Especialistas dão dicas do que fazer após o desligamento de uma empresa; uma saída é se abrir para o mercado e experimentar novas alternativas

Por Maria Clara Andrade

Relatos de trabalhadores insatisfeitos com o tratamento dado pelos empregadores no processo de demissão têm viralizado nas redes sociais. Muitos deles se queixam da falta de justificativa para o desligamento e da insensibilidade para tratar do assunto. É o caso de Caroline Marci, de 33 anos, que decidiu compartilhar sua história de demissão na rede.

Após três anos como analista Socioeconômico Ambiental em uma fundação instalada em Belo Horizonte, Caroline foi demitida, sem poder dar adeus aos colegas de trabalho ou até mesmo acessar o computador que usava. “Como profissional eu não fiquei tão chateada porque eu sei que é o movimento do mercado de trabalho em si. Mas como pessoa eu fiquei envergonhada, constrangida.”

Caroline Marci teve de viajar até a empresa para ser demitida sem saber de nada e não pode nem se despedir dos colegas Foto: Arquivo pessoal

Esse é um dos sentimentos citados pela psicóloga Ana Paula Nunes, de 33 anos, doutora em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em terapias comportamentais, como mais suscetíveis a surgir após uma demissão. Mas para ela, a melhor forma de lidar com esse trauma é, justamente, não se fechar no seu círculo.

“A pessoa precisa primeiro buscar uma rede de apoio (família, amigos) e aceitar que a demissão é um processo que faz parte quando se está vinculado a uma empresa”, afirma. Ana Paula também sugere que, tendo esse apoio, o trabalhador passe para a próxima fase: partir em busca de novas oportunidades.

“A demissão muitas vezes não caracteriza algo pessoal, ou que a pessoa não é competente para aquele cargo. Simplesmente não houve compatibilidade entre os interesses da empresa e do trabalhador”, considera a psicóloga, que ressalta que a demissão pode servir como um impulsionador para que a pessoa busque um ambiente de trabalho com maior identificação.

A psicóloga Thais Knittel, de 30 anos, que trabalha há oito anos na área de Recursos Humanos em uma empresa, afirma que o empregado fica muito vulnerável após uma demissão, mas esse momento também pode ser aproveitado para refletir. “É um bom momento para entender quais eram os pontos positivos e o que ela agregou na empresa; conversar com colegas para entender quais são suas fortalezas e o que ela pode oferecer para futuros empregos”, diz.

Além disso, Thais ressalta a importância de considerar outros meios e não ficar preso apenas na busca por um emprego com carteira assinada. Será que o melhor não seria migrar para uma carreira acadêmica ou até mesmo empreender? Há outras possibilidades no mercado que podem ser exploradas.

Assim como Ana Paula, Thais acredita que o próximo passo natural é sair em busca de novas oportunidades. Para isso, a psicóloga recomenda justamente o uso do Linkedin, já que é a plataforma de negócios mais usada no mundo. “É muito importante mantê-lo atualizado, com dados da sua carreira, experiências anteriores, falar sobre suas realizações”, acredita. Thais Knittel ressalta a necessidade de colher feedbacks no emprego em que foi demitido, apesar de que isso muitas vezes não é possível, segundo os relatos colhidos na mesma rede social.

Forma ideal de demissão

É fato que ninguém gosta de ser demitido. Mas há formas melhores ou piores de se conduzir uma demissão? As especialistas ouvidas pelo Estadão acreditam que sim. No relato dado pela analista Caroline Marci, sua principal queixa foi de ter precisado viajar para ser demitida. Morando em Mariana, cidade a cerca de 2h20 da capital mineira, Caroline foi chamada para uma reunião presencial na empresa, sem saber que se tratava de sua demissão. Chegando lá, não teve contato nem com o gerente da empresa. Para a profissional, a fundação pecou por não seguir um protocolo de gestão de pessoas que pudesse amenizar o trauma causado pela demissão.

A psicóloga Thais Knittel considera que as demissões devem, sim, ser realizadas de maneira presencial. Mas ela ressalta que cada caso é um caso e, na situação descrita por Caroline, era possível planejar uma videoconferência para evitar o desgaste de uma viagem rumo à demissão. “O melhor é, pelo menos, uma videochamada para você olhar a pessoa, ver nos olhos, e ela entender o que está sendo feito”, considera. Thais também ressalta que o ideal é realizar a demissão ainda no início do dia, para que o trabalhador não fique ainda mais frustrado.

Outro ponto citado pela psicóloga foi a necessidade de haver clareza sobre o motivo da demissão. Para Thais, se essas razões não são claras, é gerada uma ansiedade no trabalhador. “O principal cuidado que o gestor pode ter é fazer um desligamento humanizado. Pensar na pessoa com quem ele está conversando”, diz. “É importante o gestor se preparar, ter uma clareza dos porquês do desligamento, seja por performance ou por políticas da empresa”, acrescenta.

E o que responder na entrevista de um novo emprego?

Para quem é demitido surge ainda uma dúvida: o que responder em uma entrevista de emprego sobre o motivo do seu desligamento? A sinceridade é a melhor saída, consideram as especialistas. “Eu recomendo sempre ser honesto, porque muitas vezes os novos empregadores podem conversar, pedir referências aos antigos. È importante explicar o que foi que aconteceu e dizer o que aprendeu com isso”, aconselha Thais Knittel.

A psicóloga Ana Paula Nunes recomenda que o profissional foque em suas qualidades e habilidades, além de ir para uma nova entrevista com clareza sobre o que aprendeu ou pode melhorar com as vivências do antigo emprego. Além disso, Thais Knittel sugere ainda que a pessoa realmente estude a própria carreira, para que ela tenha domínio sobre o seu currículo e saiba elencar suas realizações profissionais.

Com Estadão 

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