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No trabalho, uma pessoa boa é aquela que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os colegas e dificilmente lhes dará as costas

Por Marcelo Miranda*

Pense nas pessoas que você mais admira e também naquelas com quem mais gosta de conviver. É bem provável que você lembrou de quem faz o certo, e faz com que você se sinta bem, e faz com que salte algo de bom em você.

Existe uma famosa frase que circula há tempos e que ilustra muito bem essa questão. Alguns dizem que é de Maya Angelou, outros falam que a autoria é desconhecida. Mas eis:

“As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez sentir”.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” (Carl Jung)

É por isso que eu entendo que, para ser um grande profissional – ou qualquer coisa que seja nessa vida –, a gente precisa, antes de tudo, ser uma boa pessoa. Existem valores e virtudes passíveis de interpretação. Não acho que esse seja o caso da bondade.

O que é ser bom?

O ser humano é capaz de tudo. Por isso, eu considero que ser bom é reconhecer que cada um de nós tem total capacidade de ser um “grande FDP”, mas faz sábias escolhas que vão justamente no oposto desse caminho.

Trazendo para a vida profissional, a pessoa boa é aquela que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os colegas, sabe ouvir, reconhece e supera limitações e que dificilmente vai dar as costas para a equipe, se isolar no próprio mundo, enquanto tudo pega fogo nos arredores.

Sempre gostei muito de filosofia e história e, por isso, trago aqui um dos ensinamentos de Marco Aurélio que, não por acaso, é constantemente lembrado como o “último bom imperador de Roma”.

“Não perca tempo falando sobre como um homem bom seria, vá e seja bom”.

Uma simples frase para falar basicamente sobre a necessidade de nós mesmos sermos autores de nosso comportamento e desenvolvimento de habilidades. Sente raiva do chefe? Sente inveja do colega? Quer brigar com o cliente? Não sabe lidar com feedback?

Como bons profissionais, cabe a nós fazermos escolhas sobre como vamos tratar as pessoas em nossa volta, sobre como vamos nos posicionar diante de inúmeras situações. Muitas vezes, somos tomados pelo ego, por nossas próprias vontades e incômodos e nos esquecemos de que vivemos em sociedade, trabalhamos em equipe.

É por isso que polarizações nos emburrecem. Cada um tentando defender o seu, sem enxergar o que realmente importa para o coletivo. Mais uma vez, pessoas boas não se isolam e, ainda que tenham necessidades particulares, conseguem superá-las em nome do contexto maior.

No mundo corporativo, para saber lidar com as pessoas, seus sentimentos e competências, é fundamental estudar sobre gestão de pessoas. Já comentei aqui que para mim a gestão de pessoas é uma ciência e que esses conhecimentos nos ajudam muito a saber como nos posicionar melhor.

Assumir as responsabilidades

O que hoje chamamos de soft skills, os estoicos – como Marco Aurélio – já traziam em seus ensinamentos como a necessidade da autorresponsabilidade, o pensamento para a resolução de problemas e, claro, a inteligência emocional. Nós somos responsáveis por nossas atitudes e comportamentos.

Ainda que as emoções mais negativas possam surgir em nós, precisamos aprender a lidar com elas para sermos fiéis a propósitos e à consciência de que estamos sempre em coletivo. Quem reconhece isso tem capacidade para se desenvolver como profissional.

Muitas vezes, é a energia, a personalidade e a capacidade de transformação, resiliência e adaptabilidade que levam a melhores caminhos na carreira.

Não estou dizendo para sermos complacentes sem reflexão. Pelo contrário. Para sermos firmes e exigentes, não precisamos ser grossos. Para falarmos o que pensamos, devemos considerar também a realidade do outro. E assim por diante.

O que quero dizer é que, ainda que precisemos nos esforçar muito para sermos profissionais competentes e tecnicamente habilidosos, percebo uma necessidade maior para o desenvolvimento das habilidades interpessoais, bem como as emocionais, a própria identidade e as virtudes.

Não confunda: ser bom não é ser bonzinho

Por favor, não me interpretem mal, quando falo ser bom, não estou falando, de forma nenhuma, de “ser bonzinho”, de falar o que as pessoas querem ouvir, de aliviar, de dizer algo importante somente para não conflitar.

Sempre falo por aqui, “fazer o certo, sempre, e pelas razões certas”.

Fazer o certo significa falar e fazer o que tem de ser falado e feito, sem procrastinação, e não o que se quer ouvir muitas das vezes. Mas existem formas diferentes de falar as coisas, então procure uma que seja realmente contributiva.

Um erro muito comum dos profissionais é tentar agradar a todos, tentar ser querido por todos, e não fazer e não falar o que tem que ser feito.

Algumas vezes, você irá precisar fazer ou falar algo que julgue ser certo naquele momento, mas que não será a ação mais popular. Mas, se for feito de forma contributiva, com o passar do tempo, as pessoas perceberão que você o fez com um propósito maior. Assim, o seguirão como líder, tanto por fazer o certo quanto por tentar fazer da melhor maneira possível.

O contrário é quando as pessoas percebem que você não fez o necessário, somente para ser mais popular e, assim, perderá seus créditos como líder.

Somos adultos, temos a autorresponsabilidade de cuidarmos de nossas próprias vidas. Mas não custa cuidarmos de nossas conexões para que sejamos pessoas que afetem positivamente aquelas que estão em volta, sempre fazendo o certo, não deixando de fazer ou falar o que deve ser feito.

Olhar para dentro não é olhar para o umbigo

Da mesma forma que pessoas boas nos inspiram, o oposto nos afasta. Por isso, pessoas realizadoras e que fazem o bem têm uma facilidade muito maior de construir naturalmente uma rede de contatos. Elas são lembradas, elas mantêm relacionamentos, elas se envolvem com o bem-estar do outro.

Por outro lado, o networking é sempre uma tarefa penosa para quem não é bem lembrado.

Esse é um exercício pessoal que cada um de nós deve fazer de tempos em tempos. Precisamos “olhar para dentro” e entender se estamos sendo bons de verdade, se estamos criando vínculos fortalecidos e se estamos enxergando verdadeiramente o outro.

Para quem se percebe falho nessas questões, a habilidade de lidar com emoções e pessoas e o senso de colaboração são características que podem ser desenvolvidas. Além de cursos, leituras e estudos, nossas atitudes do dia a dia vão revelando o que há de bom em nós.

E um ponto muito importante para isso é escutar verdadeiramente as pessoas para compreendê-las sem bloquear demais com pré-julgamentos.

É o que gosto de dizer: fazer o certo, pelas razões certas, todos os dias. Para mim, esse é o caminho de se tornar uma pessoa boa. Isso é uma questão de iniciativa, de saber puxar a fila. É possível viver de forma mais leve e gostar dessa jornada de aprendizado.

Marcelo Miranda é o CEO da Consolis Tecnyconta na Espanha, filial espanhola do grupo multinacional francês Consolis, É um executivo reconhecido na criação de inovações que levam ao desenvolvimento sustentável. Foi recentemente por 8 anos o CEO da Precon Engenharia. É Engenheiro Civil pela UFMG, com MBA em Stanford e especializações em Harvard, Columbia e Singularity University. 

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