ponto no horizonte político: a eleição presidencial em 2018. Nem todos moviam-se como aspirantes a conquistar a Presidência. Mas suas posições, da eleição à queda de Dilma, foram todas condicionadas pelo mesmo objetivo imediato: tirar do PT a maior fonte de votos —o governo de realizações sociais.

Tomado o governo, o novo poder apresenta como meta, a par da recuperação econômica, a “pacificação política”, expressão que pressupõe uma impossível convivência com o PT.

O noticiário só tem podido referir-se, porém, a relações tensas do PSDB e do DEM com Michel Temer.

As cobranças e ameaças de rompimento, feitas pelo PSDB caso o governo protele as reformas duras e impopulares, dão ideia do que as atuais tensões prometem. O PSDB pretende que Temer, fazendo os cortes de direitos previdenciários e trabalhistas, limpe o campo para o governo que os peessedebistas almejam conquistar e, de quebra, fique com os ônus da ação antissocial.

Ônus para Temer serão, porém, ônus para o PMDB. O grande partido incapaz, em 25 anos com eleições diretas, de fazer mais do que figuração nas disputas pela Presidência. Enfim, o comando peemedebista acha agora que manterá eleitoralmente a posse do governo, com Temer candidato ou não. Otimismo que vale como indicação de condutas em várias direções.

Se quer competir mesmo, o PMDB não pode deixar o governo submetido ao PSDB. Também não pode dar-lhe as costas. O melhor tratamento que o PSDB pode esperar é o jogo duplo, que o PMDB pratica sem cerimônia, como Dilma pode testemunhar. Um treininho desse jogo foi feito há pouco, quando Aécio Neves exigiu o projeto de reforma previdenciária em setembro, não depois das eleições.

O Planalto recuou logo: está bem, o projeto sairá neste mês. Mais precisamente, no último dia, sexta-feira 30, a dois dias das eleições. Aécio e o PSDB tiveram que calar.

As dificuldades do governo não são menores no Congresso. Reformas que cortam benefícios contrapõem-se à esperança peemedebista para 2018. Não só na disputa presidencial. Deputados e senadores, dos quais o governo espera que propaguem as reformas como benefícios futuros, sabem que o bolso dos prejudicados fala mais alto.

E, se políticos não são dados a sacrificar-se, muito menos o seriam os do PMDB. Dificuldades, pois, de Temer com o seu partido e, a mais, com os peessedebistas.

Concluído o impeachment, PSDB, com seus caudatários, e PMDB voltam a ser adversários. Muito mais do que o foram antes de se associarem contra Dilma: os peemedebistas não tinham então aspirações reais a conquistar a Presidência. O enfrentamento agora é exterminador. Michel Temer não fará a “pacificação” nem entre os que lhe deram à Presidência. Nem sequer dentro do seu governo, onde o mesmo sonho presidencial acirra o confronto entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e os peemedebistas que controlam o Planalto.

A crise política sufocando o governo muda a sua forma, e só. Preserva até o risco de agravamento, caso, além de problemas políticos maiores, falhem no Tribunal Superior Eleitoral as manobras que livrem Michel Temer de condenação por irregularidades eleitorais.

Da Redação com informações Jânio de Freitas /Folha

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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