Ibaneis Rocha (MDB). Foto: Reprodução,

O perfil que o governador eleito manterá à frente do poder é uma incógnita, pois o emedebista nunca atuou na administração pública nem na vida parlamentar. Porém, após a eleição, ele demonstrou que ouve a todos antes de tomar decisões.

Por Helena Mader / CB

Sem atuação prévia na gestão pública ou na vida parlamentar, o governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), era uma incógnita no meio político até entrar na disputa pelo Palácio do Buriti. Assim que ele se consagrou campeão da corrida pelo governo, uma dúvida surgiu entre representantes da máquina pública, de sindicatos, do setor produtivo e de parlamentares: qual será o perfil adotado pelo futuro chefe do Executivo local, que toma posse em 1º de janeiro?

Antes mesmo de assumir o cargo, Ibaneis começou a dar sinais de qual será seu estilo de comando. Ele nega que seja centralizador e promete delegar tarefas, mas já antecipou que concentrará atribuições importantes, como a articulação política. Diplomático, abaixou o tom ríspido da campanha e fez elogios ao adversário, Rodrigo Rollemberg (PSB), ao lado de quem terá que conduzir a transição. Sinalizou ainda que pretende ouvir a sociedade organizada antes de tomar decisões importantes — até a escolha de secretários passou por consultas a segmentos interessados em cada área.

Essa ânsia de agradar a vários setores e de fugir de embates, entretanto, pode trazer empecilhos a Ibaneis, sobretudo diante da dificuldade em chegar a consensos com relação a algumas decisões. A escolha do futuro secretário de Saúde é um exemplo. Na última terça-feira, o governador eleito anunciou que divulgaria o nome do futuro chefe da pasta no fim do dia, após uma série de reuniões com representantes do segmento.

Ele ouviu integrantes de sindicatos de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, e de especialistas na área, como o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat. Mas, depois da bateria de encontros, não chegou a um nome para a secretaria. Ainda sem um titular capaz de agradar a integrantes de todas as carreiras da saúde, a saída foi criar uma equipe de transição, que discutirá os principais problemas do sistema de atendimento médico, para só depois anunciar o escolhido. Além da Secretaria de Saúde, o emedebista já anunciou que pretende criar ainda uma pasta específica para cuidar apenas da atenção básica de saúde, mas deu sinais que após ouvir Frejat e sindicalistas, pode rever sua decisão.

Outra promessa de campanha  foi cumprida na primeira semana da transição. Após a eleição da listra tríplice de delegados para a escolha do cargo de diretor-geral da Polícia Civil, Ibaneis Rocha anunciou que nomeará o mais votado: Robson Cândido teve 242 votos na eleição interna da categoria, realizada na última quarta-feira. O atual comandante da instituição, Eric Seba, nomeado por Rollemberg, também havia ficado em primeiro lugar entre os delegados.

O Sindicato dos Policiais Civis, entidade que reúne agentes e escrivães, também pretendia formar uma lista, mas a categoria não reagiu à decisão do governador eleito de antecipar sua decisão, após a formação da lista tríplice eleita pelos delegados. Ibaneis Rocha pretende ainda ouvir a população para a escolha dos administradores regionais. A medida já está prevista na Lei Orgânica do Distrito Federal e deve ser detalhada por meio de decreto, sem a necessidade da criação de uma lei que discipline a participação popular.

Acostumado a lidar com o poder após administrar a Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) por três anos, o emedebista garante que não é centralizador. “Sou de delegar e cobrar resultados. Vou anotando as tarefas que passo para depois exigir respostas. O governo tem dia para começar e para terminar, então teremos que tomar medidas e exigir os resultados com rapidez”, explica.

A decisão de aumentar o número de secretarias é usada por Ibaneis como exemplo de que privilegia sempre a delegação de tarefas. Ele lembra que a OAB-DF tinha 50 comissões, cada uma responsável por temas específicos e que, por isso, sabia sempre a quem recorrer quando precisava tratar de algum assunto. “Com mais secretarias, terei de quem cobrar cada tarefa, por mais específica que seja”, acrescenta o governador eleito. “Em algumas pastas estratégicas, como saúde, educação, segurança e obras, quero estar sempre junto. E, nessas áreas, não haverá indicações políticas”, garante.

Coordenador de campanha de Ibaneis e confirmado como secretário de Fazenda da futura gestão, André Clemente diz que o chefe “é uma pessoa de grupo”. “Ele tem uma necessidade enorme de conhecer todas as áreas, não necessariamente de controlá-las. Ele delega muito e exige resultados sempre”, garante Clemente. “Grandes líderes têm sempre mão boa para escolher pessoas e formar equipes de credibilidade”, acrescenta o auditor da Fazenda.

Outra característica do perfil de Ibaneis que já transpareceu ainda na transição é que, muitas vezes, ele age por impulso. Um exemplo foi o anúncio de que o empresário José Humberto Pires ocuparia a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Desejoso de ter Pires em seu secretariado, o governador eleito anunciou seu nome, mas, logo depois da divulgação, o empresário divulgou nota para esclarecer que não aceitaria o convite “por conta de compromissos institucionais e profissionais”.

O emedebista indicou ainda que pretende manter relações institucionais fortes na Esplanada dos Ministérios. Além de visitar o presidente da República Michel Temer um dia após as eleições, Ibaneis sinalizou por várias vezes que quer um bom relacionamento com o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Disse que vai consultá-lo para escolher o secretário de Segurança e declarou voto no capitão da reserva.

Ibaneis visitou ainda a Câmara Legislativa e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, nos primeiros dias de gestão. Numa sinalização de que quer boas relações com outros estados, já esteve com os governadores eleitos de Goiás e de São Paulo, Ronaldo Caiado (DEM) e João Doria (PSDB).

Troca de poder

A equipe de transição terá integrantes da atual gestão, como o secretário-chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, e indicados pelo governador eleito, Ibaneis Rocha (MDB). O emedebista nomeou seu vice, Paco Britto (Avante) como coordenador da transição. Os secretários da próxima administração, à medida que forem anunciados por Ibaneis, passarão a compor o grupo.

A primeira semana

Desde que foi eleito, o advogado Ibaneis Rocha (MDB) tem buscando o diálogo com personalidades do meio político e jurídico. Na segunda-feira, esteve no Palácio do Planalto com o presidente Michel Temer, para tratar de recursos para o Distrito Federal, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

No dia seguinte, Ibaneis foi à Câmara Legislativa, para conversar com os deputados distritais sobre o orçamento para 2019.

Na quarta-feira, embarcou para São Paulo, onde esteve com o governador eleito, João Doria (PSDB). Ontem, houve um novo encontro com o tucano, no hotel onde Ibaneis está hospedado. Dessa vez, participou também o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

Nesta semana, Ibaneis deve ser recebido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Da Redação com informações do Correio e Agenda Capital

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