Eles já receberam alta, mas não podem deixar hospitais sem o kit. Grupo inclui bebê com Down, internado há oito meses. Saúde atrasou pagamentos e fez contrato emergencial.

Pacientes do Distrito Federal que dependem de balões de oxigênio para respirar estão internados na rede pública, mesmo com alta médica, enquanto aguardam a oferta de respiradores domésticos. O grupo é composto por pelo menos 30 pessoas, segundo dados da própria Secretaria de Saúde, e inclui um bebê de oito meses que está internado na UTI neonatal do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) desde que nasceu, em março.

O contrato do governo do DF com o fornecedor dos equipamentos terminou em julho. A secretaria decidiu manter o fornecimento “de forma avulsa” mas, até esta quinta (1º), não tinha depositado os pagamentos referentes a agosto e setembro. A dívida alcança R$ 188.542,09, e a pasta não informou quando esse valor será quitado.

Nesta sexta (2), a Secretaria de Saúde informou ao G1 que assinou um contrato emergencial para atender a esses pacientes. Contratos desse tipo são mais caros que uma licitação convencional e duram menos tempo – na prática, isso significa que a falta de kits poderá se repetir nos próximos meses.

A pasta não informou quanto esse contrato vai custar, nem disse se há previsão de firmar um contrato permanente para os kits de oxigenação doméstica. Em nota, a secretaria afirma que “os pacientes com prioridade serão atendidos imediatamente”.

A Secretaria de Saúde também não informou o valor do contrato encerrado em julho. Além de fornecer os equipamentos, a empresa tem de fazer “manutenção preventiva, corretiva e recarga dos cilindros”.

Oito meses internado
Um dos pacientes na fila do balão doméstico de oxigênio é o bebê Enzo, de oito meses. Ele recebeu alta no dia 4 de novembro, mas não pode deixar o Hmib porque não consegue respirar por conta própria.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que está tomando providências para atender às necessidades do bebê “o mais rápido possível”. Até esta quinta, não havia equipe mobilizada para fornecer o aparelho.

Há oito meses no Hmib, Enzo espera o kit para conhecer a própria casa, e está prestes a completar um mês “hospedado” na ala pediátrica do hospital. Com síndrome de Down, hipotiroidismo, distúrbios gástricos e uma cardiopatia congênita, o bebê passou por quatro cirurgias para tentar reverter o quadro de saúde.

O uso contínuo do respirador levou a criança a desenvolver uma “displasia bronco pulmonar” – em outras palavras, uma lesão no aparelho respiratório. De acordo com a mãe, Maria do Espírito Santo, de 40 anos, ele precisou ser entubado logo após nascer. Desde então, ele se tornou dependente dos balões de oxigênio.

A mãe diz ter ouvido, de médicos e enfermeiros, a promessa de que o balão de oxigênio seria entregue na casa dela “em coisa de dois, três dias”. Ela esteve na unidade de Ceilândia do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar (NRAD) – responsável pela prestação de serviços de saúde em domicílio – no dia 18, onde também teria ouvido que o procedimento de entrega era “rapidinho”.

“Estou desesperada. Meu bebê é cheio de probleminhas e corre risco de pegar uma infecção aqui”, diz a mãe.

Há oito meses vivendo no hospital, ela afirma não ver o outro filho, de 10 anos, há mais de um mês. “Ele vai pra escola de manhã, depois meu marido deixa ele em casa e vai trabalhar. Os vizinhos que me ajudam a cuidar dele.”

Serviço inoperante

Diante do impasse, Maria procurou a Defensoria Pública, que encaminhou um ofício ao núcleo de Ceilândia no dia 24 solicitando o fornecimento do balão de oxigênio, além de “avaliação e tratamento regular” do bebê. O prazo para que o órgão vinculado à Saúde tomasse providência expirou nesta quinta.

A Defensoria Pública também pediu que o núcleo avalie a necessidade de disponibilizar outros materiais hospitalares, e de deslocar uma equipe de atenção domiciliar, composta por fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, neurologista, enfermeiro, entre outros profissionais da saúde. A demanda também não foi atendida.

Cirurgias e internação

Na primeira semana de vida, Enzo precisou passar por uma gastrostomia – procedimento que insere uma sonda no estômago por onde são inseridos os alimentos. Um mês depois, ele foi submetido à esofagostomia, cirurgia semelhante no esôfago. “Esta, ele precisou fazer duas vezes, porque a primeira não deu muito certo”, diz a mãe.

A última cirurgia foi no coração, no dia 20. Segundo Maria, o filho precisava do procedimento desde que nasceu, mas os médicos decidiram esperar até que ele ficasse um pouco maior. “Falaram que ele não ia morrer, mas que tinha que ficar sob supervisão”, conta.

A equipe chegou a cogitar uma alta médica para o bebê, que passaria a esperar pela cirurgia em casa. Na “hora H”, a ideia foi abandonada. “Eles voltaram atrás, porque disseram que o Enzo não ia resistir lá fora.”

A cirurgia foi autorizada três meses depois, e feita no Instituto de Cardiologia do DF. Após oito dias internado na unidade, o bebê voltou ao Hmib, onde seguia à espera de oxigênio portátil até esta sexta. Não há prazo para a liberação da criança.

Da Redação com informações do G1/DF

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