Dr. Gutemberg Fialho, presidente da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal. Foto; Delmo Menezes / Agenda Capital

Oficialmente, segundo dados da Secretaria de Saúde (SES-DF), os casos de dengue no Distrito Federal tiveram queda de 81,6% em comparação com os quatro primeiros meses do ano passado

Por Dr. Gutemberg Fialho*

A covid-19 não acabou com a dengue. Apesar de o novo coronavírus ser pauta (com razão) das manchetes diárias, o fato é que é o mosquito Aedes aegypti ainda é um problema: não apenas no Distrito Federal, mas em todo o País. Por isso, é preciso estar atento. E mais, como os sintomas são parecidos – entre uma doença e outra -, a população também tem de estar alerta. Cada uma das comorbidades precisa ser diagnosticada e tratada no tempo certo.

Oficialmente, segundo dados da Secretaria de Saúde (SES-DF), os casos de dengue no Distrito Federal tiveram queda de 81,6% em comparação com os quatro primeiros meses do ano passado. No último boletim divulgado pela pasta, havia 4.032 casos prováveis este ano.  Em 2020, no mesmo período, foram 21.857 notificações e 18 óbitos. Nesta semana, uma moradora de Ceilândia foi a primeira pessoa morta em decorrência da dengue em 2021.

Extra-oficialmente, o que precisamos saber é a quem os pacientes com suspeita de dengue devem recorrer. Há profissionais suficientes para atendê-los? Há exames suficientes? Se confirmado, o tratamento está sendo o adequado? Pergunto isso porque, pela lógica (e ela pouco falha), se falta estrutura para atender pacientes com covid-19, doença responsável pela morte diária de mais de 2 mil brasileiros por dia – em média -, como estão sendo diagnosticados e acompanhados aqueles que apresentam sintomas de dengue?

Apesar de endêmica, a dengue tem uma sazonalidade e os casos tendem a aumentar na época de chuvas na Capital, entre janeiro e junho, segundo o Ministério da Saúde (MS).  Acontece que, neste ano, no mesmo período, o número de casos de covid-19 explodiu em todo o Brasil, incluindo o DF. No ano passado, vale lembrar, por conta da pandemia, diversos especialistas na área alertaram para uma possível subnotificação dos casos da doença no DF: as pessoas ficaram em casa e tiveram medo de sair para fazer testes.

Meses após o início da pandemia no DF, no ano passado, chamei a atenção para o fato de que os altos números de covid-19 estavam deixando pacientes com outras comorbidades sem atendimento na rede pública. Em um desabafo, uma das pacientes ouvidas pelo Sindicato dos Médicos chegou a dizer: “o posto [em Taguatinga] só está atendendo casos de covid-19, como se as outras doenças tivessem sumido”. À época, e vale lembrar sempre, afirmei que a gestão precisa ter uma visão global no que diz respeito ao Sistema Único de Saúde. Por isso, o que me preocupa é: a dengue está sendo combatida e tratada ou, simplesmente, negligenciada em detrimento do novo coronavírus?

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

(Há opinião de nossos colunistas não representam necessariamente a linha editorial do Agenda Capital)

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