Professores estimulam participação dos alunos em debates e tentam fazer com que eles desenvolvam suas próprias opiniões

Por Deutsche Well

O professor de história Karl Birkner recebe em sua sala de aula os alunos do nono e último ano do ensino fundamental na escola comunitária Lina Morgenstern, em Berlim.

O tema do dia é “Tomada e Transferência de Poder”, da série de aulas intitulada “Democracia e Ditadura”, que trata, especificamente, do ano de 1933 e do início da era nazista na Alemanha.

“Qual é a diferença entre tomada e transferência de poder?”, pergunta Birkner. Várias mãos se erguem, todos terão a sua vez de responder. “Tomada é quando se conquista o poder à força”, responde um aluno. “Transferência é quando as pessoas elegem um líder”, diz outro. “É simples”, grita um terceiro aluno no fundo da sala: “esquerda, ditadura; direita, democracia”. Muitos na sala de aula concordam com essa observação.

“O objetivo deve ser ir muito além dos acontecimentos históricos. Não basta aprender o que ocorreu durante o período nazista, mas deve-se também compreender as questões sociais da época, assim como o âmbito das ações individuais. Os alunos devem ser motivados a participar de debates sobre controvérsias políticas e históricas e desenvolver sua conscientização sobre os temas atuais”, afirma Birthe Pater.

Ela é diretora do departamento de educação da Arolsen Archives, uma instituição que possui os arquivos mais abrangentes sobre vítimas e sobreviventes do nazismo, reunindo informações sobre 17,5 milhões de pessoas.

A missão da entidade é ajudar as vítimas da perseguição nazista e suas famílias a esclarecerem o destino dessas pessoas através de pesquisas. A organização também oferece programas educacionais e colabora com instituições de ensino em várias partes da Alemanha.

Métodos participativos de ensino

Karl Birkner utiza um método chamado Engelchen-Teufelchen (“Anjinho-diabinho”). “Essa metodologia permite que os participantes desenvolvam opiniões bem fundamentadas, o que é uma competência essencial no amadurecimento. Os alunos devem aprender a formar opiniões e chegar a conclusões sensatas com base em fatos históricos ou políticos”, explica o professor.

Birkner divide os alunos em seis grupos. Cada pessoa recebe um broche de pano com a imagem de um anjo ou de um diabo. Os “diabinhos” são encarregados de reunirem argumentos a favor da tomada de poder, enquanto os anjinhos devem defender a posição contrária.

Após um período de 15 minutos, os grupos apresentam seus argumentos aos “humanos” – o terceiro papel da atividade. São eles que decidem qual dos dois lados apresentou os argumentos mais convincentes.

Os alunos leem atentos as suas explicações, que resumem os argumentos de cada grupo. Eles podem perguntar ao professor ou procurar em seus smartphones os termos desconhecidos. Birkner explica o significado de siglas como “SS” ou “SA”, escritas no quadro.

O que sabem os alunos sobre o Holocausto

O aprendizado sobre o Holocausto – o massacre de judeus e membros de outras minorias durante a Segunda Guerra Mundial – é obrigatório em todas as escolas alemãs. Mas, como os 16 estados federativos alemães têm autonomia sobre os currículos escolares, a extensão do ensino desse período da história varia entre as regiões.

“Sem as aulas de história, eu não teria como saber nada do que se passou naquela época. Meus pais também não sabem muito sobre esse tema”, diz um dos alunos de Birkner, após a aula.

“Do passado vem o nosso futuro, a história influencia o nosso presente”, diz um colega de sala. “Minha mãe me manda links de documentários recomendados por um amigo professor”, acrescenta outro aluno.

Birkner observa que o nível de conhecimento sobre eventos históricos varia bastante. “A maioria sabe sobre Adolf Hitler e conhece o termo nacional-socialismo. Alguns também sabem sobre o Holocausto, mas esse conhecimento é seletivo e contém muitas áreas em branco”, afirma o professor.

Origem migratória e conhecimento histórico

Ele diz que o fato de um aluno ter origem migratória não necessariamente influencia seu conhecimento histórico. A escola em que leciona está localizada no bairro berlinense de Kreuzberg, bastante diversificado, e é frequentada por alunos de origens diferentes.

“Temos muitos estudantes que mudaram recentemente para a Alemanha ou que nasceram aqui de pais que vieram de outros países. Temos crianças que vêm de famílias que vivem em boas condições e outras que precisam de apoio financeiro do Estado. É muito diversificado”, explica o professor.

“A meu ver, a questão não é tanto o país de origem da criança, mas sim, as tendências às quais elas estão expostas em casa. Se conversa sobre política e história? E caso isso ocorra, de que maneira se desenrola? As crianças são encorajadas a se desenvolverem quando estão fora da escola? Esse é o ponto crucial. A influência da migração e dos fatores socioeconômicos é bem menor.”

Birthe Pater, da Arolsen Archives, tem opinião semelhante. “Pela minha experiência, não posso confirmar a presunção de que crianças de famílias de origem migratória sejam menos interessadas ou tenham menos conhecimento.”

“Isso porque, com frequência, quando perguntamos aos jovens de que maneira tiveram o primeiro contato com o tema do nazismo, eles geralmente mencionam a escola ou filmes O país de origem deles tem importância menor” completou.

Necessidade de mais aulas de história

Birkner se queixa que um dos grandes desafios é o tempo limitado para tratar de temas tão complexos. “Sinto um pouco dor de estômago toda vez que tento esmiuçar o material da maneira mais adequada possível, ao mesmo tempo, sem ser superficial. Na minha opinião, devemos ensinar mais história, política e ciências sociais”.

Pater concorda com essa afirmação. “Temos espaço para lidar com esses temas no currículo escolar e estamos bem mais adiantados do que outras sociedades nesse quesito.”

“Mas, podemos argumentar que aprender sobre o tema somente no nono ano do ensino fundamental é muito tardio. Isso também depende do tipo de educação que os estudantes recebem. Em algumas escolas, o tema é tratado somente uma vez”, observou.

“Outra questão é se o tema do nazismo deve ser ensinado somente nas aulas de história ou se pode ser incluído em outras matérias, como alemão”, diz Pater.

Ao final do período de 15 minutos, os resultados do exercício dos anjinhos e diabinhos são apresentados à classe. O professor traça uma linha e separa o quadro em duas metades. De um lado ele escreve “tomada de poder”, e do outro, “transição de poder”. Os votos dos alunos se dividem entre os dois temas.

Depois de tudo o que aprenderam na aula, cada aluno poderá decidir de que maneira vai enxergar os eventos de 1933.

Ao final, o professor anuncia que as aulas serão encerradas mais cedo em razão de uma reunião de professores. A comemoração dos alunos é tanta que quase não se consegue ouvir o sino da escola.

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Com DW – Rayna Breuer

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