Professora aposentada luta contra um linfoma cutâneo de células T desde 2010

O linfoma cutâneo de células “T” afeta a pele e pode avançar para a corrente sanguínea e outros órgãos. A doença não tem cura e, quando não mata, deixa sequelas indeléveis. Há seis anos, a professora aposentada Elaine Moura, 51 anos, convive com o mal. O endereço de tratamento é o Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a quase 920 km da casa dela, no Guará. Passou também pelos hospitais Universitário de Brasília (HUB) e de Base (HBDF).

Sem condições financeiras, ela recorre a uma campanha na internet para arrecadar R$ 20 mil, custear o tratamento e vencer a batalha contra o câncer.

“Com a progressão da doença constatada, fui para Campinas em 16 de junho para reiniciar a radioterapia que eu fazia lá, mas a minha pele está muito frágil e os riscos foram maiores do que os benefícios”, conta. Até o momento, ela angariou R$ 10,4 mil. O valor corresponde a 52% do necessário para o tratamento.

No total, 142 pessoas contribuíram com alguma quantia em dinheiro. “Quero viver e ter qualidade de vida, tenho ainda tantos planos. Perdi amigos para o câncer nessa caminhada.  Passo mais tempo fazendo contas do que me tratando”, lamenta.

Ao ano, o tratamento pode custar R$ 360 mil. Elaine toma seis ampolas por semana do medicamento Interferon, que bloqueia a multiplicação das células doentes. Cada dose sai por R$ 2 mil. A droga está em falta desde fevereiro na Secretaria de Saúde. “Não quero que o meu fim seja o mesmo de amigos que vi morrendo. Sei qual é o meu destino, mas quero retardar um pouco”, conta a mãe de três filhos. Toda segunda-feira ela realiza exames de sangue para acompanhar a evolução da doença. “Em média, são R$ 400. Na rede pública, tem como fazer o exame, mas nunca tem o reagente”, queixa-se.

O entusiasmo da professora ajuda a enfrentar o diagnóstico marcado pela dificuldade de tratamento e pela agressividade da doença. As placas avermelhadas e a coceira incessante surgiram em setembro de 2010. “Começaram a aparecer muitas manchas no meu corpo, que coçavam desesperadoramente. A primeira consulta foi uma tragédia. Chorei, briguei… Ouvir que eu tinha um câncer, que judia e mata aos pouquinhos, e não tem um tratamento específico, não foi simples”, conta.

Perseverança

Elaine faz quimioterapia e imunoterapia no HUB. A trajetória é marcada pela dificuldade de assistência. “Numa radioterapia, em 2011, no Hospital de Base, tive queimaduras de segundo e terceiro graus. Precisei fazer três cirurgias e enxerto”, revela. O linfoma se tornou refratário, nenhum tratamento em Brasília surtia efeito (leia Para saber mais). Após 11 meses de espera, em janeiro de 2014, ela conseguiu ir a São Paulo se tratar com um acelerador linear. Por quatro meses, o Executivo local forneceu as passagens e uma ajuda de custo no valor de R$ 24,75 a diária. “Quando retornei, precisei fazer o tratamento de consolidação, mas os medicamentos estavam em falta na rede pública. Até seringas tive de comprar”, lembra.

O HBDF conta com um acelerador linear. Entretanto, a máquina ainda não opera com a tecnologia 3D, que irradia todo o corpo. “A gente é muito atrasado no sentido dos tratamentos. As filas são longas e sempre tem insumo faltando. Chega um momento em que a doença não espera a morosidade do poder público”, reclama. Atualmente, Elaine tem extensas feridas nas virilhas e nas axilas. “A nossa doença passa despercebida por debaixo da roupa.”

O salário de professora aposentada e o extra dos artesanatos não bastam para o auxílio médico. “Mesmo tendo o benefício como servidora pública, a situação acaba saindo do controle”, frisa. Durante 31 anos, Elaine frequentou as salas de aula. Alfabetizava crianças do primeiro ao quarto ano. “Tenho orgulho de ter me aposentado por tempo de serviço, não por invalidez. Lembro que ia muitas vezes da quimioterapia para a escola. Quando eram sessões de fototerapia, eu não podia pegar sol, então, ia de chapéu e óculos escuros”, recorda. Hoje, a Escola Classe 8 do Guará é apenas uma vizinha, a poucos metros da casa dela, na QE 30.

Nota da Secretaria de Saúde

A Secretaria de Saúde informou que “o processo de compra do medicamento Interferon está em fase de contratação”. A nota enviada pela pasta não detalha há quanto tempo o insumo está em falta e não deixa clara a previsão de chegada. “O pregão já foi realizado e, neste momento, as formalidades processuais tramitam”, resume o texto.

Sobre o acelerador linear do Hospital de Base, o Executivo local garante que, nos próximos dias, a máquina estará funcionado com a tecnologia 3D. Segundo a direção da unidade médica, falta apenas uma peça, que funciona como proteção ao paciente. “A tecnologia 3D está disponível, mas aguarda o término da confecção de um equipamento chamado aloy, que deve ocorrer nos próximos dias”, assegura, em nota. Por causa disso, Elaine continua tendo de buscar tratamento em São Paulo.

Da Redação com informações do Correio

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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