ALEX2127.JPG CURITIBA PR 10/05/2017 POLITICA - DEPOIMENTO LULA / LAVA JATO - Ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva se encontra com apoiadores, militantes do PT, MST na praça Santos Andrade apos prestar depoimento por mais de 5 horas na 13ª Vara da Justiça Federal, conduzida pelo Juiz Sergio Moro, em Curitiba FOTO ALEX SILVA / ESTADÃO

Ex-presidente prestou depoimento em Curitiba nesta quarta-feira (10/5) e se defendeu das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.

Por Pedro Alves 

A 13ª Vara Federal de Curitiba liberou, na noite desta quarta-feira (10/5), os vídeos com o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestado ao juiz Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava Jato.

Ao longo de mais de quatro horas, o petista se defendeu da denúncia de que recebeu R$ 3,7 milhões em propinas da construtora OAS. Lula é acusado dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, com penas previstas de até 22 anos de prisão.

Na oitiva, Sérgio Moro fez questionamentos sobre a ampliação, a reforma e a decoração de um tríplex no Guarujá (SP), além do custeio do armazenamento de bens entre 2011 a 2016. Esses fatos seriam “benesses” dadas ao petista pela empreiteira em troca de negócios na Petrobras.

O depoimento foi dividido em 10 vídeos. Confira a íntegra das gravações e os destaques de cada uma.

Trecho 1 — “Eu sou o juiz. Estou aqui para ouvi-lo”

O juiz Sérgio Moro iniciou o interrogatório afirmando que não tem nenhuma desavença com o ex-presidente. “O que vai determinar o final são as provas e a lei. Eu sou o juiz. Estou aqui para ouvi-lo e proferir julgamento ao final do processo”, disse.

Moro avisou a Lula que não haveria nenhuma possibilidade de o ex-presidente ser preso durante o depoimento e que haveria perguntas difíceis, o que é “natural do ato judicial”. “O objetivo é esclarecer a verdade e ‘oportunizar’ que o senhor tenha uma resposta para cada pergunta”. “Para quem quer falar a verdade não tem pergunta difícil”, respondeu Lula.

“A verdade é o seguinte: não solicitei, não recebi, não paguei e não tenho nenhum triplex”, afirmou Lula, em seu primeiro momento frente a frente com o juiz da Lava Jato, em Curitiba.

Moro perguntou se Lula tinha desistido do tríplex depois que ele visitou o imóvel. “O senhor decidiu que não ia ficar com esse primeiro triplex já na primeira visita, em fevereiro de 2014?” O ex-presidente respondeu: “Foi isso. Nunca solicitei e nunca recebi apartamento. Imagino que o Ministério Público vai na hora que for apresentar as provas. Eles devem ter pelo menos algum documento que prove o direito jurídico de propriedade para dizer que é meu o apartamento”.

Trecho 2 — “Considero esse processo ilegítimo e a denúncia, uma farsa”

Na segunda parte de seu depoimento, Lula voltou a negar que teve conhecimento das reformas realizadas no triplex no Guarujá, atribuído a ele pela acusação. De acordo com a promotoria, a construtora OAS teria feito reformas ao custo de R$ 1,277 milhão a pedido da família do ex-presidente. As benfeitorias consistiriam de instalação de cozinha e elevador privativo, além da adequação de quartos.

Lula afirmou que já havia decidido não ficar com o apartamento em 2013 e que, após uma segunda visita da ex-primeira-dama Marisa Letícia, ambos decidiram não prosseguir com a aquisição do imóvel. “Eu não ia ficar porque não tinha como ficar”, disse ao juiz Sérgio Moro. Ainda de acordo com o ex-presidente, Marisa não o informou sobre a realização de reformas. “Lamentavelmente, ela não está viva para perguntar (a ela)”, disse.

Nessa etapa, o petista aproveitou para fazer críticas ao Ministério Público:

Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, estou aqui em respeito à lei, em respeito à nossa Constituição. Mas com muitas ressalvas ao comportamento dos procuradores da Lava Jato”

Trecho 3 — “Delatar virou o alvará de soltura dessa gente”

Sérgio Moro questiona o ex-presidente sobre reuniões feitas com o presidente da OAS, Léo Pinheiro, e o ex-diretor da empresa Paulo Gordilho. Lula negou que, durante os encontros, tenha tratado sobre o triplex do Guarujá.

Questionado sobre as delações premiadas feitas por ex-executivos, o ex-presidente afirmou: “Delatar virou o alvará de soltura dessa gente”.

Lula também afirmou não acompanhar o andamento da construção do imóvel entre 2005, quando a cota de consórcio foi comprada, e 2013, quando a família teria desistido da aquisição do apartamento. No fim do trecho, Lula volta a afirmar: “A verdade é o seguinte, doutor Moro, e vou repetir. Não solicitei, não recebi e não paguei por nenhum triplex”.

Trecho 4 — “Sem aliança política você não governa este país nem ganha eleição”

A quarta parte do depoimento de Lula tem foco no esquema de corrupção em contratos da Petrobras, desbaratado pela Operação Lava Jato. A questão é levantada pelo juiz Sérgio Moro porque o triplex atribuído a Lula em Guarujá seria parte do pagamento de propina no esquema.

Questionado pelo juiz sobre as nomeações de diretores da empresa feitas por Lula, o ex-presidente atribuiu os atos a indicações políticas da base de governo à época. “Sem aliança política você não governa este país nem ganha eleição”, disse.

Também indagado sobre os crimes cometidos pelos ex-dirigentes da Petrobras Nestor Cerveró, Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada, Lula afirmou que não tinha conhecimento dos delitos.

“Eu não sabia, nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a imprensa, nem a Polícia Federal. Todos nós só ficamos sabendo quando grampearam a conversa do (doleiro Alberto) Yousef com o Paulo Roberto (Costa). […]Se eu tivesse conhecimento, nenhuma empresa dessas prestava serviços para a Petrobras”, afirmou o ex-presidente.

Lula também negou ter conhecimento das supostas ações de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT acusado de cobrar propina de empreiteiras.

Trecho 5 — Lula: “O senhor acha que as pessoas iam falar de propina?”

Ainda no tópico da Petrobras, Moro perguntou se Lula sabia do suposto esquema de propina instalado nas obras da Refinaria Abreu e Lima, no Nordeste. De acordo com o magistrado, ao fim da gestão do petista, os custos do empreendimento já haviam aumentado em nove vezes, de R$ 2 bilhões para R$ 18 bilhões.

Moro também perguntou se o ex-presidente tinha conhecimento dos R$ 6,194 bilhões desviados da Petrobras em esquemas de propina, já reconhecidos pela estatal.

Lula negou saber de qualquer um desses esquemas. “Se a Petrobras soubesse da propina, ela poderia ter evitado. […] O senhor acha que as pessoas iam falar de propina? O senhor acha que o seu filho, quando tira nota baixa na escola, chega em casa pulando de alegria para contar?”, ironizou o ex-presidente.

Ao fim do trecho, o clima entre Lula e Sérgio Moro ficou mais acirrado. O presidente criticou a utilização de matérias jornalísticas na elaboração de denúncias, ao que o magistrado respondeu que era o ex-presidente que utilizava informações da imprensa.

A parte terminou em bate-boca entre procuradores e defensores de Lula depois que Moro pediu que o ex-presidente comentasse o esquema do mensalão.

Da Redação com informações do Metrópóles

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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